terça-feira, abril 20, 2021

Sem estoque da CoronaVac, Natal soma 9.616 pessoas com a segunda dose atrasada

Natal tem atualmente 9.616 pessoas que já deveriam ter recebido a segunda dose da CoronaVac e ainda não receberam porque acabaram as doses na capital potiguar. A aplicação da segunda dose estava programa para acontecer entre 14 e 28 dias depois da primeira dose, como recomenda o fabricante, mas não ocorreu, porque não há mais doses disponíveis.


Doses de CoronaVac estão em falta em Natal — Foto: Divulgação/Itanhaém


Os dados são do Laboratório em Inovação Tecnológica em Saúde (LAIS/UFRN) e foram consultados no sistema RN+ Vacina na tarde desta terça-feira (20).


Sem doses disponíveis, Natal suspendeu pela segunda vez a aplicação da CoronaVac na segunda-feira (19). E isso tem preocupado quem já recebeu a primeira dose e está prestes a ultrapassar o prazo de 28 dias para a aplicação da segunda dose, como é determinado para eficácia pela fabricante do imunizante.


Esse é o caso, por exemplo, de uma tia de 69 anos da psicóloga Marianna Menezes Silvino. Ela já passou dos 21 dias do recebimento da primeira dose e agora teme que a segunda não esteja disponível até o 28º dia.


"Ela tomou a primeira dose, mas quando foi tomar a segunda dose ontem (segunda-feira), nós soubemos que a vacina tinha acabado. E aí começou o desespero de quem sabia, onde tinha, quando ia chegar. E ninguém sabe responder. Como fica a situação dessa idosa?", questionou a psicóloga.

O relatório do LAIS indica ainda que há mais 19.281 pessoas que terão a segunda dose da vacina vencendo nos próximos 7 dias em Natal, sendo 19.134 da CoronaVac e 147 de Oxford/AstraZeneca. Ou seja, caso não recebam a imunização neste período, também estarão atrasadas em relação ao prazo estipulado pelos fabricantes.


"É uma preocupação que a gente tem visto da população em relação a essa ausência, essa falta consecutiva aqui em Natal. É importante a gente frisar que os gestores precisam fazer a ponderação quando eles recebem as doses e ponderar o volume que eles precisam armazenar, pra garantir a segunda dose", explicou o pesquisador do LAIS, Rodrigo Silva.


Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde de Natal disse que "sempre que a capital inicia uma faixa etária de vacinação contra a Covid-19 é garantido que todo público correspondente seja vacinado,", mas que "Natal tem recebido um quantitativo de doses insuficientes que não corresponde à realidade de sua população". A pasta alegou que "por falta de doses a capital não está avançando na faixa etária, tanto é que desde do dia 10 de abril foi aberta a vacinação para idosos de 63 anos e até este momento continuamos vacinando esse mesmo público".


Segundo a SMS, os dados do RN+ Vacina "têm delay no cadastramento dos usuários e não representa um dado atualizado em tempo real, podendo haver atraso médio de até 10 dias de atualização". A pasta diz que "acredita que esse número seja bem menor".


Distribuição das doses

Nesta terça-feira, a Secretaria de Estado da Saúde Pública (Sesap) atribuiu o problema em Natal a um "erro do município", que não teria seguido as orientações técnicas, e afirmou que não houve falta de segunda dose da vacina nos outros municípios do estado.


Vacina CoronaVac doses frascos Natal RN Covid-19 — Foto: Sérgio Henrique Santos/Inter TV Cabugi


A Sesap afirmou que distribuiu todas as doses entregues pelo Ministério da Saúde aos municípios e disse que Natal usou parte das doses que o Ministério da Saúde orientou que fossem destinadas exclusivamente à segunda dose (D2) para vacinar pessoas com a primeira dose (D1). Dessa forma, a cada nova remessa recebida pelo município há uma lacuna.


A pasta disse ainda que avalia ceder parte da reserva técnica, que é determinada pelo Ministério da Saúde, para o município de Natal para aplicação da segunda dose da CoronaVac em idosos e profissionais de saúde que estão dentro do prazo da aplicação e ainda não conseguiram o imunizante. A reserva técnica atualmente é de 9.309 doses.



Há uma semana, a Sesap havia relatado que não consideraria ceder a reserva técnica por achar injusto com os municípios que têm seguido as instruções.


De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde, o pedido da reserva técnica "foi uma reposição de perda técnica referente as fracos da CoronaVac que deveriam conter 10 doses, mas vieram 9. Essas perdas representam 6.042 doses que a capital deixou de aplicar".


Reserva da segunda dose

No início da vacinação contra a Covid-19 no Brasil, o Ministério da Saúde recomendou que os estados e municípios guardassem doses da CoronaVac destinados à segunda dose. No entanto, no fim de março, o Ministério da Saúde mudou a orientação e liberou o uso das vacinas armazenadas para uso como 1ª dose.


Antes, as segundas doses da CoronaVac que chegavam ao RN ficavam armazenadas na Unicat e só eram liberadas aos municípios no momento da aplicação delas. Após a recomendação do Ministério da Saúde, toda remessa recebida passou a ser encaminhada aos municípios diretamente logo após o envio pelo MS ao estado.


Apesar do envio integral do lote, o governo do RN orientou em nota técnica, no dia 2 de abril, que os municípios deveriam armazenar as doses da CoronaVac destinadas à segunda aplicação.


Doses eram armazenadas na Unicat — Foto: Elisa Elsie/Assecom/Governo do RN


O que acontece se atrasar a vacina?

No caso da CoronaVac, a aplicação deve acontecer entre 14 e 28 dias, segundo o fabricante. Entre 21 e 28 dias, um estudo indicou que há um aumento na eficácia do imunizante, que sobe de 50% para 62%. Caso esse prazo seja ultrapassado, não há estudo que confirme a eficácia.


"A gente não tem estudo sobre quanto tempo mais, a vacina terá efeito, além dos 28 dias. Quando a gente recebe a primeira dose, o sistema está sendo estimulando, sendo acordado para produzir anticorpos, e as células precisam ser reestimuladas para ficarem acordadas, ou morrem. Pela nossa experiência sobre o sistema imunológico, é possível postergar por uma uma semana, 10 dias no máximo 15 dias, mas isso é esticando a corda, porque depois do prazo do estudo, gente não tem segurança", explicou a professora da UFRN, Janeusa Souto, que é doutora em imunologia básica, ao G1 no dia 6 de abril.


"Quando se passa dos 28 dias, o estudos não observaram isso ainda. A gente não sabe. É uma coisa que precisa ser estudada e só o futuro poderá dizer se há perda de eficácia ou não", reforçou o infectologista Thiago Queiroz.


Intervalo entre as doses

Até o momento, duas vacinas são aplicadas no país: a da farmacêutica AstraZeneca (desenvolvida em parceria com a Universidade de Oxford), e a CoronaVac (desenvolvida pelo laboratório Sinovac com o Butantan).


Para a vacina da AstraZeneca, a maior eficácia é alcançada quando o intervalo entre a primeira e a segunda doses é de três meses. Para a CoronaVac, o melhor resultado, de acordo com os estudos, ocorre quando a segunda dose é aplicada em um intervalo de 21 a 28 dias.


De acordo com especialistas, a segunda dose é essencial não apenas para proteção individual. Quanto mais pessoas estiverem imunizadas, maior é a barreira criada na comunidade inteira, diminuindo as possibilidades de alguém se infectar.


Fonte: G1

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