quinta-feira, março 09, 2023

PF apreende bens em operação contra lavagem de dinheiro que investiga governador do Acre, Gladson Cameli

Policiais federais começaram a cumprir nesta quinta-feira (9) 89 mandados de busca e apreensão em seis estados e no Distrito Federal em uma operação contra corrupção e lavagem de dinheiro na cúpula do governo do Acre.


Governador do Acre, Gladson Cameli, em imagem de janeiro — Foto: Diego Gurgel/Secom


A ação é uma nova fase da operação Ptolomeu, iniciada em 2021 e que investiga, entre outros, o governador do Acre, Gladson Cameli (PP) (veja detalhes abaixo). Os mandados foram autorizados pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).


A operação, intitulada "Ptolomeu III", foi deflagrada a partir de investigações da Polícia Federal, da Procuradoria-Geral da República, da Receita Federal e da Controladoria-Geral da União. Os nomes dos alvos não foram divulgados.



A TV Globo apurou que Cameli não é alvo direto das buscas desta quinta, mas é alvo da operação e foi submetido a outras sanções definidas pelo STJ:


não poderá fazer contato com outros alvos da investigação;

não poderá deixar o país;

terá de entregar o passaporte à Justiça em até 24 horas.

O pai de Gladson, Eladio Cameli, e um irmão do governador, Gledson Cameli, também são investigados na operação.


O STJ determinou o bloqueio de R$ 120 milhões em bens dos investigados, incluindo valores em contas bancárias, aeronaves, casas e apartamentos de luxo. Segundo a PF, o cumprimento dos mandados envolve mais de 300 policiais federais nesta quinta.


Os mandados são cumpridos no Acre, no Amazonas, em Goiás, no Piauí, no Paraná, em Rondônia e no Distrito Federal. No Acre, equipes da PF fizeram buscas em gabinetes da Casa Civil e da Secretaria de Fazenda do estado.


O governo do Acre afirmou em nota que a operação desta quinta é uma "continuidade dos procedimentos policiais anteriores" e que o "governo do Estado, sempre atuando com transparência e retidão, mais uma vez se coloca à disposição das autoridades".


Também em nota, os advogados Ticiano Figueiredo, Pedro Ivo Velloso, Tarcísio Vieira de Carvalho Neto e Telson Ferreira disseram ver com "surpresa" a terceira fase do inquérito iniciado há dois anos.



"Trata-se de uma investigação baseada em uma pescaria probatória e uma devassa financeira ilegal, que atacou a família do governador como forma de driblar o foro adequado", diz a equipe que atua na defesa de Cameli.


"Desde então, o governador já prestou os devidos esclarecimentos, colocou-se à disposição das autoridades e assim permanece. O governador confia na Justiça e irá cumprir todas as medidas. E respeitosamente irá recorrer das cautelares, o que inclui a descabida ordem para não falar com o próprio pai e irmãos."


Servidor da CGU e policiais federais fazem busca em apartamento como parte da operação Ptolomeu III — Foto: Polícia Federal/Reprodução


Ressarcimento aos cofres públicos

Nesta nova fase, segundo o material divulgado, o objetivo é bloquear bens para, no futuro, ressarcir os cofres públicos.



Além do bloqueio dos itens de luxo, a decisão do STJ prevê:


31 afastamentos de cargo ou função pública;

57 proibições de contato com investigados e acesso a órgãos públicos;

57 entregas de passaporte;

70 quebras de sigilo bancário e fiscal;

15 empresas com atividades econômicas suspensas.

A PF e a PGR não divulgaram quem são os alvos de cada uma dessas medidas. A operação tramita em sigilo no STJ.


Suposto esquema milionário

De acordo com material divulgado pela CGU, a operação tenta desarticular uma "organização criminosa especializada em fraudar contratações públicas". Há suspeita de que recursos da saúde, da educação e do BNDES para obras de infraestrutura e serviços de manutenção tenham sido desviados.



A CGU e a PF identificaram "superfaturamento e inexecução contratual em pelo menos quatro contratos com empresas da área de construção civil".


Essas empresas receberam, desde 2019, mais de R$ 268,6 milhões em recursos públicos.​​​​ As evidências apontam uma série de condutas irregulares, incluindo:


uso de sócios ocultos para disfarçar a conexão das empresas com servidores públicos envolvidos nas contratações;

movimentações de altos valores em espécie (dinheiro vivo);

operação de "smurfing" – divisão das quantias em uma série de transações menores em contas correntes para não chamar a atenção dos órgãos de controle.

Operação anterior

Em dezembro de 2021, Cameli já tinha sido alvo da primeira fase da operação. O político se elegeu governador do Acre em 2018 e foi reeleito para um segundo mandato no ano passado.


Naquele mês, a PF já tinha apreendido mais de R$ 3 milhões em veículos, relógios, joias, celulares e dinheiro vivo (euro, dólar e real). O apartamento de Cameli também foi alvo de buscas.


Também em 2021, Gladson Cameli afirmou que tinha a consciência "tranquila" e que a polícia estava cumprindo seu papel de apurar denúncias.


"Quem não deve, não teme. Não devo, não temo e quero que fique até o final, se tiver coisa errada vai para a rua [o servidor] e tem que prestar contas à sociedade, porque é dinheiro público", disse à época.


Fonte: g1

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