quinta-feira, janeiro 19, 2012

Família atribui mortes à ação policial

Dois irmãos gêmeos foram assassinados na madrugada de ontem, na zona leste de Mossoró, e a família apontou policiais como autores do crime. A investigação está no início e a equipe responsável pelo caso evita falar sobre essa hipótese. Uma das testemunhas ouvidas após as mortes confirmou que parentes acusaram policiais, logo após o assassinato. Em entrevista a uma rádio da cidade, o pai dos garotos declarou que eles eram "perseguidos" por policiais por suspeita de cometerem homicídios e assaltos.
Os irmãos Jean e Jeovan Oliveira Almeida, 15 anos, foram pegos de surpresa enquanto dormiam. A dupla morava na rua Dos Lírios, 294, bairro Dom Jaime Câmara (zona leste). Eles estavam dormindo no momento que dois homens armados e encapuzados invadiram sua casa, pela porta dos fundos. Eles arrombaram a porta e arrastaram os irmãos até o quintal, onde aconteceu a execução. Ambos foram mortos com vários tiros à queima-roupa. A maior parte dos tiros foi efetuada na região superior do corpo. Familiares ainda tentaram socorrer os dois em um carro, mas eles não resistiram.
Dois moradores da rua foram ouvidos pela equipe da Delegacia de Plantão da Polícia Civil, logo após o crime. Em um dos depoimentos, uma das testemunhas, que terá o nome preservado pela reportagem, afirma que ouviu familiares dos irmãos gritando que policiais teriam cometido o crime. As duas testemunhas ouvidas confirmam que Jean e Jeovan já tinham tido problemas relacionados a infrações cometidas. Os dois eram citados em investigações de homicídios e tentativas de assaltos pela Delegacia Especializada do Adolescente (DEA), que apura infrações cometidas por menores de 18.
Até ontem à tarde, a hipótese de um crime cometido por policiais era informal. É citado apenas em um dos depoimentos que familiares acusaram, no calor da emoção, policiais. O delegado Francisco Edvan Queiroz, responsável pela Primeira Delegacia de Polícia Civil, afirmou que ainda é cedo para fazer afirmações a esse respeito. Ele pretende começar a colher depoimento dos parentes mais próximos das vítimas ainda esta semana e, caso eles confirmem que suspeitam de algum policial, a investigação tomará rumos diferentes. Por enquanto, a suspeita contra policiais ainda é "informal".
O JORNAL DE FATO esteve ontem à tarde na casa dos irmãos. Os dois foram velados na casa dos avós, que também fica situada na rua Dos Lírios. Ao perceberem a presença da reportagem, familiares trataram logo de mostrar que não queriam falar sobre o assunto. Na porta da casa, uma tia dos garotos disse que não queria falar. Outro parente foi procurado e, à distância, disse "não vamos dar reportagem". O delegado Edvan teme que esse clima de animosidade se estenda até a investigação. "Se não quiserem falar vão prejudicar a investigação. São as testemunhas e podem nos ajudar muito", alerta.

Suspeita contra policiais dificulta investigação
O delegado Edvan Queiroz, mesmo não tratando o caso como uma investigação formal contra policiais, afirma que essa possibilidade complicaria o trabalho de sua equipe. O primeiro motivo é que as testemunhas, geralmente, temem falar sobre crimes cometidos por forças policiais. A outra questão é o conhecimento desses servidores, que sabem como dificultar uma investigação.
Ele classifica o caso como "complicado". O crime foi cometido por dois bandidos armados, encapuzados. A dupla fugiu em uma motocicleta e até ontem não havia nenhuma informação que pudesse levar a identificação dos executores.
"Se for confirmada a suspeita de participação de policiais, a situação complica. Se for policial fica mais difícil porque as testemunhas, ao saberem, se escondem com medo. Ninguém fala nesse tipo de situação. Outro fator que dificulta é que eles podem criar situações para dificultar a investigação, sabem como usar a arma para não deixar pista, etc", explica.
Essa suspeita, atribuída informalmente por familiares, logo após o duplo homicídio, associada ao comportamento dos parentes com a presença da equipe de reportagem corrobora com a hipótese do delegado.
Nesse tipo de situação, explica ele, é comum até mesmo a família das vítimas desistir da investigação. Quando são intimados para prestar depoimento omitem o que sabem, na maioria das vezes por medo.

Fonte: Defato

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