sexta-feira, janeiro 13, 2017

Preso sem condenação alertou a mulher sobre massacre em Roraima

 http://cidadenewsitau.blogspot.com.br/“Acho que vão matar gente aqui hoje. Tá tudo estranho. Se eu for, amo vocês todos. Amor, tá estranho aqui”. Essa foi a mensagem que o detento Abel Paulino de Sousa
enviou à sua mulher, por celular, no último dia 5.

Naquela mesma noite, a facção criminosa PCC, segundo o governo estadual, matou 33 homens na Penitenciária Agrícola de Monte Cristo, em Boa Vista (RR).

Sousa está entre os 16 que foram decapitados. Ele foi enterrado no domingo (8), no mesmo dia em que completaria 25 anos de idade.

Como Sousa, outros cinco detentos morreram sem terem sido condenados pelo Judiciário. Estavam presos por decisões preventivas que ainda poderiam ser revistas.

A Folha localizou o inquérito de Sousa. Sem condenação anterior e sem passagem no sistema prisional de Roraima, ele havia chegado à penitenciária apenas um mês antes de sua morte.

O pesadelo para a família começou quando ele foi preso por policiais civis de Boa Vista na tarde do dia 5 de dezembro, com Francisco Wilami Souza de Oliveira, 39, e Marizete Almeida, 26. Um adolescente também foi apreendido. Oliveira e Marizete admitiram à polícia que já haviam sido presos sob suspeita de tráfico de drogas.

Ex-montador de móveis, Sousa disse à polícia que estava desempregado, estudara até o ensino médio e era pai solteiro de dois filhos. Afirmou ainda que não possuía bens nem dinheiro em conta bancária.

O cenário se complicou para Sousa, porém, quando Oliveira o acusou de ter sido um intermediário de entrega da droga trazida por “um venezuelano”. O adolescente também disse que recebeu de Sousa 500 gramas de cocaína para revenda.

Na audiência de custódia, Sousa não conseguiu convencer a juíza Suelen Silva Alves de que poderia responder ao processo em liberdade. Ela viu risco à ordem pública e converteu a prisão em flagrante para preventiva, sem prazo fixo para acabar, mas que poderia ser revista ao final do inquérito policial.

Como Boa Vista não tem um presídio específico para presos provisórios, Sousa foi enviado pelo governo para uma ala da penitenciária agrícola.

Parceiro de inquérito, Wilami Oliveira teve um fim igualmente trágico. Em 19 de dezembro, foi encontrado morto por enforcamento em uma cela da mesma unidade.

A família de Sousa disse à Folha que ele não pertencia a nenhuma facção criminosa e sempre negou a acusação de tráfico. No processo, ele ainda não havia conseguido recorrer da decisão da juíza e, oficialmente, continuava sem advogado, sendo representado pela Defensoria Pública, que atende pessoas com renda mensal inferior a três salários mínimos.

No dia 5 de janeiro, após ter recebido as mensagens preocupantes de Sousa sobre uma morte iminente, sua mulher tentou confortá-lo. “Por que você tá falando isso, você acha que é você?”

Sousa respondeu: “Sério, amor. Tô achando que sou eu. Se eu não te mandar mais mensagens, você não manda mais não, tá bom? Tô com medo, amor”

Fonte: Folha Press

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