quinta-feira, setembro 22, 2022

Especialistas em educação criticam desempenho do Estado no Ideb

Com o resultado ruim do Rio Grande do Norte no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), especialistas ouvidos pela TRIBUNA DO NORTE criticaram os resultados do Estado e apontam que uma melhora da educação potiguar passa pelo fortalecimento da educação básica, coordenação de políticas públicas por parte das esferas estadual e federal de governo e repactuação de metas do Plano Nacional de Educação. Conforme noticiou a TN, com uma nota de 2,8, o Rio Grande do Norte aparece em último lugar no ranking do Ideb que mede a qualidade do ensino médio, entre todas as unidades federativas do País.


RN teve o Ensino Médio mais mal avaliado do Ideb neste ano, com uma nota 2,8


Ativista da área, a ex-presidente da Comissão de Educação da Câmara Municipal de Natal e ex-secretária de Educação da capital, Eleika Bezerra, diz que a justificativa para o péssimo desempenho do Estado “não é plausível” e defende o fortalecimento da educação básica. “Não é plausível porque isso já vem de muito tempo. Há muito tempo que figurávamos entre o terceiro e o segundo pior ensino médio do País. A diferença agora é que a gente é o pior, então esse resultado não surpreende. A situação é preocupante e precisamos reverter esse cenário logo. Se fala muito em ensino superior, que é muito importante, não estou dizendo que não é, mas é preciso focar na base. O próprio nome já diz: ensino básico”, destaca a educadora.


Eleika Bezerra: “esse resultado não surpreende”


O especialista em gestão escolar e coordenação pedagógica, Gustavo Fernandes, faz uma ressalva em relação aos dados e diz que é precisa fazer uma análise mais aprofundada de cada município, mas reforça que a falta de padronização de políticas públicas para a educação contribuiu para o cenário revelado pelo Ideb. “Não existiu uma política pública padronizada, ficou a cargo de cada Município e Estado adotar sua política pública e isso reflete agora nessa heterogeneidade, que a gente vê nos índices do Ideb. Faltou um direcionamento do Governo Federal e do Governo do Estado também”, reflete.


A falta de coordenação foi sentida também por Emerson Medeiros, vice-diretor da Escola Estadual de Tempo Integral Winston Churchill, localizada na zona Leste de Natal, ele conta que a iniciativa de gestores e professores foi determinante para amenizar perdas. “Nós tivemos um bom desempenho aqui por iniciativa do ‘chão da escola’, como a gente chama aqui. A gestão e a comunidade tiveram esse papel. Infelizmente não teve aquele amparo. Os professores usaram os materiais deles, notebooks, celulares, não teve um incentivo financeiro”, relata.


Emerson Medeiros: “Infelizmente, não teve amparo”


Sobre o mau desempenho registrado no último Ideb, o secretário estadual de Educação, Getúlio Marques, afirmou que os dados apresentados representam uma distorção do cenário real. Marques detalha que somente 13 das 300 escolas da rede foram avaliadas (4,3%) por falta de quórum de alunos, uma vez que o critério para a inclusão da unidade na pesquisa era a presença mínima de 80% dos estudantes. De acordo com o titular da pasta, em novembro de 2021, quando as avaliações foram feitas, o ritmo de retorno ainda era lento devido a alta evasão escolar.


Além disso, o secretário coloca na conta uma portaria do Ministério da Educação que autorizou a aprovação automática, medida que foi aplicada em 2020, mas não em 2021. Para Getúlio, o sistema de progressão automática promovida por outros estados fez com que os índices fossem jogados para cima. “Alguém que tirou a nota igual ao Rio Grande do Norte e colocou o 100% (de aprovação), vai ter índice melhor. Nós só aprovamos alunos que tinham condições de serem aprovados”, ressaltou o secretário.


A coordenadora do Fórum Estadual de Educação do Rio Grande do Norte, Rute Régis, alega também que a atualização do Plano Estadual de Educação (PEE) é essencial para melhoria do ensino no Estado. “Venho chamando a atenção para isso há muito tempo para que se tenha uma repactuação do PEE ou dos planos municipais de educação, com a sociedade, Assembleia Legislativa, câmaras municipais, principalmente porque nós tivemos dois anos de pandemia. Tínhamos metas a cumprir no Plano Estadual e a pandemia influenciou de forma negativa”, comenta.


Régis, que também é professora do Centro de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), alerta para a necessidade de políticas públicas para reverter a evasão escolar, que alcançou o índice de 14,4% em 2021 no RN. “É preciso retomar, trazer de volta esse estudante para a sala de aula, fazer uma busca ativa dos estudantes e tentar melhorar formas de ensinar, as formas de aprender a partir da formação continuada de professores”, complementa.


Evasão escolar preocupa


O secretário de Educação do Estado, Getúlio Marques, diz que tem encontrado dificuldades para fazer com que o aluno retorne às unidades. Ele destaca que a pasta tem concentrado esforços na estratégia de Busca Ativa, programa do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) para identificar e localizar alunos que deixaram de frequentar as escolas no período da pandemia.


“Encontra o aluno, mas não está conseguindo trazê-lo de volta, traz apenas uma parte deles. Os alunos deixam de ir para a escola, por condições de saúde, vulnerabilidade econômica, então entram nesse trabalho os municípios e as ações são nas áreas da saúde, educação e assistência social”, explica.


Mas o Governo também aponta outras estratégias. Uma delas é fortalecer a assistência estudantil através de um projeto junto à Secretaria da Juventude, mas que só deve ser efetivado em 2023. “Consiste em uma bolsa para os alunos, numa ajuda de custo para o aluno em situação de vulnerabilidade poder chegar à escola. Outra coisa que a gente está fazendo muito importante é adotar um sistema que nós estamos trabalhando com o IFRN e com a Secretaria Estadual do Piauí para a gente ter a informação online e imediata sobre a ausência do aluno”, revelou Getúlio Marques.


Nesse sistema, ele diz que a falta será investigada no mesmo dia e também será possível saber o tamanho exato do abandono escolar. “Se o aluno não chegar hoje na escola, soa o alerta e alguém já deverá procurar saber o que aconteceu com esse aluno que o fez faltar a aula”, disse o secretário de educação.


Fonte: Tribuna do Norte

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