quinta-feira, janeiro 04, 2018

Em vistoria, presos de Aparecida de Goiânia relatam que agentes 'não conseguem dominar a cadeia'

Presos de diferentes alas da Colônia Agroindustrial de Regime Semiaberto, em Aparecida de Goiânia, na Região Metropolitana da capital relataram, durante inspeção realizada nesta quarta-feira (3) no presídio, que os agentes penitenciários não conseguem "dominar a cadeia".

A inspeção, realizada após determinação da ministra Cármen Lúcia, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ocorreu após uma rebelião deixar nove mortos na última segunda (1º).

A TV Globo teve acesso à ata da vistoria, que resume o depoimento dos detentos. Na inspeção, participaram 12 autoridades e, ao todo, seis presos foram ouvidos.

Em determinado trecho da ata, as autoridades relatam que os presos da ala D disseram: "[...] Sobre o tratamento dado aos presos, estes informaram que não há nada de anormal, mas que os agentes não conseguem dominar a cadeia, que é dominada por presos das alas 'B' e 'C'".

"Tudo começou com a ala "A" atacando a ala "B". Disseram que as duas alas disputam o comando da cadeia e que há duas facções por trás, mas não as nominaram. Pediram urgência na análise de suas situações. Ressaltaram que muitos fugiram de medo em razão dos tiros e ataques, mas que muitos querem cumprir pena", relata outro trecho da ata.

Os presos não relataram aos inspetores sobre a existência de armas. A TV Globo, porém, apurou que autoridades que acompanham o caso suspeitam que existam 70 armas na unidade prisional e que não descartam a participação de funcionários para que os objetos entrassem no presídio.

Às autoridades, os detentos confirmaram que existe uma tensão motivada pela superlotação do local, além da falta de água e de energia constantes. Além disso, reclamaram da demora na análise dos processos e da realização das audiências de custódia.

Outros três presos de outro setor, a ala C, afirmaram que tudo corria bem e que não havia nada de anormal, quando perceberem que a ala estava sendo atacada por pedras que eram jogadas a partir da ala B.


O documento diz que eles não sabem o motivo do ataque e não admitem a existência de facções.

“Logo vieram os tiros e os integrantes da ala 'C' foram atacados aleatoriamente. Não sabem o motivo do ataque, mas reconhecem que há disputas entre as duas alas. Não admitem a existência de facções. Afirmam que todos estão descontentes com a superlotação e com a demora na análise de processos, inclusive realização de audiências que demoram muito para acontecer. Ressaltam o problema da falta de água”, diz outro trecho do documento.

Mutirão
Após a vistoria, o presidente do Tribunal de Justiça de Goiás, Gilberto Marques Filho, explicou que será feito um mutirão do Poder Judiciário com os demais órgãos para avaliar os processos pendentes e, assim, tentar reduzir o número de reeducandos na colônia.

"Fizemos trabalho de apuração da situação de cada um que aqui se encontra. Vamos ver aquele que tem direito evolução e até progressão da pena para diminuir a população interna", explicou.

O desembargador ressaltou que acompanha há anos a situação dos presídios e relata a precariedade do sistema a todos órgãos superiores. Porém, ele reconhece que o sistema prisional, "infelizmente", não mudou muito nos últimos 20 anos.

Fonte: G1

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