sexta-feira, dezembro 16, 2016

Boatos sobre sequestros assustam pais em SP; informação é falsa, diz governo

http://cidadenewsitau.blogspot.com.br/Em shoppings, supermercados, lanchonetes, nas saídas de escolas, em lojas de brinquedo. Pode ser uma mulher, um casal ou um homem "de tamanho mediano".
Aconteceu "comigo", "com o meu filho", "com uma mãe que eu conheço".

As descrições acima aparecem em relatos sobre sequestros de crianças que têm circulado em redes sociais e apavorado famílias em diversas cidades de São Paulo.

Segundo a Secretaria da Segurança Pública, não passam de boatos. "Não há onda de sequestros de crianças no Estado de São Paulo e não há nenhum registro deste tipo de crime", afirma o órgão.

As descrições que têm deixado pais e mães amedrontados têm se propagado principalmente em mensagens de texto e áudio passadas de grupo em grupo por WhatsApp.

Os autores se apresentam como mães chorosas, motoristas de transporte escolar e integrantes de "órgão de investigação" não especificado.

Parte das mensagens faz menção a uma suposta demanda de órgãos por uma facção criminosa. "O PCC deu um salve geral, eles pegaram uma encomenda de órgãos infantis, então eles têm que arrumar órgãos de crianças de 1 até 5 anos de idade", diz, num áudio, um homem que se apresenta como funcionário do "setor de inteligência" –sem dizer de onde. Também essa informação é falsa, ressalta a secretaria do Estado.

Outra mensagem mostra uma foto com dezenas de crianças mortas, que estariam em um caminhão parado pela polícia em uma estrada. Em alguns grupos, diz-se que imagem foi tirada no México. "No meu [grupo], diz que é em Guarulhos", mostra a doméstica Benedita Ferreira, 60. "Já recebi de gente de Cotia, São Miguel Paulista, Porto Ferreira [interior de SP] e até de Brasília."

Uma segunda imagem que circula com frequência é a fotografia de um casal. "Estão sequestrando crianças para vender os órgãos", diz o suposto "alerta".

CONSEQUÊNCIAS

Segundo a Segurança Pública, por causa da boataria, moradores de São Bernardo do Campo chamaram a polícia ao desconfiar de uma mulher que abordava pessoas na rua. Ela era só uma funcionária de um instituto de pesquisa em horário de expediente.

No shopping Eldorado, na zona oeste de SP, Ana Paula Ferreira, 22, pediu ajuda da mãe para vigiar as duas filhas. Ela já ouvira relatos sobre sequestros pela irmã, que mora em Jandira (Grande SP), e escutou de novo de uma desconhecida numa loja.

O diretor institucional da Alshop (Associação Brasileira de Lojistas de Shopping), Luís Augusto Ildefonso, confirma a informação da polícia paulista e diz que nenhum lojista relatou sequestro de crianças.

Ana Paula não foi a única que alterou sua rotina por causa dos relatos. O motorista Samir Majzoub, 27, conta que as mensagens fizeram o cunhado mudar até o horário de trabalho para chegar mais cedo na porta da escola para buscar a filha. "Falei que era boato, mas hoje em dia não dá para desacreditar nada."

NA DÚVIDA

O compartilhamento de notícias falsas pode ter consequências desastrosas. Em 2014, uma dona de casa foi linchada e morta em Guarujá, no litoral de SP, ao ser confundida com uma sequestradora de crianças. Um retrato falado da suposta criminosa havia sido divulgado em redes sociais na época.

A Polícia Civil esclareceu, posteriormente, que os sequestros eram apenas rumores, e que o tal retrato falado tinha dois anos.

Para Sérgio Branco, diretor do Instituto de Tecnologia & Sociedade do Rio, a velocidade de propagação de boatos tem tudo a ver com a "pós-verdade", termo escolhido pelo dicionário "Oxford" como a palavra de 2016.

"No tempo atual, a verdade têm tido menos importância do que a crença das pessoas nos fatos", diz. Para ele, é preciso promover uma verdadeira "alfabetização digital" para reverter o problema.

Coordenador do Laboratório de Imagem e Cibercultura da Universidade Federal do Espírito Santo, Fábio Malini concorda. "Sem instrumentos para diferenciar o que é informação verdadeira, as pessoas se guiam pelo medo. É uma bomba prestes a explodir."

Para evitar a propagação de boatos, eles recomendam prestar atenção na origem da informação e não passar adiante se não tiver certeza.

Não se deve dispensar também medidas para manter os filhos em segurança. Embora não haja uma onda de sequestros, a cidade registra regularmente incidentes envolvendo crianças.

Quatro de cada dez pessoas desaparecidas no Estado de São Paulo nos últimos três anos são menores de idade.

Em outubro, um pai chegou a filmar um homem levar seu filho pelo braço na avenida Paulista, na região central de São Paulo. Era um ex-paciente de um hospital psiquiátrico. Ele foi detido pela polícia após a ocorrência.

Entre as recomendações de segurança sugeridas por especialistas, estão orientar a criança a não falar sobre hábitos da casa com estranhos e não deixa-las, nem por instantes, com desconhecidos. 

Fonte: Folha de São Paulo

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