sábado, fevereiro 07, 2015

O último sincero. Anderson fala de depressão, 'traição' e recomeço no Inter

Anderson promete respeito eterno ao Grêmio, mas quer 'dois ou três títulos' no InterAnderson é um exemplar raro no atual mundo do futebol. Livre das amarras do politicamente correto, o meia despacha boca afora o que
pensa. A sinceridade do novo camisa 8 do Internacional ajuda a explicar como um herói do Grêmio voltou a Porto Alegre do outro lado. Nas palavras dele, o antigo rival deu carinho e abriu as portas para o recomeço da carreira. A saída do Manchester United é um dos poucos temas que é driblado, mas ainda assim ele dispara que não precisa provar e que pode voltar a encantar.

Em entrevista ao UOL Esporte, Anderson também trata sobre os últimos dias na Inglaterra, nega ter entrado em depressão e promete respeito eterno ao Grêmio, sua primeira casa como jogador e agora arquirrival. A sinceridade do meia transparece mais ao falar sobre o dinheiro que já ganhou e o Bom Senso FC - desconhecido até então por ele, mas apoiado de imediato. Confira a entrevista completa:

UOL Esporte: Como está sendo a recepção na cidade desde que você voltou? Tem muito gremista irritando, muita gente te parando nas ruas?

Anderson: Não estão me parando muito, eu venho para cá nas férias há anos e aí não tem diferença. Estou procurando dar atenção para as minhas filhas, ficar perto, quando estava na Inglaterra cheguei ao ponto de ver elas só quatro vezes em um ano. Alguns param, com a maioria não tive problemas e ouvi boa sorte. Isso motiva para voltar bem. Os gremistas ficam triste, perguntam o porquê e sempre tem um (irritado). Mas eles acabam entendendo que é do futebol, normal.

O que de fato fez você querer voltar para o Brasil? E mais especificamente para Porto Alegre, porque você inclusive topou vir para o Inter.

O presidente me procurou, ligou várias vezes perguntando como eu estava, me deu carinho. Perguntou se eu queria vir para o Inter e falei que sim, claro. E falei com toda minha família, passei 10 anos fora e era hora de voltar. Ficar perto da minha mãe, uma senhora de idade já, das minhas famílias (três meninas e mais um menino, com 1 ano).

UOL Esporte: Você citou aí uma palavra: carinho. Faltou isso nessa reta final de passagem pela Europa?

Anderson: Não, a torcida do Manchester sempre gostou de mim e me deu carinho. Mas acho, na realidade, que era o momento. Ganhei tudo lá e agora surgem novos objetivos, em um novo clube. Uma nova história para ser escrita.

Além desse Anderson pai de família, campeão dos títulos todos com o Manchester, o que mais você traz na bagagem? Como você volta?

Eu volto com muita vontade, com muita alegria. Com muita responsabilidade. Temos cinco campeonatos e espero conquistar pelo menos dois ou três. Faz tempo que o Inter não ganha um Brasileirão, a Libertadores é superimportante. Todo clube por onde passei procurei ganhar.

UOL Esporte: Quando a gente começou a noticiar sua negociação com o Inter duas visões surgiram. Uma encarando como um grande negócio, pela sua qualidade técnica. Outra lembrando os números das duas últimas temporadas na Europa e pegando os relatos de falta de comprometimento. É uma aposta esse negócio?

Anderson: Não preciso provar nada para ninguém. Não preciso. Já ganhei de tudo, minha qualidade segue a mesma e vocês todos conhecem. Agora eu estou bem fisicamente, estou feliz aqui. Contente demais. O grupo está me tratando super bem e em troca disso vou correr o máximo que puder no campo. Até onde eu não puder mais.

Você teve depressão na Inglaterra?

Não... (rápida pausa) Não. Não sou pessoa de ter depressão por não jogar futebol. É uma escolha do treinador, tenho que respeitar sempre. Apesar de ter estado bem, não fui escolhido pelos dois técnicos que estavam lá. O jogador está feliz quando está jogando, todo mundo sabe. Agora eu estou feliz, estou contente. Aí as coisas saem naturalmente, rola uma motivação maior. Agora tenho a família do lado, mesmo se perder vou ter minha família para abraçar. Sou um cara sempre alegre.

UOL Esporte: Depois de 10 anos fora você consegue notar alguma diferença no futebol brasileiro? Velocidade do jogo, algo assim.

Anderson: Sim, o futebol brasileiro mudou muito. Dizem que é lento, mas aqui qualquer um pode diblar (sic). Tanto na defesa como atacante. É um futebol completamente diferente da Europa mesmo, lá é muito intenso. E lá na Inglaterra só termina aos 90 mesmo, aqui depois de 2 a 0 pode mudar o ritmo. Mas lá eu já cansei de estar perdendo por dois ou três gols e virar no final.

Nesse tempo que você ficou fora, os jogadores brasileiros se organizaram e criaram o Bom Senso FC. Se convidarem, você participa?

Como assim Bom Senso?  Desculpa...

É um movimento que busca regular o número de jogos de uma temporada, luta pelo Fair Play financeiro com os clubes.

Entendi... A CBF precisa se organizar, primeiro de tudo. No Campeonato Inglês o clube perde pontos se atrasar salários. Os clubes precisam se organizar bem também, a CBF se preocupa com muitas coisas e acaba deixando o jogador desamparado. Tem jogador que realmente precisa do salário, mesmo sendo mínimo. A própria Fifa tem que começar a chegar junto na CBF. Esse negócio está acontecendo demais aqui e nosso campeonato tem tudo para ser de alto nível. O Brasil parou no tempo recentemente, pararam de surgir vários jogadores. Antigamente surgiam Ronaldo, Rivaldo, Romário. Agora é Neymar e Lucas, nada além de um a cada dois ou três anos. E outra, hoje o jogador com 16 anos já quer ir embora para Europa por saber que os clubes podem não pagar aqui. Claro, alguns (clubes) conseguem isso (pagar em dia). É o caso do São Paulo, Cruzeiro, Inter. Uns quatro ou cinco organizados. A CBF tem culpa nisso, é preciso sentar e conversar.

UOL Esporte: A pergunta que todos se fazem é se você ainda pode ser o de antes. Se você ainda tem a vontade de seguir jogando...

Anderson: Tenho vontade, claro que tenho vontade. Se eu ganhar um Brasileirão ou uma Libertadores com certeza fico na história do Inter. E esse é meu objetivo, esse clube aqui é grande e me surpreendeu muito. Quero ficar na história do Inter. E se isso acontecer, ok, vamos sentar e conversar com a minha família e acabar minha carreira. E contar os títulos que eu conquistei...

Como está sendo o contato com o D'Alessandro?

Está sendo ótimo, não só com ele. Todo mundo está me ajudando, 'ó, Anderson, é isso'. Conversei com todos, com a diretoria e comissão técnica. Todos estão de parabéns, o grupo é bem fechado e os jogadores sabem o que querem. O D'Alessandro, como vou dizer... É um líder que sabe ser líder. Vai dar a dura no cara na hora que tiver que dar dura, vai ajudar depois. Futebol é isso, ele é experiente.

UOL Esporte: Você já conseguiu fazer o famoso pé-de-meia depois de tantos anos na Europa?

Anderson: Olha, tenho uma vida confortável. Hoje em dia nunca se sabe, não é? Pode acontecer, sei lá, muita coisa e do dia para noite se perde, sei lá, 10 milhões ou 15 milhões. Faz parte do futebol isso daí também. Tenho minha casa em Portugal, outra na Inglaterra e uma vida confortável. O mais importante é que minha mãe, minhas filhas e meus irmãos tenham uma vida boa. Eu posso ficar só com meu chinelinho de dedo, vivo bem assim. Ganhei dinheiro desde os 15 anos, claro que se pensa 'pô, podia ter guardado um pouquinho mais'. Mas se tu não gastar um pouquinho contigo, meu velho, se não curtir a vida do que jeito que dá não vai levar para o caixão. Agora eu tenho quatro filhos, três meninas e um menino, e primeiro penso neles. Antigamente eu pensava em antes. Estou aprendendo a estar com minhas famílias.

Até quando você vai jogar futebol?

Se eu pudesse, jogava até os 100. Mas falando sério, uma carreira como do Juan e do Dida será ótimo. Eles são jogadores que conquistaram muito, passaram pela seleção, venceram sempre.

UOL Esporte: O presidente do Grêmio confirmou que a sua imagem no painel da Arena, no túnel de acesso ao gramado, não será alterada. Vai ficar lá. Nas palavras dele, o que foi feito não se apaga. Mas invariavelmente você vai jogar um Gre-Nal lá, vai passar pela imagem vestindo a camisa do Inter. Vai ser estranho, não?

Anderson: Não vai ser estranho. Eu respeito o Grêmio, entrei pela porta da frente e sai pela porta da frente de lá. Todo mundo sabe disso e quem jogou comigo naquele tempo sabe. Deixei uma história legal, nunca falei algo de errado e não vou falar do clube agora que estou no Internacional. Agradeço a eles assim como eles agradecem a mim. Ponto final. Agora estou desse lado e vou correr por esse lado. Entre ver a minha mãe chorando ou a deles, sempre a deles, né, cara?

Fonte: Uol

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