Apesar do templo nublado, Adeniz Freire criou coragem e entrou no mar pela primeira vez aos 81 anos, nesta quinta-feira (29), em Caraguatatuba, no litoral de São Paulo. A realização do sonho foi
Os funcionários contaram com a ajuda de uma boia para colocar Freire na água porque ele sofreu um AVC e tem dificuldade para se movimentar. O aposentado contou que tinha visto o mar uma vez, mas na ocasião não pode dar um mergulho. "Eu senti a água salgada na boca! Até que é gostoso. Eu estou muito feliz em poder sentir isso. A água faz bem pra gente e nunca vou me esquecer desse dia. Hoje eu durmo mais feliz!”, disse ao G1.
Gabriela Barbosa, enfermeira-chefe do asilo, explica que foram dois meses de preparo para o passeio. “Nós pensamos muito em toda a estrutura que seria preciso. Muitos idosos usam fraldas. Tivemos que pensar em água, em protetor solar também porque muitos têm a pele clarinha e, claro, nos remédios.”
Benedito Caetano, morador de asilo de Guararema, fica impressionado com a imensidão do mar (Foto: Maiara Barbosa/G1)
Aos 79 anos, Benedito Caetano Gonçalves foi o primeiro a descer e caminhou apressadamente à frente do grupo para pisar na areia. Era a primeira vez que via o mar. “O pé está afundando, escorrega um pouco por conta da areia, né? Eu não sabia que afundava.”
Nivaldo assim que chegou, já vestiu sua sunga e deu um mergulho no mar. “Deus é maravilhoso! Olha tudo isso aqui que ele fez pra gente”.
Um dos idosos, que sofre de Alzheimer, foi o que mais gostou da praia. Apesar de não querer saber de conversa, ele passou boa parte do passeio caminhando no mar. Mesmo com roupas, ficou com água até o joelho, ao lado de um monitor.
Viagem
De manhã, os idosos estavam animados e ansiosos para a viagem. Benedito Francisco Cuba, de 72 anos, também não conhecia o mar e perguntava aos voluntários do asilo quando iam servir o seu café para embarcar logo no ônibus. “Eu acho que a praia deve ser um lugar bem grande”, comenta.
O presidente do Lar dos Velhinhos São Vicente de Paula, Jesus Carlos da Silva, explica que esta é a segunda viagem do grupo. “Nós sempre fazemos passeios aqui por perto com eles. Às vezes, eles mesmos ficam sabendo de alguma festa religiosa e ficam cobrando a gente que querem ir. Ano passado nós tivemos a ideia de levá-los para Aparecida. Nesse ano, sabendo que o seu Caetano não conhecia o mar, tivemos a ideia de levar todo o grupo.”
Em um ônibus, 19 idosos, entre eles sete cadeirantes e um acamado, seguiram rumo a Caraguatatuba. Amigos e empresários de Guararema dividiram entre si as despesas.
Maria da Glória de Souza tem apenas 54 anos, mas sofreu um derrame. Desde 2002 vive no asilo e neste ano ela ganhou uma cadeira adaptada. Antes, vivia só na cama. Apesar da fala comprometida, sua felicidade contagia a todos. “Eu estou feliz, eu estou ansiosa”, disse.
Mas Glorinha, como é conhecida, quase teve que ficar para trás. Sua cadeira não passava na entrada da porta. No momento em que ouviu os comentários de que ficaria, ficou entristecida. Os voluntários, vendo a sua reação, se organizaram e a levaram para dentro do ônibus no colo.
Presidente do asilo, Jesus Carlos, decide levar Maria da Glória para dentro do ônibus no colo (Foto: Maiara Barbosa/ G1)
A atitude emocionou uma segurança que acompanha o grupo. “É coisa do outro mundo esse amor que eles sentem por esses idosos. É uma ajuda de verdade, uma confiança e um carinho que não dá pra explicar. A gente que trabalha em uma área difícil, fica emocionada ao ver essa demonstração de sentimento”, diz Ariane Cruz.
A viagem durou mais de uma hora e meia e, igual aos grupos de crianças quando saem em excursão, muitos perguntavam se “faltava muito para chegar”.
Outra pessoa que estava muito ansiosa era Nivaldo Pereira. Aos 65 anos, depois de deixar a Bahia para vir trabalhar em São Paulo, nunca mais tinha visto o mar. “Já faz 35 anos que eu não vou à praia. Quando eu estava lá na Bahia, eu sempre ia porque era pertinho. Quando vim pra cá, eu tinha que trabalhar e a vida aqui é muito difícil.” Quando foi questionado se entraria no mar, foi categórico ao responder: “mas é claro!”
As enfermeiras do asilo pintaram a unha de Lídia Souza, de 68 anos, especialmente para a viagem. Helena Soares escolheu um vestido novo. Os preparativos valeram a pena. Logo depois de molhar os pés, as duas sentaram em cadeiras e admiraram a imensidão do mar.
Lídia e Helena descansam juntas na areia da praia. (Foto: Maiara Barbosa/G1)
Fonte: G1
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