quinta-feira, julho 17, 2014

ONG pede investigação no caso de mãe que guardou placenta em Natal

 http://cidadenewsitau.blogspot.com.br/A Associação Artemis encaminhou uma denúncia à Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República sobre o caso de uma mãe que afirma ter sido vítima de
violência obstétrica durante o parto em um hospital particular de Natal. O fato se tornou público após o médico que realizou o parto, Iaperi Araújo, publicar um relato nas redes sociais com a versão dele afirmando que a mãe o “tratou mal e pediu para comer a placenta” após o procedimento. A Artemis também pediu que a Agência Nacional de Saúde (ANS) e a Secretaria Municipal de Saúde de Natal investiguem o fato.
O parto aconteceu no dia 2 de julho. No dia 6, Iaperi Araújo publicou nas redes sociais uma mensagem falando sobre o atendimento ocorrido. No texto, o médico afirma que a gestante não havia feito os exames pré-natais e alega que houve conflito na relação médico-paciente: “Me tratou mal, gritou comigo (claro que respondi a altura)”, escreve. O médico não informou o nome da paciente.
Na segunda-feira (14), a mãe - sem se identificar - teve a versão dela contada no blog Cientista que virou Mãe, de autoria de Ligia Moreiras Sena, doutora em farmacologia e pesquisadora na área de violência obstétrica. O relato da mulher descreve as atitudes que teriam sido tomadas pelo médico e pela equipe. Sobre ter comido a placenta, ponto polêmico da postagem do médico, a paciente afirmou que levou a placenta para casa, mas não comeu. "Infelizmente não comi minha placenta, ainda, pois ainda não tive coragem para encará-la, pegar nela, senti-la, tão cheia de mim, da minha cria, e das emoções que vivenciamos durante nove meses, e nos últimos momentos do meu bebê dentro de mim", diz o relato.
Ela afirma que o obstetra provocou o rompimento de membranas no exame de toque sem autorização dela e realizou uma episiotomia - corte na região do períneo (área muscular entre a vagina e o ânus) sob a justificativa de facilitar a passagem do bebê na hora do parto. “Meu pai disse que ele cortou com a tesoura e terminou de rasgar com a mão. Há uns dois dias tive coragem de me ver, e descobri uma episiotomia que me rasgou até o ânus”, relatou a mulher.
Ainda no depoimento, ela conta que chegou ao hospital depois de 36 horas de trabalho de parto em busca de assistência obstétrica e afirma que o primeiro contato com o médico não foi positivo. “Quando subi para o atendimento, ouvi um velho grosseiro me gritando: ‘Por que não fez pré-natal?’. Eu respondi: ‘Primeiro, eu fiz pré-natal, mas não trouxe nada comigo, e segundo, o senhor não precisa falar assim comigo, viu?’". Ela afirma que fez todos os exames e que, um dia antes de entrar em trabalho de parto, um ultrassom teria confirmado a saúde e a posição do bebê ideais para o nascimento.
O depoimento trata ainda do impacto que a postagem do médico nas redes sociais teve sobre sua rotina. “Fui chamada de louca, psicopata, disseram que deveriam tirar meu filho de mim (...) agora eu tenho de lidar com inúmeros telefonemas mensagens, pessoas perguntando umas às outras se o absurdo da mulher que teria comido placenta, agredido médico e corrido nua por aí tinha sido eu”.
Procurado pelo G1, o médico Iaperi Araújo disse que tudo o que foi feito durante o parto foi consentido pela paciente. "Ela ficou na posição que quis ficar, só foi feita a episiotomia quando ela consentiu, e o bebê só foi levado quando ela autorizou que a pediatra o fizesse. As agressões partiram da paciente e da família dela, eu não faltei com o respeito em nenhum momento", disse. Iaperi Araújo é obstetra há 43 anos e dá aulas na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) há 41 anos.
O médico reafirmou que vai desistir da obstetrícia depois do caso. Nas postagens que fez nas redes sociais, Iaperi Araújo descreveu o momento em que a mulher teria pedido para comer a placenta. “Lá pediu uma tesoura pra cortar um pedaço e um pouco de coentro pra temperar. Não tinha. Comeu sem o tempero”, escreveu. Ao fim do relato, o médico se diz chocado e alega abandonar a obstetrícia. "Foi a gota d'água na minha história de obstetra. Vou fazer os últimos partos das minhas pacientes grávidas", encerra o médico.
Providências
Diante do que foi relatado pela mulher no blog Cientista que virou mãe, a Associação Artemis, com sede em São Paulo e com atuação na promoção da autonomia feminina, decidiu pedir que o caso seja investigado. A advogada Valeria Sousa, da Artemis, reforça que "diversas legislações técnicas de saúde foram infringidas, colocando a saúde da mãe e do bebê em risco". Segundo ela, a principal infração diz respeito à episiotomia.
“A episiotomia é expressamente não recomendada pela Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), e por um documento técnico da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). O hospital em questão é de convênio, deveria observar essa resolução e a ANS tem obrigação de fiscalizar o descumprimento dela. O objetivo da denúncia é provocar os órgãos competentes para que apurem e fiscalizem as condutas ilegais deste caso”, disse.
Segundo ela, casos como este são comuns, mas nem sempre se tornam públicos porque muitas mães não têm conhecimento da legislação. "O que difere esse caso de outros é que neste caso a mãe tinha conhecimento dos direitos dela no momento do parto", concluiu.
A assessoria de imprensa da Agência Nacional de Saúde confirmou que recebeu a denúncia, mas ressaltou que por se tratar da relação médico/paciente o caso foge da competência da ANS. "A ANS regula as operadoras de plano de sáude", informou. A assessoria da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República não confirmou o recebimento da denúncia até a publicação desta matéria.

Reprodução Cidade News Itaú via G1

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