quarta-feira, novembro 01, 2017

Um ano após gruta desabar durante celebração religiosa, famílias tentam retomar rotina

Um ano após ser abalada por uma grande tragédia, a pequena cidade de Santa Maria do Tocantins, no nordeste do estado, voltou a ter uma rotina normal de cidade do interior. A maioria dos moradores prefere não falar sobre as lembranças tristes do dia em que a gruta Casa da Pedra desabou durante uma celebração religiosa, matando 10 pessoas. Quem fala, prefere não apontar culpados e se prepara para homenagear os que partiram ou agradecer pelos que ficaram.

Waldemar ainda se emociona ao falar da esposa que morreu na tragédia (Foto: João Guilherme Lobasz/G1)
Waldemar ainda se emociona ao falar da esposa que morreu na tragédia (Foto: João Guilherme Lobasz/G1)

A vendedora Adriana Maciel Sousa, de 23 anos, ficou com várias marcas do acidente na perna, fraturada no desabamento. Ela estava no local com outros 12 parentes, incluindo dois filhos e foi a única da família a ficar ferida. "Foi desesperador. Eu só queria ver a minha filha, porque eu não a vi quando tudo caiu e não sabia se ela estava viva. Minha prima tirou ela de perto porque eu estava muito nervosa, então eu fiquei achando que ela tinha morrido. Só acreditei quando meu pai me disse que ela estava bem".
Adriana levou quase nove meses para voltar a andar normalmente e precisou de duas cirurgias para tratar do osso partido na perna. Ela conta que precisou do máximo de ajuda possível dos parentes para poder cuidar dos filhos. "Acabou que ficou tudo bem com a gente. Meus filhos foram abençoados, porque eles estavam do meu lado menos de um minuto antes da pedra ceder. Sorte que eles saíram para tirar uma foto com a minha prima", afirma Adriana.

Principal preocupação de Adriana após o acidente era saber como estavam os filhos (Foto: João Guilherme Lobasz/G1)
Principal preocupação de Adriana após o acidente era saber como estavam os filhos (Foto: João Guilherme Lobasz/G1)

Já para o aposentado Waldemar Guimarães de Sousa, de 77 anos, o dia 1º de novembro vai ser marcado pela saudade. A esposa de Waldemar, Domingas Pereira, foi uma das pessoas que morreram na gruta. Agora, ele e oito dos 10 filhos que teve com Domingas se reuniram para transformar o túmulo dela em um mausoléu e deixar o ambiente do jeito que ela gostava.
"Ela amava plantas, pode ver que lá em casa tem um monte na área. Então vamos colocar muitas lá, pôr algumas gramas também, para deixar mais bonito e para ter uma sombra", diz ele. "Ela criou 10 filhos junto comigo e eu posso dizer que tenho orgulho de todos eles. Ela foi uma mãe muito carinhosa, então eu quero que ela saiba, lá onde Deus tem ela, que nós também temos muito carinho por ela", completa seu Waldemar, com a voz embargada e lágrimas nos olhos.
Os moradores parecem ter chegado a mesma conclusão da Polícia Civil sobre o que causou o acidente: desgaste natural da rocha. "Não tem quem culpar, foi uma coisa da natureza mesmo. Agora é cuidar pra não acontecer de novo", diz Adriana. "Não tinha nada que desse pra ter sido diferente", afirma Waldemar.
O delegado Wlademir Costa, que comandou a investigação, explica que não há como indiciar ninguém no caso. "Os técnicos chegaram à conclusão de que havia um desgaste natural da rocha e que ela iria cair mais cedo ou mais tarde. Os fogos, que falaram muito na época, podem ter acelerado, servido de gatilho, mas não há como afirmar se contribuíram ou não para o acidente. Os próprios moradores que fizeram a limpeza falaram que encontraram alguns pedaços que tinham caído antes no dia anterior. Infelizmente era uma fatalidade anunciada".

Waldemar e os filhos preparam homenagens para dona Domingas (Foto: João Guilherme Lobasz/G1)
Waldemar e os filhos preparam homenagens para dona Domingas (Foto: João Guilherme Lobasz/G1)

O acidente
O acidente na gruta conhecida como Casa de Pedra, em Santa Maria do Tocantins, aconteceu no dia 1º de novembro, durante uma celebração do Dia de Todos os Santos. Segundo o Corpo de Bombeiros, pelo menos 50 pessoas estavam na hora do desabamento.
Um dos fiéis que estava na gruta contou que o teto começou a cair de repente no momento em que eles estavam rezando. Não chovia no momento do desabamento.
Segundo o homem, a concentração de pessoas é feita todos os anos entre os dias 1º e 2 de novembro, que são comemorados o Dia de Todos os Santos e de Finados. A gruta fica em um local aberto e de fácil acesso, a cerca de 10 quilômetros da cidade.
Ao todo, 10 pessoas morreram durante o desabamento. As vítimas são duas crianças e oito adultos, sendo sete mulheres e três homens. Cinco vítimas são de Itacajá, três de Santa Maria do Tocantins e duas de Pedro Afonso.

Ao todo, 10 pessoas morreram no desabamento (Foto: CIOPAER/SSP)
Ao todo, 10 pessoas morreram no desabamento (Foto: CIOPAER/SSP)

Local foi escorado pelos bombeiros após desabamento (Foto: CIOPAER/SSP)
Local foi escorado pelos bombeiros após desabamento (Foto: CIOPAER/SSP)

Fonte: G1

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