segunda-feira, março 12, 2018

Sebastián Piñera toma posse como presidente do Chile

Sebastián Piñera toma posse como presidente do Chile neste domingo (11) (Foto:  Ivan Alvarado/Reuters)
Sebastián Piñera tomou posse da presidência do Chile neste domingo (11), em cerimônia realizada em Valparaíso. Ex-presidente conservador e representante da coalização de centro-direita "Chile Vamos", ele venceu o segundo turno das eleições, contra o adversário de centro-esquerda Alejandro Guillier. Piñera sucede a socialista Michelle Bachelet.

O político já foi presidente entre 2010 e 2014. Dessa vez, deve enfrentar o desafio de governar com um Congresso dividido e a pressão de movimentos sociais que desejam aprofundar as reformas que Bachelet deixou inconclusas.

O socialista Carlos Montes, novo presidente do Senado, tomou o juramento de Piñera e lhe entregou a faixa presidencial, cedida por Bachelet, que ajudou o novo presidente a arrumá-la.

Novo presidente do Congresso chileno Carlos Montes e Michelle Bachelet arrumam faixa presidencial em Sebastián Piñera durante cerimônia de posse neste domingo (11) (Foto: Esteban Felix/ AP Photo)
Novo presidente do Congresso chileno Carlos Montes e Michelle Bachelet arrumam faixa presidencial em Sebastián Piñera durante cerimônia de posse neste domingo (11) (Foto: Esteban Felix/ AP Photo)

Entre os presentes na cerimônia, estavam os presidentes Michel Temer, Maurici Macri, da Argentina, Enrique Peña Nieto, do México, Pedro Pablo Kuczynski, do Peru, e Lenín Moreno, do Equador, além do rei emérito da Espanha, Juan Carlos I.

Depois da cerimônia, Piñera iria acompanhado da primeira-dama, Cecilia Morel, a Cerro Castillo para almoçar com seus convidados e, depois, viajará à capital Santiago, onde pronunciará seu primeiro discurso como presidente.

Presidentes de Peru, Pedro Pablo Kuczynski, do México, Enrique Peña Nieto, e do Brasil, Michel Temer, durante cerimônia de posse de Sebastián Piñera neste domingo (11) no Chile (Foto: Rodrigo Garrido/Reuters)
Presidentes de Peru, Pedro Pablo Kuczynski, do México, Enrique Peña Nieto, e do Brasil, Michel Temer, durante cerimônia de posse de Sebastián Piñera neste domingo (11) no Chile (Foto: Rodrigo Garrido/Reuters)

Laços com o Brasil
Após participar da posse de Piñera, Michel Temer destacou os "fortíssimos" laços comerciais com o Chile. "Brasil e Chile têm uma relação comercial fortíssima e nós compartilhamos de uma visão de mundo parecida", escreveu Temer em sua conta no Twitter.

Segundo o Itamaraty, o Brasil é primeiro parceiro comercial do Chile na América do Sul. Já o Chile, o segundo parceiro comercial do Brasil na região. O fluxo comercial entre os dois países chegou a US$ 8,5 bilhões no ano passado.

Congresso dividido
O novo Congresso do Chile foi formado pouco antes da posse de Piñera. O ambiente está fortemente fragmentado, e o novo presidente não conta com a maioria absoluta.

Ex-rei da Espanha, Juan Carlos comparece à cerimônia de posse. (Foto: Ivan Alvarado/Reuters)
Ex-rei da Espanha, Juan Carlos comparece à cerimônia de posse. (Foto: Ivan Alvarado/Reuters)

A coalizão governista "Chile Vamos" conta com 19 senadores e 72 deputados, enquanto a nova oposição de centro-esquerda tem 16 cadeiras na câmara alta e 43 na baixa. A esquerda radical, reunida na chamada "Frente Ampla", subiu de três para 20 deputados e conta, pela primeira vez, com um senador.

A ascensão da Frente Ampla, coalizão de pequenos partidos chefiada por ex-líderes dos protestos estudantis de 2011, é considerada o maior chacoalhão na política chilena desde o retorno da democracia, após a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990).

O governo de Piñera "pode fazer pouco, porque tem o Congresso travado. Acredito que haverá muita discussão, mas o que ele tentará fazer é mostrar resultados desde a gestão. Mais política pública do que agenda legislativa", aposta a analista da Universidade de Santiago, Lucía Dammert, em declaração à agência France Presse.

Presidente do México, Enrique Pena Nieto, cumprimenta o presidente da Argentina, Mauricio Macri, em cerimônia de posse.  (Foto:  Ivan Alvarado/Reuters)
Presidente do México, Enrique Pena Nieto, cumprimenta o presidente da Argentina, Mauricio Macri, em cerimônia de posse. (Foto: Ivan Alvarado/Reuters)

A neta de Salvador Allende, chefe de Estado socialista que se suicidou em meio ao levante militar liderado por Pinochet em 11 de setembro de 1973, foi eleita presidente da Câmara dos Deputados.

Maya Fernández Allende, de 47 anos, deputada socialista eleita para um segundo período num distrito de Santiago, foi escolhida pela maioria dos deputados, após um acordo entre as forças políticas de esquerda.

Outro socialista, Carlos Montes, foi eleito presidente do Senado e, nesta qualidade, foi encarregado de dirigir a cerimônia de posse.

Gabinete
Em janeiro, Piñera anunciou os membros de seu gabinete, que foi criticado por alguns partidos por ter um aspecto econômico acentuado.

Seu gabinete será composto por 7 ministras incluindo - Cecilia Pérez, a cargo da Secretária-geral de Governo - e 16 ministros, entre eles homens de sua extrema confiança em cargos-chave. Seis membros de seu novo gabinete já tinham sido ministros em seu primeiro governo. Cinco são do partido Renovação Nacional (RN), que representa setores da direita tradicional chilena.

Sebastián Piñera e membros de seu gabinete posam para foto (Foto: Reprodução/Twitter/Sebastián Piñera)
Sebastián Piñera e membros de seu gabinete posam para foto (Foto: Reprodução/Twitter/Sebastián Piñera)

Um dos velhos conhecidos de Piñera é o renomado economista Felipe Larraín, nomeado para mais uma vez ocupar o Ministério da Fazenda.

Piñera venceu as eleições com a promessa de reativar uma economia que, com Michelle Bachelet, cresceu cerca de 2% nos últimos anos. Os empresários aguardam com expectativa o início de um governo que prometeu incentivos aos investimentos, recuperação da capacidade de crescimento do país, a reforma da Previdência, a criação de empregos e a redução da pobreza e da desigualdade social.

As medidas econômicas serão beneficiadas pelo aumento do preço do cobre - motor da economia do país - e um Produto Interno Bruto (PIB) que avançou 3,9% em janeiro. Como ministro de Mineração do principal país produtor mundial de cobre foi nomeado o legislador Baldo Prokurica.

Dois dos nomes criticados são Alfredo Moreno, líder empresarial que assumirá o ministério de Desenvolvimento Social, e Gerardo Varela, advogado que se opôs à reforma da Educação e a gratuidade das universidades promovida por Bachelet e que será o futuro ministro da Educação.

Para ocupar o cargo de chanceler, foi nomeado o escritor Roberto Ampuero, que já esteve à frente do Conselho Nacional de Cultura e foi embaixador do Chile no México. O escritor, conhecido por seus romances policiais, terá como principal desafio enfrentar uma etapa-chave do julgamento que o Chile sustenta em Haia pela demanda marítima da Bolívia. A ponta do iceberg de um conflito bilateral histórico que se reativou desde a chegada do boliviano Evo Morales ao poder.

Michelle Bachelet cumprimenta Sebastián Piñera em cerimônia em que passou a faixa presidencial a ele em 2010 (Foto: Ivan Alvarado/Reuters)
Michelle Bachelet cumprimenta Sebastián Piñera em cerimônia em que passou a faixa presidencial a ele em 2010 (Foto: Ivan Alvarado/Reuters)

Além disso, Ampuero terá que lidar com a participação ativa do Chile na diplomacia latino-americana, em especial seu papel de garantidor no diálogo entre o governo de Nicolás Maduro e a oposição.

Reformas de Bachelet
Bachelet deixará para o sucessor uma série de reformas - algumas ainda não finalizadas, outras em pleno trâmite de aprovação -, com as quais tentou apagar elementos da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990) e dotar o Chile de uma rede maior de proteção social.

Em seus últimos dias como presidente, Bachelet assinou e enviou para o Congresso um projeto de reforma que propõe uma nova Constituição para o país – a atual data dos tempos da ditadura de Augusto Pinochet-, uma aspiração antiga dos parlamentares da esquerda e do centro com os quais Piñera terá que governar.

Desafios do novo governo
No campo social, Piñera terá que administrar a agenda de direitos civis e de gênero de Bachelet.

O atual governo apresentou um plano de lei de identidade de gênero que estabelece o direito de mudar o nome e o sexo no registro civil. Após a atriz transgênero Daniela Veja ser premiada pelo Oscar de melhor filme estrangeiro (Uma Mulher Fantástica), Bachelet impôs “suma urgência” ao projeto de lei.

O novo presidente também definirá se acelera ou congela a tramitação da lei do casamento igualitário, estimulada pela socialista.

Durante a sua campanha para o primeiro turno, Piñera anunciou que reverterá ou modificará as principais reformas realizadas pela presidente socialista na tributação e na educação. O ex-presidente também disse que mudaria a atual lei do aborto, que descriminaliza a prática em situações específicas.

No entanto, após o resultado do primeiro turno, quando a esquerda conquistou mais votos do que o esperado, mudou algumas de suas principais propostas. Passou a defender a continuidade do sistema de ensino gratuito implementado por Bachelet e ampliá-lo a setores mais pobres. Também deixou de se posicionar em relação à lei do aborto.


Trajetória
Nascido em Santiago em 1949 em uma família de classe média, Sebastián foi o terceiro dos cinco filhos de Magdalena Echenique e José Piñera, um engenheiro e diplomata que participou da fundação da Democracia Cristã.

Piñera se formou em Engenharia Comercial na Universidade Católica do Chile e cursou mestrado e doutorado em Economia na Universidade Harvard, nos Estados Unidos, onde foi professor assistente. Também deu aula em universidades chilenas.

Foi consultor do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), do Banco Mundial e trabalhou na Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (Cepal).

Na década de 1970, Piñera fundou sua primeira empresa, a construtora Toltén, vendida mais tarde por US$ 2 milhões, segundo o jornal “El Mercúrio”. Em 1978, o empresário conseguiu a representação no Chile para os cartões de crédito Visa e Mastercard e, então, criou o Bancard.

Foi gerente-geral dos bancos Talca e Citicorp-Chile, presidente da Apple no Chile e acionista de algumas empresas, entre elas a Lan Chile (agora Latam, após a fusão com a brasileira TAM). Em 2004, comprou a TV Chilevisión e foi o maior acionista da empresa controladora do time de futebol Colo-Colo.

Piñera ingressou na carreira política em 1990, quando foi eleito senador e, depois de eleito com uma candidatura independente, ingressou no partido Renovação Nacional. Em 1993, o partido o considerou lançar como candidato presidencial, o que não ocorreu por causa do escândalo conhecido como “Piñeragate”. Nele, Piñera foi pego em escutas telefônicas pedindo para que fosse privilegiado em um debate.

Foi candidato presidencial em 2005, após presidir o partido entre 2001 e 2004, mas perdeu no segundo turno para Michelle Bachelet com 46,5% dos votos. Em 2009 foi novamente candidato presidencial, sendo eleito no ano seguinte com 51,61% dos votos contra o ex-presidente Eduardo Frei.

Fonte: G1

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