domingo, julho 11, 2021

RN decide manter intervalo de 12 semanas entre doses da vacina AstraZeneca, diz Sesap

O Rio Grande do Norte vai manter o intervalo de 12 semanas entre a aplicação da primeira e da segunda dose da vacina AstraZeneca. A informação foi confirmada pela Secretaria de Estado da Saúde Pública do RN (Sesap) nesta sexta-feira (9).


Nesta semana, alguns estados brasileiros decidiram encurtar o período na tentativa de ampliar a proteção da população contra a variante delta do coronavírus, que foi descoberta na Índia.


Isso porque estudo nesta semana apontou que apenas as duas doses do imunizante protegem contra a variante delta. Na quarta, São Paulo confirmou que a variante já circula no estado.


Em nota, a Sesap disse que "manterá a recomendação do Ministério da Saúde e não diminuirá o intervalo de 12 semanas entre a aplicação da primeira e da segunda dose das vacinas de Oxford e Pfizer".

Em resumo, o que está em jogo:


Ministério da Saúde escolheu o maior prazo previsto em bula para aumentar o total de pessoas vacinadas com ao menos 1 dose, já que a AstraZeneca oferece proteção parcial de 76% já 21 dias após a primeira aplicação;

Estados encurtam o prazo para aumentar a proteção contra a variante delta mesmo sem orientação do governo federal: estudos apontam que somente a vacinação completa protege contra a variante delta;

O ministério chegou a estudar a redução do prazo, mas a reunião da Câmara Técnica manteve as 12 semanas;

Já divulgaram a redução do intervalo cidades dos seguintes estados: Pernambuco, Acre, Santa Catarina, Tocantins, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul e Piauí.

Houve ainda mudanças pontuais para grupos ou faixas etárias: Ceará, Alagoas e Sergipe. O estado de São Paulo também manifestou a intenção de encurtar o prazo, mas disse ainda depender de aval da Anvisa.

A bula da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), responsável pela produção e importação da tecnologia da AstraZeneca, diz que "a segunda injeção pode ser administrada entre 4 e 12 semanas após a primeira".


A AstraZeneca reafirmou em nota ao G1 que "os estudos realizados até o momento demonstram que a vacina é eficaz na prevenção da Covid-19 sintomática quando aplicada neste intervalo de tempo", de 4 a 12 semanas. A farmacêutica disse, ainda, que a vacinação com a segunda dose após 60 dias "foi avaliada em estudos clínicos – e, por isso, está aprovada".


Já o Ministério da Saúde informou que "acompanha a evolução das diferentes variantes do Sars CoV-2 no território nacional e está atento à possibilidade de alterações no intervalo recomendado". A pasta também disse que "o tema foi, inclusive, discutido amplamente na Câmara Técnica Assessora em Imunizações, em reunião realizada no dia 2 de julho deste ano, sendo que o parecer (...) foi a de manutenção deste intervalo".


Apenas redução não é suficiente, diz especialista

A professora da UFRN, Janeusa Trindade de Souto, que é doutora em imunologia básica e aplicada e faz parte do comitê científico do Rio Grande do Norte, alerta que apenas reduzir o intervalo entre as aplicações da vacina pode não ser suficiente para conter a variante delta do coronavírus.


Ela diz que a discussão é pertinente, já que o Reino Unido percebeu um nível de contaminação de pessoas exatamente no período entre as duas doses, mas que esse debate tem que estar aliado ao debate sobre a flexibilização pelo qual o país passa atualmente, após alguns índices caírem.


"Eu acho que é pertinente que aqui no Brasil se tenha essa discussão. Mas com uma ressalva: de que não adianta fazer redução de dose fazendo liberação de atividades sociais, como isso já está sendo programado", disse.


Variante delta é tida com mais poder de contágio — Foto: Jose Fernando Ogura/AEN


"Com uma variante nova entrando, as medidas de restrição tem que ser revistas, no meu ponto de vista. As medidas tem que ser concatenadas".


Janeusa indica que é fundamental que a reabertura não seja de maneira precoce. Atualmente o Rio Grande do Norte tem aproximadamente cerca de 13% de pessoas vacinadas com as duas doses, um número considerado abaixo do ideal.


"Isso é muito pouco no universo que a gente precisa. Uma dose não protege, já está muito claro e principalmente pra variante nova. A gente não sabe como é que essa delta vai se comportar. Mas a gente está vendo que em muitos países ela está avançando".


Ela aponta que a variante delta já é predominante nos novos casos em alguns países, como o Reino Unido, Estados Unidos e França, em que a vacinação está em um nível mais avançado do que no Brasil. "Países com vacinação bastante avançada e começaram essa liberação (das atividades) com a delta entrando. Ela entrou e isso aí é um exemplo bastante importante para o Brasil".


"Esse momento é muito importante para o Brasil como um todo, não só o Rio Grande do Norte. É uma variante nova chegando, com um potencial de transmissibilidade muito alto. Não é só vacina que segura a disseminação de um vírus como esse. A gente está vendo um modelo aí no mundo. Então, que Brasil olhe para isso e tome os devidos cuidados. A vacinação associada às medidas de restrição".


Avanço da variante delta

Até o momento, a variante gama é a dominante no país, mas, no último mês, foram confirmados casos da delta inclusive na cidade de São Paulo. Enquanto isso, menos de 14% da população brasileira recebeu as duas doses contra a Covid-19.


A baixa taxa de adesão à segunda aplicação é um risco para o combate a todas as versões do vírus, já que garante um índice maior de proteção contra a versão grave da doença. A necessidade do ciclo completo da vacinação se torna ainda maior quando a delta chega ao Brasil: estudos indicam que apenas com a aplicação do reforço é possível barrar a nova variante.


Proteção só com duas doses

Nesta quinta-feira (8), a revista científica "Nature" apresentou um estudo assinado por cientistas do Instituto Pasteur e do Centro Nacional de Pesquisa Científica da França (CNRS, na sigla em francês). Os resultados mostram que a delta é parcialmente resistente a alguns tipos de anticorpos, mas que duas doses da vacina da Pfizer ou da AstraZeneca/Oxford são capazes de neutralizá-la.


Ao G1, a AstraZeneca apontou outra pesquisa feita pelo governo do Reino Unido que demonstra a eficácia da vacina. O documento sobre o artigo publicado pela farmacêutica diz que "duas doses da vacina COVID-19 AstraZeneca são 92% eficazes contra a hospitalização devido à variante delta e não mostraram mortes entre os vacinados", dados divulgados com base no estudo.


Fonte: G1

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