domingo, junho 20, 2021

Nos 900 dias do governo, Casa Civil fala em ações contra Covid, mas omite atraso da vacinação



A Casa Civil da Presidência da República divulgou neste sábado (19) uma nota sobre os 900 dias do governo do presidente Jair Bolsonaro. O texto destaca medidas de combate à pandemia e outras ações do governo federal.


O documento faz uma análise positiva da atuação do governo federal, com destaque para o enfrentamento da pandemia de Covid. O título da nota é "900 dias: nos trilhos na preservação de vidas e da retomada da economia".


Parlamentares e especialistas criticaram o conteúdo da nota (leia ao final desta reportagem). Neste sábado, o país ultrapassou a marca de 500 mil mortes por Covid.


No texto, o governo afirma que "mais de 110 milhões de doses de vacinas contra a doença já foram enviadas a todos os estados brasileiros, o que coloca o país em quarto lugar no ranking mundial de países que mais aplicam vacinas contra a Covid-19. Até o fim do ano, todos os brasileiros, que assim o desejarem, serão vacinados".


Mas o governo não faz referência ao atraso nas negociações para a compra de vacinas — um dos focos da CPI da Covid no Senado, que apura há quase dois meses eventuais omissões do governo federal no combate à pandemia.



Em outro trecho, a Casa Civil afirma que o governo federal coordenou ações de distribuição de insumos e medicamentos para os estados durante a pandemia.


"Por meio do plano Oxigênio Brasil, somente neste ano, foram distribuídos aproximadamente 500 mil metros cúbicos de oxigênio para estados e municípios. Além disso, foram autorizados mais de 24 mil leitos de UTIs e outros 3.900 de suporte ventilatório pulmonar. Foram distribuídas 3,6 milhões de unidades de medicamentos de intubação orotraqueal", diz o trecho.


O documento lista outras ações do governo em diferentes áreas sem relação com o combate à Covid — como a da infraestrutura.


Reações à nota

Políticos e profissionais da saúde contestaram o dado divulgado pelo governo de que o brasil ocupa o quarto lugar no ranking mundial de países que mais aplicam vacinas.


Esse levantamento considera o número total de vacinas aplicadas. Mas se considerado o percentual da população já vacinada, o Brasil ocupa a posição de número 71, considerando a primeira e segunda doses aplicadas.


O infectologista Alberto Chebabo afirmou que, em termos de cobertura vacinal, não é possível comparar o Brasil com países com 10 milhões de habitantes, por exemplo.


"A gente atrasou a nossa vacinação e principalmente a chegada de um lote grande de vacinas, de uma remessa grande de vacinas. O nosso processo de vacinação, ele só começou agora, no segundo trimestre do ano. Então, a gente perdeu um espaço, um tempo muito grande para vacinar a população. Ter um número grande de pessoas vacinadas não significa uma boa cobertura vacinal", declarou Chebabo.



Também houve críticas ao balanço positivo divulgado pelo governo, que cita que esforços para coordenar as ações durante a pandemia para distribuição de oxigênio e financiamento de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI). No começo do ano, dezenas de pessoas morreram asfixiadas no Amazonas e faltaram leitos em diversos estados.


"Eu diria que esse documento inclusive é de uma gigantesca desfaçatez", afirmou o senador Humberto Costa (PT-PE), integrante da CPI da Covid. Segundo ele, "o governo imagina que a população brasileira não tem memória".


"Além daquele fato dramático de pessoas morrendo sem oxigênio em Manaus, a falta de oxigênio em diversas partes do país tem sido uma constante. O esgotamento do número leitos de UTI para atender a população em várias cidades do Brasil é outra realidade importante, e o mais grave de tudo isso é essa vacinação que caminha a passos de tartaruga", disse.


O relator da CPI da Covid, senador Renan Calheiros (MDB-AL), afirmou que o enfrentamento da pandemia foi marcado pela "falta de coordenação, de política, de orientação".


"O resultado do país é desolador. A CPI tem impactado todos os setores. Ela promoveu também o aparecimento da reação popular, agilizou o calendário de vacinação. Mas o presidente da República não muda. Ele continua fazendo o que sempre fez. Ele tem que ser responsabilizado pelo morticínio do Brasil exatamente pelas coisas que ele continua a fazer. Ele tem sido um reincidente e isso não pode, de forma nenhuma, continuar como está", declarou.


Fonte: G1

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