domingo, outubro 15, 2017

Funaro detalha divisão de propina em esquema que teria beneficiado Moreira e Cunha

O doleiro Lúcio Funaro detalhou, em depoimento de delação premiada à Procuradoria Geral da República (PGR), o esquema de corrupção que teria sido montado na Caixa Econômica Federal para gerar propina a políticos do PMDB.
Segundo Funaro, empresas pagavam propina em troca de facilidades na liberação de recursos do Fundo de Investimentos do FGTS (FI-FGTS), administrado pela Caixa.
A declaração está em um dos vídeos dos depoimentos da delação premiada de Funaro, que se tornaram públicos nesta semana depois de aparecerem no site oficial da Câmara dos Deputados.
De acordo com o doleiro, apontado como o operador de propina do PMDB, diversas operações envolvendo o FI-FGTS renderam vantagens indevidas a ele e a políticos peemedebistas.
Em um dos depoimentos à PGR, Lúcio Funaro deu detalhes sobre uma operação financeira envolvendo uma das empresas do Grupo Bertin.
À época do investimento feito pelo fundo de investimento do FGTS, o atual ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Moreira Franco ocupava a vice-presidência de Fundos e Loterias da Caixa, responsável pelo FI-FGTS.
Funaro explicou que foi procurado pelo Grupo Bertin para viabilizar o investimento do FI-FGTS porque os empresários sabiam que a vice-presidência de Fundos da Caixa era do PMDB.
Aos investigadores, Funaro explicou que o aporte de recursos do FI-FGTS na empresa do Grupo Bertin teve como contrapartida o pagamento de propina dividida entre ele, o deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e Moreira Franco, que, de acordo com o doleiro, ficou com maior parte do dinheiro.
Tanto Moreira Franco quanto Eduardo Cunha negam o teor da delação, e afirmam que Funaro é um "criminoso" (leia o que eles disseram ao final desta reportagem).
"Foi uma operação para financiar uma empresa que se chama Nova Cibe, de energia, do Grupo Bertin, num valor aproximado de R$ 300 milhões [...] e que gerou propina pra gente na ordem de 4% [do valor total, o que dá R$ 12 milhões]", afirmou Funaro.

Questionado sobre como foi feita a divisão dos R$ 12 milhões de propina, o doleiro respondeu: “65% Moreira Franco, 25% Eduardo Cunha, 15% para mim”.
Ao detalhar o pagamento das vantagens indevidas, Lúcio Funaro disse que o repasse foi feito em “dinheiro vivo”.
Sobre a entrega do dinheiro a Moreira Franco, Funaro declarou que os pagamentos seguiam um “fluxo de caixa”.
“Ele me solicitava, eu passava conforme meu fluxo de caixa. Tenho R$ 1 milhão no Rio, vou mandar te entregar, tenho R$ 1 milhão em São Paulo, manda o Altair vir buscar. Toda semana tinha um fluxo de caixa”, disse.
Mudanças na Caixa
À PGR, o doleiro reconheceu que, à época, não conhecia o funcionamento do FI-FGTS e que, diante do pagamento de propina, resolveu estudá-lo.
A partir daí, explicou Funaro, o grupo político de Eduardo Cunha e do ex-presidente da Câmara Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) decidiu buscar essa vice-presidência da Caixa.
O interesse, disse Funaro, resultou na nomeação de Fábio Cleto, por indicação de Cunha, para o cargo em 2011, no início do governo de Dilma Rousseff. O nome de Cleto teria sido avalizado pelo então vice-presidente da República e atual presidente, Michel Temer.
O próprio Fábio Cleto, que também firmou acordo de delação premiada, disse em depoimento em 2016, que depois que entrou na Caixa, a propina gerada com os aportes financeiros do FI-FGTS rendeu propina para ele, Cunha, Funaro e outro empresário.
Segundo Cleto, Cunha ficava com 80% de toda a propina paga pelas empresas no esquema.
O que disseram os citados
Em nota, a assessoria de Moreira Franco afirmou que Funaro "não tem nenhuma credibilidade e é famoso por viver da delinquência e da mentira".
Mais tarde, a defesa do ministro divulgou uma segunda nota: "A defesa de Wellington Moreira Franco observa que o colaborador Lucio Funaro não conseguiu sequer indicar percentuais corretos ao mencionar pretensos ilicitos, pois, somados os supostos percentuais individuais chegam a 105%. O erro é apenas um indicador das muitas inverdades de mais essa colaboração de conveniência do Procurador Geral anterior".

Eduardo Cunha disse desmentir "com veemência" o teor da delação de Funaro e o desafiou a provar as acusações.
"As atividades criminosas do sr. Lúcio Funaro foram feitas por sua conta e risco, não cabendo agora, para obter benefícios, atribuir sem provas a outros a sua cumplicidade".
A Caixa Econômica Federal informou que está em contato com as autoridades, prestando "irrestrita colaboração" com as investigações.
O PMDB afirmou que delações estão sendo feitas sem que haja nenhuma comprovação e que acredita que a Justiça irá reconhecer que elas são inócuas.
O G1 não conseguiu contato com o Grupo Bertin.

Fonte: G1

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