quarta-feira, dezembro 06, 2017

Caso Fifa: gravação mostra Marin pedindo ajuda para receber propina

A Justiça americana, que está julgando casos de corrupção na Fifa, apresentou nesta terça-feira (5), no tribunal, a gravação de um diálogo entre um colaborador e um dos réus, o ex-presidente da CBF José Maria Marin. Nessa conversa gravada, Marin pede ajuda para receber propina.
José Maria Marin chegou ao tribunal nesta terça já sabendo que ouviria a própria voz, gravada sem o conhecimento dele por um colaborador da Justiça americana. O ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol e dois outros ex-dirigentes de futebol estão sendo julgados nos Estados Unidos por crimes de lavagem de dinheiro, fraude e organização criminosa.
A transcrição traduzida desse grampo foi apresentada rapidamente na segunda-feira (4) e, nesta terça, os jurados puderam ouvir a conversa que aconteceu em abril de 2014 em um restaurante em Miami.
O colaborador que gravou o áudio é J. Hawilla, dono da empresa de marketing esportivo Traffic, e réu confesso de crimes de corrupção, fraude, lavagem de dinheiro e obstrução de justiça. Hawilla também é acionista da TV TEM, afiliada da Rede Globo.
Na conversa, Marin diz que pagamentos destinados a Ricardo Teixeira, que tinha renunciado à presidência da Confederação Brasileira de Futebol dois anos antes, deveriam ser pagos a ele, Marin.
J. Hawilla pergunta: “É realmente necessário dar ao Ricardo 1 milhão? Me fala”.
Marin responde: "Eu acho, presta bem atenção, presta bem atenção, que... O que nós já fizemos e nós continuamos fazendo... Já era hora de chegar para o nosso lado. Verdade ou não?".
“Claro, claro, claro. O dinheiro tem que ser dado a vocês”, respondeu Hawilla.
“É isso, é isso", diz Marin.
Pouco depois, Marin se queixa de não ter recebido um pagamento de propina relacionada ao contrato da Traffic para a venda internacional da Copa do Brasil para emissoras estrangeiras e cita o nome de Kléber Leite, ex-presidente do Flamengo e dono da Kléfer, uma empresa de marketing esportivo.
Naquele ano, 2014, os direitos internacionais da Copa do Brasil estavam sendo divididos entre a Traffic, de J. Hawilla, e a Kléfer, de Kleber Leite.
Se referindo a Kléber, J. Hawilla pergunta a Marin: “Ele não pagou?”.
Marin responde: “Não que eu saiba”.
“Ele me disse que pagou. Ele me disse que pagou. Quer que eu veja isso?”, pergunta Hawilla.
“Por favor, vê isso. E eu também vou perguntar ao Marco Polo. Eram US$ 900 mil. Por favor, vê isso”, responde Marin.
Marco Polo del Nero é o atual presidente da CBF e, na época, era o vice.
O promotor Samuel Nitze mostrou também a gravação de uma conversa entre J. Hawilla e Kléber Leite, em que Kléber diz que, pelos direitos comerciais da Copa do Brasil de 2014 para o exterior, a propina combinada com a CBF seria de R$ 1 milhão a Ricardo Teixeira e R$ 1 milhão a serem divididos entre Marin e Del Nero.
Quando a promotoria encerrou o interrogatório de J. Hawilla, foi a vez de o advogado de Marin fazer as perguntas. Charles Stillman quis saber se Hawilla continuou pagando propina mesmo depois de começar a colaborar com o FBI, a Polícia Federal americana. Hawilla respondeu que sim. Ele disse, também, que ainda não conseguiu cumprir o acordo de delação premiada, que prevê o pagamento de US$ 151 milhões ao governo americano. Conseguiu um prazo maior para pagar: dezembro de 2018.
José Maria Marin se declarou inocente de todas as acusações. Del Nero e Teixeira foram denunciados pela Justiça americana por crimes de lavagem de dinheiro e organização criminosa, mas não estão sendo julgados. Kléber Leite não foi denunciado nos Estados Unidos.
O que dizem os citados
O presidente da CBF, Marco Polo del Nero, negou que tenha recebido qualquer vantagem indevida ou que tenha participado de negociações de contratos entre a CBF e as empresas Traffic e Kléfer.
O ex-presidente da CBF Ricardo Teixeira negou todas as acusações do delator José Hawilla.
A Kléfer, do empresário Kléber Leite, disse que os direitos da Copa do Brasil até 2014 eram exclusivos da Traffic. Afirmou que os diálogos apresentados pela Justiça americana são mentirosos e que os valores pagos pela Traffic à Kléfer eram referentes a obrigações contratuais comprovados por ambas as empresas.

Fonte: Jornal Nacional

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