domingo, agosto 25, 2013

Sem chuva, preço do mel de Jandaíra dispara, mas não há produto no mercado

Pequenas e delicadas, as abelhas de jandaíra foram durante muito tempo uma fonte de renda extra para o município e Jandaíra, localizado na microrregião de Mato Grande, no Rio Grande do Norte. Praticamente não existia casa na cidade ou na zona rural em que não houvesse pelo menos uma colmeia dessas abelhinhas no quintal. Agora, porém, é difícil encontrar, até mesmo, as abelhas. Mais uma das marcas que a seca deixou e que ainda está no interior do Estado.

A triste realidade foi constatada in loco pelo portalnoar.com em viagem ao município de Jandaíra. Para se ter uma ideia, são cerca de 20 criadores que hoje ainda têm a abelhinha em casa. Nenhum deles consegue produzir o cobiçado mel. “Hoje, estamos tendo dificuldade até para manter as abelhas vivas. A seca está grande não há flor. Sem isso, elas não produzem cera e não tem como se alimentar. É uma pena, mas é a realidade”, afirmou João Batista Joaquim do Nascimento, conhecido como João Bigodão.

Experiente na criação de abelhas de Jandaíra, João Bigodão não se lembra de nenhum momento tão difícil para os apicultores do município. “Quando a produção estava baixa, o litro saia por uns R$ 100, mas sempre vendia por, no máximo, R$ 70. Isso dava uma renda extra de R$ 1,8 mil por mês. Como faz quase dois anos que não produzimos nada, ninguém está tendo renda nenhuma e ainda trabalhando, zelando, paras as abelhas não morrerem”, revelou João Bigodão, que tem como “renda principal” o salário que ganha pelo trabalho em uma fazenda da região.

A situação de João Bigodão é consequência, segundo ele, em dois fatores principais: a falta de planejamento para a atividade econômica e a dificuldade que é a criação da abelha de Jandaíra. “Ela (abelha) não dá com qualquer planta. É um bichinho difícil, complicado, não é igual às de fora, a italiana, a africana. Só dá em plantas nativas, como calumbi, sajadeira. Só na época de flora dessas plantas que ela produz o mel. Talvez se tivesse um investimento em irrigação, não sei. Mas seria um investimento alto de qualquer forma para uma cidade do porte de Jandaíra”, comentou o apicultor nas horas vagas.

Vereador Reginaldo Dantas também cria as abelhas de jandaíra (Foto: Ciro Marques)
O planejamento, segundo João, é feito por cada um dos criadores. Ele, por exemplo, tenta fazer um rodizio da cera para que as abelhas, pelo menos, tenham o que se alimentar no período de seca. Com mais de 70 colmeias (cada uma tem, num período bom, até três “safras” por ano) no quintal de casa, isso é possível para ela, mas não para todos. “Sei que teve muita gente que perdeu as abelhas nesse período. Sou a favor da criação de um banco de cera, para a gente poder armazenar lá no período de grande produção e depois, nos de baixa, ficar retirando para, pelo menos alimentar as abelhas”, defendeu.

E pensar que há alguns anos, quando a produção do mel de Jandaíra estava em um bom momento, o produto era uma das mais populares do Rio Grande do Norte. “Teve um tempo que eu vendia mel de Jandaíra para muitos deputados potiguares. Eles adoravam e a gente tinha uma pequena produção em casa. Ainda temos, mas assim como a criação de João Bigodão, a da minha família está difícil. Só dá mesmo para mantê-las vivas”, afirmou o vereador do município, Reginaldo Dantas.

Colmeia onde o mel de jandaíra é produzido (Foto: Ciro Marques)
Segundo ele, a criação de abelha ainda é feita nas comunidades de Arueira, Tubibal, Guarapes e Cabeço, mas não há produção comercial significativa. “A produção de mel não deixou ninguém rico, mas funcionou como uma renda extra significativa aqui em Jandaíra. Muitas famílias encontraram na produção de mel um complemento importante, até porque não demanda muito tempo ou investimento”, explicou Reginaldo.

O trabalho, realmente, não é tão grande. Segundo João Bigodão, com um trabalho de, aproximadamente, 5 minutos diários, é possível resolver tudo. “Só limpo as colmeias, faço um rodizio na cera, cuido para não aparecer aranha ou lagartixas que se alimentam da abelha e pronto. É o suficiente. Não é preciso mais do que isso. Na época da produção, era só isso e ter o trabalho, depois, de tirar o mel”, contou Bigodão.

Mel só tem sido suficiente para alimentar as próprias abelhas e não para o comércio (Foto: Ciro Marques)


Reprodução Cidade News Itaú

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