Esquema do Detran vira escândalo nacional e os presos são liberados

Gildo Bento

Jader Luiz, ex-diretor do Detran em Mossoró, foi preso pela PRF na terça-feira passada

Todos os suspeitos que foram presos na operação “Cangueiros”, realizada pelo Ministério Público Estadual e a Polícia Rodoviária Federal (PRF), foram liberados no sábado passado. Ao todo, 11 pessoas foram presas sob acusação de participar de um esquema de venda de carteiras de habilitação dentro do Departamento Estadual de Trânsito (DETRAN) do Rio Grande do Norte. A investigação agora está na fase de perícia em torno dos objetos apreendidos e no levantamento de novos dados. 

Os 11 investigados tiveram a prisão temporária decretada pela Justiça, cujo prazo inicial era de apenas cinco dias de reclusão, podendo ser solicitado prorrogação por igual período. Como não foi feito novo pedido pelo MP, todos os envolvidos foram soltos no sábado. Entre os presos está o ex-diretor do Detran, Jader Luiz Henrique da Costa, que tem 73 anos e conseguiu cumprir os cinco dias de prisão em casa, devido ao seu estado de saúde. Ele foi exonerado do cargo de diretor logo após a sua prisão. 

A promotora Patrícia Antunes Martins, coordenadora do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO) do Ministério Público Estadual do RN, disse durante a coletiva concedida à imprensa logo após a deflagração da operação Cangueiros, que a investigação continuaria com o objetivo de reunir novas provas em torno do esquema. Admitiu que havia a possibilidade de outras pessoas envolvidas serem descobertas nessa fase. Agora, o MP concentra seus esforços para periciar todo o material que foi apreendido. 

“A investigação aponta para o possível cometimento de irregularidade nas emissões de CNH, em todo o processo normal para que a carteira seja emitida”, explicou a promotora, destacando que é investigada a participação dos servidores, recebendo propina para facilitar o esquema, que contava com a ajuda de autoescolas. 

Estavam presos na sede do Segundo Batalhão de Polícia Militar os policiais Francisco Alysson Soares da Rocha, Reinaldo Luis de Araújo e Laudeilson Neves do Carmo, lotados no setor de perícia do Detran, Flávia Batista de Arruda, dona da autoescola Pitéu e filha de Maria do Socorro Batista de Arruda, apontada como principal articuladora do es-quema. 

Além destes, foram postos em liberdade ainda: Gersoy Almeida Bezerra, da autoescola Piloto; André Leandro de Morais Gomes, das autoescolas Siga e Parada Obrigatória; Manoel Cândido de Paulo Filho, Parada Obrigatória; Maximiliano Robespierre Targino de Sá, Pitéu; e Regivânia Maria dos Santos, Parada Obrigatória. 

ASSUNTO NACIONAL 

O esquema de compra e venda de carteiras de habilitação que acontecia no Detran do Rio Grande do Norte foi tema de reportagem exibida ontem pela Rede Globo de Televisão, através do Fantástico. 

A emissora exibiu imagens feitas durante a investigação do MP e PRF, mostrando como funcionava o esquema. Uma das mais comprometidas nas imagens exibidas é Socorro, apontada como a articuladora. As imagens exibidas pela TV mostram-na cobrando valores e pedindo presentes para agradar ao ex-diretor, Jader Luiz.

Investigação paralela apura emplacamento de carros roubados

Além da investigação que está sendo feita pelo Ministério Público Estadual, em parceria com a Polícia Rodoviária Federal, sobre a venda de carteiras de habilitação, o Detran do RN é alvo de uma outra investigação. A Polícia Civil apura a participação de funcionários do órgão na “legalização” de veículos roubados. Pelo menos quatro carros estão apreendidos em uma delegacia local, todos emplacados para o exercício 2011/2012, roubados. 

A investigação foi divulgada pelo JORNAL DE FATO com exclusividade logo após a deflagração da operação Cangueiros. O delegado da Especializada em Furtos e Roubos (DEFUR) de Mossoró, Luís Fernando Sávio, disse que espera apenas por exames solicitados ao Instituto Técnico-Científico de Polícia (ITEP) para confirmar o esquema. 

Uma perícia preliminar já foi feita nos veículos pelos policiais da Defur, que constataram a adulteração dos quatro veículos, legalizados no Detran. 

O caso que está sendo investigado é conhecido como “Golpe do Salvado”. O “salvar” refere-se ao uso de carros “legais” pelos assaltantes, que roubam um veículo novo e colocam suas informações em um antigo. Para todos os efeitos, aquele carro roubado é outro, bem antigo. O bando altera até o número do chassis, retirando o atual e botando outro (legal). 

Esse é o caso de uma caminhonete tipo S-10 de cor verde que foi apreendida em uma sucata de Mossoró que funcionava como ponto de desmanche. 

O carro havia sido roubado em Alagoas, cuja placa original é NLV – 0933, AL. Suas peças foram transplantadas para outra caminhonete da mesma cor, ano 2002. Esta outra, de placas MYE – 9315, RN, foi comprada em um leilão, feito em Patu. 

Marcelo Galvão, coordenador de registro de veículos do Detran/RN, disse à reportagem que um procedimento interno seria instaurado para apurar as denúncias publicadas pelo DE FATO, que ainda não tinham chegado ao seu conhecimento. O processo de apuração interna deve durar 30 dias.

Fonte: Defato/Cidade News Itaú