domingo, fevereiro 25, 2024

'Ninguém vai separar nosso povo, nem mesmo você, Lula', diz ministro de Israel

Lula durante entrevista coletiva no domingo (17) em Adis Abeba, na Etiópia. Fala que comparou a morte de palestinos ao Holocausto foi repudiada pelo governo de Israel — Foto: Ricardo Stuckert/PR

O ministro das Relações Exteriores de Israel, Israel Katz, voltou a citar o presidente Lula (PT) após a comparação feita pelo brasileiro entre a ofensiva israelense em Gaza e o Holocausto —o extermínio de judeus na Segunda Guerra Mundial.


Em postagem na rede social X (ex-Twitter), ele escreveu: "Ninguém vai separar nosso povo —nem mesmo você, Lula"

A imagem mostra homens e mulheres abraçadas, as bandeiras do Brasil e de Israel e duas pessoas vestidas com camisas amarelas, como as da seleção brasileira de futebol.


Katz foi quem declarou Lula "persona non grata" na última segunda-feira. Depois disso, tem feito várias postagens críticas direcionadas ao presidente do Brasil, como:


Publicado um vídeo ao lado de uma brasileira cujo namorado foi assassinado pelo Hamas

Chamado a comparação feita por Lula de "promíscua" e "delirante"

Levado o embaixador brasileiro em Tel Aviv, Frederico Meyer, ao Museu do Holocausto para manifestar, em hebraico, sua insatisfação com o presidente do Brasil.

O termo "persona non grata" (alguém que não é bem-vindo, em tradução livre) é um instrumento jurídico utilizado nas relações internacionais para indicar que um representante oficial estrangeiro não é mais bem-vindo. O termo foi descrito no artigo 9 da Convenção de Viena sobre relações diplomáticas.


Declaração

No último final de semana, Lula classificou como "genocídio" e "chacina" a resposta de Israel na Faixa de Gaza aos ataques terroristas promovidos pelo Hamas no início de outubro. Ele comparou a ação israelense ao extermínio de milhões de judeus pelos nazistas chefiados por Adolf Hitler no século passado.


"O que está acontecendo na Faixa de Gaza e com o povo palestino não existe em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu: quando o Hitler resolveu matar os judeus", disse Lula.


Mais de 28 mil pessoas já morreram no conflito entre Israel e Hamas, que começou no início de outubro de 2023, após o grupo terrorista ter invadido o território israelense.


O petista fez a afirmação após ser questionado sobre a decisão de alguns países de suspender repasses financeiros à Agência da ONU para os Refugiados Palestinos (UNRWA, na sigla em inglês) — entenda mais abaixo o que está acontecendo com a agência.


Lula deu as declarações durante entrevista em Adis Abeba, na Etiópia, onde participou nos últimos dias da 37ª Cúpula da União Africana e de reuniões bilaterais com chefes de Estado do continente.


Reação exagerada

O governo brasileiro avalia que Katz está exagerando na reação.


No início da semana, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, afirmou que a postura israelense após as declarações do presidente Lula é uma "vergonhosa página da diplomacia de Israel". Em declarações divulgadas pelo Itamaraty, dadas a duas agências de notícias internacionais (Reuters e Bloomberg), Mauro Vieira repudiou as falas das autoridades israelenses.


"Uma chancelaria dirigir-se dessa forma a um chefe de Estado, de um país amigo, o presidente Lula, é algo insólito e revoltante. Uma chancelaria recorrer sistematicamente à distorção de declarações e a mentiras é ofensivo e grave. É uma vergonhosa página da história da diplomacia de Israel, com recurso à linguagem chula e irresponsável", afirmou Vieira.


Um diplomata que pediu para não ser identificado afirmou que o tom do chanceler israelense é de "briga de bar". Segundo o blog da Daniela Lima, as mensagens de Katz mostram desespero. "Eles esperavam notas e notas de repúdio à fala do Lula. Não tiveram. O que houve foi um porta-voz dos Estados Unidos, questionado numa coletiva, dizer que discorda do Brasil. Em diplomacia isso é igual a nada", afirmou formulador da política externa de Lula.


De acordo com o blog da Andréia Sadi, o governo brasileiro avalia expulsão de embaixador de Israel após atrito diplomático. Fontes do Itamaraty disseram que o movimento não é desejável, mas que pode ocorrer se houver escalada por parte dos israelenses.


O que está acontecendo com a UNRWA?


Alguns funcionários da Agência das Nações Unidas de assistência aos palestinos (UNRWA) foram acusados no final de janeiro de estarem envolvidos no ataque do Hamas, em Israel, em 7 de outubro de 2023. O porta-voz do governo israelense, Eylon Levy, afirmou que o lugar é uma fachada para o grupo terrorista.


"A agência foi comprometida de três maneiras: contratando terroristas em massa, deixando suas instalações serem usadas para atividades militares do Hamas e se apoiando no Hamas para a distribuição da ajuda na Faixa de Gaza", afirmou.

À época, a agência afirmou que os funcionários foram demitidos enquanto uma investigação é feita. Segundo o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, um relatório preliminar da equipe de auditoria será apresentando até o final de março, com entrega de um relatório definitivo até o final de abril, que será público.


Após a acusação, dez dos principais países financiadores da agência suspenderam temporariamente suas doações à entidade: Alemanha, EUA, Austrália, Japão, Itália, Holanda, Canadá, Finlândia, Suíça e Reino Unido.


Um porta-voz da agência também disse que se o financiamento não for retomado, a UNRWA conseguirá prestar seus serviços em toda a região, incluindo Gaza, até fevereiro.


A UNRWA, criada em 1949 após a primeira guerra árabe-israelense, oferece serviços que incluem educação, cuidados primários de saúde e ajuda humanitária aos palestinos em Gaza, Cisjordânia, Jordânia, Síria e Líbano.


Fonte: g1

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