quinta-feira, agosto 27, 2020

Movimentações milionárias da Afipe estavam na mira do Coaf desde 2015, diz MP

O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) já tinha identificado movimentações financeiras milionárias suspeitas na Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe) desde 2015. O Ministério Público investiga a entidade religiosa por suspeita de desvio de dinheiro para compra de imóveis. Uma das transações que gerou desconfiança foi o pagamento de valores a uma empresa que não tinha funcionários registrados.


O padre Robson de Oliveira, fundador da Afipe, se afastou da entidade após a Operação Vendilhões, feita pelo MP, e nega qualquer desvio de dinheiro.


A movimentação de R$ 677 milhões entre junho de 2015 a janeiro de 2016 nas contas da Afipe acendeu um alerta no Coaf, que encaminhou ao Ministério Público um relatório de inteligência financeira.


Segundo as investigações, foram pagos R$ 234 mil e R$ 1 milhão em maio e junho de 2017 para a empresa Plan Comercial e Serviços para locação de máquinas. Entretanto, em 2016, não havia registro de funcionários.


“O presente quadro deixa dúvidas acerca da capacidade da empresa de prestação de serviço, além da movimentação para elevados pagamentos a ela destinados, a origem do numerário, demandando aprofundamento investigatório”, apontou o MP no documento.


Afipe é alvo de investigação do MP por desvio de dinheiro — Foto: Gabriel Garcia/TV Anhanguera
Afipe é alvo de investigação do MP por desvio de dinheiro — Foto: Gabriel Garcia/TV Anhanguera


De acordo com o processo, uma das transações identificadas como suspeita pelo Coaf foi a transferência em abril de 2016 no valor de R$ 3,3 milhões da Afipe para o empresário Fábio Jacinto da Silva que atuava no ramo de holdings de instituições financeiras. Segundo o MP, “Há suspeita do Coaf em razão da […] movimentação de recursos incompatíveis com o patrimônio e atividade econômica ou a ocupação profissional e a capacidade financeira do cliente’”.


Ainda segundo o MP, outra movimentação suspeita é o pagamento no valor de R$ 2,5 milhões a duas pessoas, entre outubro de 2016 a junho de 2017, referente à compra e venda de gado, bem como venda de uma fazenda. “Mas tal como apontou a informação do Coaf, não houve apresentação de documentação idônea do alegado, gerando inícios de movimentação de recursos incompatíveis com a ocupação e capacidade financeira do cliente”, aponta o documento.


Em cinco meses, entre crédito e débito, o Coaf percebeu que a Afipe movimentou mais de R$ 260 milhões. Além da grande movimentação de dinheiro da entidade com empresas, também chamou a atenção as transações com pessoas físicas.


Entre os principais beneficiários estão Marden Gabriel Alves de Aguiar e a mulher, Maria das Dores Assis de Aguiar. O casal vendeu uma fazenda em Santa Bárbara de Goiás no valor de R$ 1,5 milhão para a Afipe. Os dois são pais de Marden Gabriel Alves de Aguiar Júnior, ex-secretário de Habitação de Trindade.



Uma testemunha ouvida pelo MP apontou que ele seria um dos beneficiários do desvio de verbas da entidade religiosa.


Ministério Público cumpre mandados de busca e apreensão na Afipe, que era administrada pelo padre Robson — Foto: Guilherme Rodrigues/TV Anhanguera
Ministério Público cumpre mandados de busca e apreensão na Afipe, que era administrada pelo padre Robson — Foto: Guilherme Rodrigues/TV Anhanguera


O que dizem os citados

Em nota, a Plann Comercial e Serviços disse que não teve contratos dos valores citados com a Afipe. A empresa disse ainda que os contratos que foram firmados foram executados.


A defesa de Marden Gabriel Alves e Maria das Dores informou que o casal tinha uma propriedade rural à venda e que a Afipe se interessou em comprar, fazendo três transferências bancárias. A escritura foi feita, registrada em cartório e todos os impostos pagos e declarados à Receita Federal. A defesa reforçou ainda que Marden Júnior não teve participação nenhuma na negociação.


Já os advogados do Padre Robson de Oliveira disse que a Associação Filhos do Pai Eterno esclareceu que sempre teve toda a sua movimentação financeira legalmente contabilizada, tanto que nunca sofreu qualquer autuação fiscal.


A defesa teve acesso ao inquérito apenas nesta semana e, tão logo os advogados acessem todas as suposições do MP, as informações necessárias serão prestadas ponto a ponto. Por fim, os advogados disseram ainda que o padre Robson é o maior interessado na verdade e na transparência.


A reportagem não conseguiu localizar a defesa de Fábio Jacinto da Silva até a última publicação dessa reportagem.


Pedidos de prisão e monitoramento de celulares

O documento da Justiça aponta que, além do pedido de prisão do padre Robson, também foi pedido a prisão de todos os membros da diretoria da Afipe ou, alternativamente, o afastamento e suspensão do exercício das funções dos envolvidos. Entretanto, o pedido foi negado.


Além disso, consta no processo o pedido de monitoramento de 14 telefones celulares. Destes, nove pertenciam ao padre Robson.


Operação Vendilhões

Deflagrada na sexta-feira (21), a Operação Vendilhões, apura desvios na ordem R$ 120 milhões em doações de fiéis por parte da Afipe, presidida até então pelo padre Robson, figura presente na cena católica e bastante famoso em Goiás. Após a ação, ele pediu afastamento das funções e disse que vai colaborar com o MP para provar que não houve crime.


De acordo com o promotor de Justiça Sebastião Marcos Martins, a operação começou no início do ano passado, decorrente de outra investigação vinculada ao padre Robson, na qual ele foi vítima de extorsão. Um hacker chegou a ser condenado por extorqui-lo em R$ 2 milhões, valores pagos com dinheiro da Afipe.


Fonte: G1

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