domingo, abril 07, 2013

Irmã de extrativista assassinada vai a Brasília pedir proteção e se diz "marcada para morrer"


Integrante de uma lista elaborada pela CPT (Comissão Pastoral da Terra, órgão vinculado à Igreja Católica) com 38 nomes de agricultores ameaçados de morte no sul e no sudeste do Pará, a professora Laísa Santos Sampaio, 47, prevê uma vida ainda mais angustiante daqui para frente. Integrante de uma lista elaborada pela CPT (Comissão Pastoral da Terra, órgão vinculado à Igreja Católica) com 38 nomes de agricultores ameaçados de morte no sul e no sudeste do Pará, a professora Laísa Santos Sampaio, 47, prevê uma vida ainda mais angustiante daqui para frente.

Na última quinta-feira (4), ela deixou o Fórum de Marabá amparada por amigos, após o júri popular absolver José Rodrigues da acusação de ter sido o mandante do assassinato do casal de extrativistas Maria do Espírito Santo (sua irmã) e José Claudio. "O resultado foi para mim como um terceiro sepultamento. Além das mortes de José Claudio e de Maria, eu morri também", disse.

Em contrapartida, os sete jurados condenaram os dois autores materiais do crime: Lindonjonson Silva Rocha foi condenado a 42 anos e oitos meses e Alberto Lopes do Nascimento a 45 anos de prisão.

Os dois condenados já estão detidos desde setembro de 2011, enquanto o réu absolvido --que também estava detido-- agora está livre e voltou para o assentamento Para Alta-Piranheira, local onde retomam o convívio a irmã da vítima e o acusado de planejar o homicídio.

Ameaçada de morte, sem apoio governamental para segurança e hostilizada por boa parte dos moradores do assentamento onde vive, Laísa embarcou para Brasília nesta sexta-feira (5), um dia após o júri popular. O medo dela aumentou depois do júri, já que ela prestou depoimento de acusação, citando as ameaças que o casal sofria de Rodrigues e as disputas que travavam no assentamento.

Ao lado de representantes da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, que custeiam a viagem, a professora assentada vai pedir garantias de vida e tentar manter a luta pela defesa da Floresta Amazônica no local onde vive.

Ainda no aeroporto da capital federal, em sua chegada à noite, Laísa conversou com o UOL e pediu para falar sobre a situação que enfrenta no interior paraense. Contou também sobre as ameaças de morte, do medo que sente de José Rodrigues, da falta de ação estatal em seu apoio e do trabalho educacional que desenvolve na região.

Retorno temeroso

Quando retornar ao Pará, na próxima semana, Laísa terá de conviver diariamente com o suposto mandante da morte de sua irmã e de seu cunhado. "Para ele [José Rodrigues] ir para o lote que o Incra deu a ele, tem que passar na minha casa primeiro. Para ir para a cidade, ele terá que passar em frente à minha escola todos os dias. Imagina a minha situação num contexto desse. Antes ele não tinha motivo para me odiar, e agora imagina, depois do que falei frente a frente. É uma pessoa perigosa, impiedosa", explica, citando que, mesmo assim, não tem pretensão de deixar o Pará.

"Não é justo que porque ele [José Rodrigues] voltou para lá, eu tenha de sair porque não tenho segurança. Preciso de ação para essa nossa luta", disse a professora.

Laísa não esconde que se sente ameaçada e diz que está marcada para morrer. Inclusa desde o ano passado no programa de proteção de testemunhas da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência, ela conta que já recebeu "recados" e um bilhete a ameaçando.

Pela tensão gerada no local, hoje, para sair do assentamento, Laísa precisa informar a polícia, que tenta acompanhar seus passos. Todos os demais familiares do casal morto deixaram o assentamento após o crime, com medo de passar a integrar a lista de ameaçados.

Laísa cita que conta com o apoio mais direto da CPT e da Anistia Internacional, que veem com apreensão a situação de Sampaio em meio a um ambiente que, agora, deve se tornar ainda mais hostil.

"Nos preocupa muito agora a situação a Laísa. Com o julgamento, a situação de ameaças e dificuldades dela aumentam, e vamos acompanhar a situação", disse Átila Roque, diretor da organização no Brasil e que promete montar uma expedição para visitar Nova Ipixuna nas próximas semanas.

O promotor Danyllo Pompeu Colares também afirmou que o desfecho do julgamento deixou os familiares das vítimas ainda mais vulneráveis. "O resto da família fica inteira ameaçada com essa decisão. Eles ficam jogados à própria sorte", lamentou.

Segundo a Secretaria de Direitos Humanos, a semana deverá ser de reuniões e encontros com outras autoridades para conhecer mais de perto a realidade e garantir medidas protetivas efetivas à ameaçada. Missões no assentamento também devem ser realizadas.

Reprodução Cidade News Itaú

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