domingo, dezembro 25, 2011

O natal de quem sobrevive sem renda fixa

A paisagem vista da janela da casa de dona Edineide Evarista da Silva não reflete em nada o desenvolvimento estampado em revistas nacionais. Pelo contrário. O amontoado de lixo responsável pela fedentina do lugar e o entrelaçado de fios que levam clandestinamente a energia para os casebres da favela do Tranquilim (zona leste) são a moldura de uma realidade comum a 133 famílias que vivem em Mossoró sem nenhuma renda fixa por mês.
Mãe de três filhos, sendo um com 18 anos, seguido pelo segundo de 13 e o caçula de oito anos de idade, a renda da família é extraída do trabalho do patriarca Francisco da Silva Lima, que se desdobra viajando pelas cidades da vizinhança em busca de uma vaga nas empresas que aplicam calçamento. Para conseguir, em média, R$ 700,00 por mês, ele precisa aplicar mil metros de pedras, o que lhe consume praticamente um trabalho de segunda a segunda.
"E isso é quando tem emprego, porque acontece de não aparecer nada e aí só mesmo o dinheiro que minha esposa recebe", completa ele, referindo-se aos benefícios de transferência de renda do Governo Federal que ajudam a complementar a renda familiar, quando não acaba sendo a única no mês. Para desafogar as despesas, o filho primogênito já não mora mais em casa; hoje está com uns parentes na cidade de Areia Branca.
O segundo e o caçula se criaram na vida à mercê dos serviços públicos, quando esses chegam até a família de seu Francisco e dona Edineide, que dividem com as outras 145 famílias do Tranquilim a esperança da criação de um conjunto habitacional que os resgata daquela situação. Enquanto esse dia não chega, seu Francisco precisa percorrer quase 700 metros para conseguir três galões de água que abastecem as famílias; o trajeto se repete em dias intercalados.
"Já vieram aqui prometendo nos tirar para outra região, mas isso já faz sete anos que escutamos e nunca aconteceu", diz seu Francisco, reclamando ainda do amontoado de lixo e da falta de abastecimento de água. Resta aos pais apostarem na educação dos filhos, que freqüentam uma unidade perto da localidade. No entanto, essa realidade não é comum a todos porque alguns relataram que tiveram de retirar o filho da escola para poder ajudar na renda da família.
Ontem, a noite de Natal não foi muito diferente para essas famílias. "É só mais uma noite", exclamou o patriarca, sem muita esperança de que o ano novo que se anuncia trará grandes mudanças para a família. "Aqui a gente tenta reunir os filhos, come o misturado que tem e depois vai dormir, sem saber direito o que vai ter na panela no outro dia", finaliza ele.

Radiografia da pobreza em Mossoró
Um levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta uma radiografia das condições de famílias que residem em aglomerados subnormais. Nessa subnormalidade estão inclusos os assentamentos irregulares conhecidos como favelas, invasões, grotas, baixadas, comunidades, vilas, ressacas, mocambos, palafitas, entre outros, que somam 46 localidades no Rio Grande do Norte distribuídas apenas entre a capital e Mossoró. Aqui, refletem essa realidade as comunidades da Favela do Fio (zona oeste), Forno Velho (zona sul), Santa Helena (zona norte), Tranquilim (leste) e Wilson Rosado (zona oeste).
As casas são resididas por, em média, 3,7 pessoas, no entanto na Favela do Fio a estatística é bem superior e chega a 4,4 pessoas por cada lar, sendo, inclusive, o maior percentual entre todas as favelas do Estado.
Existem pouco mais de 1.600 residências subnormais em Mossoró. Entre esses domicílios, apenas 76% dispõem de abastecimento de água, enquanto na capital esse índice chega a 96%. Quando o critério é energia elétrica, enquanto 80% do Estado está abastecido, apenas 77% dos moradores em aglomerados subnormais de Mossoró têm energia elétrica instalada.
O pior indicador, no entanto, está no esgotamento sanitário, que só atende 37% dessa população em Mossoró. Um número bastante aquém do nível de Natal, que consegue oferecer o serviço a 55% dos aglomerados.

Fonte: Defato

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