segunda-feira, março 07, 2022

Com receio de sanções, russos lotam o único trem que ainda liga seu país à União Europeia

É uma das poucas rotas restantes da Rússia para a UE: os trens para a Finlândia estão lotados de russos temerosos de que agora seja sua última chance de escapar do impacto das sanções ocidentais.


Passageiros desembarcam do trem Allegro, em Helsinque, oriundo de São Petersburgo — Foto: AFP/Alessandro Rampazzo


Após dois anos de pandemia, o trem que saiu às 6h40 de São Petersburgo estava lotado de passageiros -- em grande parte russos -- quando chegou à estação de Helsinque na última quinta-feira.


"Decidimos com nossas famílias voltar o mais rápido possível, porque não está claro qual será a situação em uma semana", disse a moscovita Polina Poliakova à agência AFP enquanto empurrava sua mala pela plataforma 9.



Viajar "está difícil agora porque tudo está sendo cancelado", acrescentou Beata Iukhtanova, sua amiga que estuda com ela em Paris, para onde a dupla estava indo.


O trem expresso Allegro que liga São Petersburgo à capital finlandesa é atualmente a única rota ferroviária aberta entre a Rússia e a União Europeia.

É, portanto, uma das poucas saídas restantes do país desde o fechamento generalizado do espaço aéreo em resposta à invasão da Ucrânia pela Rússia há uma semana.



"Os trens vindos de São Petersburgo para Helsinque estão cheios nos próximos dias", disse Topi Simola, vice-presidente sênior da operadora ferroviária finlandesa VR.


Ele disse que o número de passageiros aumentou no sábado retrasado, dois dias depois que Moscou começou seu ataque à Ucrânia.


Desde então, os motivos das pessoas para viajar no serviço de 3,5 horas, duas vezes ao dia, parecem ter mudado, disse Simola.


"Podemos ver pela bagagem que eles carregam coisas de pessoas que estão se mudando para outro lugar, basicamente estão se mudando para sempre", observa.


'Somos sortudos'

O trem Allegro para Helsinque, no entanto, está aberto apenas a alguns poucos selecionados.


A Rússia estipula que os passageiros devem ser cidadãos russos ou finlandeses, e é necessário um visto. Além disso, os passageiros devem provar que têm uma vacina contra Covid reconhecida pela UE, não a Sputnik, que é a mais comumente administrada na Rússia.


A maioria dos passageiros são, portanto, russos que vivem ou trabalham na Europa, como Maria, de 14 anos, e sua mãe Svetlana, que pegaram um trem de última hora para a Finlândia após o cancelamento de seu voo no domingo de volta à Áustria, onde moram.


"Todo mundo ficou tipo 'não sei o que fazer'", disse Maria à AFP. "Primeiro pensamos que deveríamos viajar pela Turquia, mas é muito mais caro que a Finlândia, então tivemos sorte."


A VR, que opera o serviço em parceria com as ferrovias russas, pretende abrir o serviço para portadores de passaporte da UE e aumentar a capacidade de passageiros.


"Sabemos que há dezenas de milhares de cidadãos da UE ainda na Rússia e assumimos que muitos deles gostariam de voltar para casa", disse Simola.


'Desesperado' para sair

Desde o início da invasão, um grande número de russos está procurando deixar o país, preocupado com o fechamento iminente das fronteiras e com o impacto das sanções ocidentais.

"Muitas pessoas estão em pânico", disse Daria, voltando a Helsinque uma ou duas semanas antes do planejado, para retomar seus estudos.


"Conheço algumas pessoas que estão desesperadas no momento para ir para o exterior", disse Elena, uma russa que vive e trabalha na Finlândia e que não quis usar seu nome completo.


Elena estava visitando sua cidade natal, Moscou, quando o ataque à Ucrânia começou na quinta-feira passada, e mudou seu voo para retornar à Finlândia no mesmo dia, tornando-se uma das últimas a viajar antes que os voos para a UE fossem congelados.


Muitas pessoas "não se sentem seguras, sabem que a situação econômica será muito difícil a partir de agora, e também muitas pessoas do ponto de vista moral não suportam ficar", disse a mulher de 37 anos à AFP.


Enquanto os trens que saem da Rússia estão esgotados, o serviço de retorno de Helsinque a São Petersburgo tem lotação de apenas 30%, disse Simola à AFP.


"Não estou planejando voltar para a Rússia tão cedo, com certeza", disse Elena. Mas ela acrescentou que, apesar das dificuldades lá, "é impossível compará-las aos horrores que estão acontecendo na Ucrânia no momento".


Fonte: France Presse

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