sexta-feira, janeiro 06, 2012

Quase 20 vítimas já se apresentaram

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Quase 20 pessoas já procuraram a Delegacia de Polícia Civil de Apodi, cidade distante cerca de 80 km de Mossoró, para denunciar o curandeiro Iranilson Santos da Nóbrega, que tem 23 anos e se identificava como "Guardião Ogum". O jovem está preso desde quarta-feira passada sob acusação de curandeirismo e estelionato. Os golpes aplicados por ele podem chegar a casa dos R$ 100 mil. Cada vítima pagava aproximadamente R$ 600,00.
A maior parte das pessoas que procuraram a Delegacia de Apodi para registrar queixa dos golpes tem um perfil semelhante, segundo o delegado Renato Oliveira da Silva, responsável pela investigação do curandeiro. "São pessoas bastante humildes e com pouca instrução", resume o policial, ressaltando que muitas vítimas vendiam objetos pessoais ou animais para conseguir o dinheiro e pagar pela falsa consulta espiritual.
Uma das vítimas, conta Renato, chegou a vender a única vaca que tinha em seu sítio para arrecadar o dinheiro e pagar pela consulta. Os valores pagos variavam de acordo com cada "consulta". Segundo Renato, dependendo do poder aquisitivo, a cobrança era mais alta.
O agricultor Edilson Fernandes Dias, que mora no Sítio Santa Cruz, contou à Polícia Civil que pagou R$ 600,00, enquanto o servente Francisco Erinaldo pagou R$ 650,00. Já são aproximadamente 20 vítimas identificadas pela Polícia.
Para Renato Oliveira, o número de pessoas lesionadas pelo curandeiro pode ser ainda maior. O suspeito estava atuando em Apodi há aproximadamente 45 dias, quando alugou um prédio no município e montou um "escritório".
O golpe se espalhou rapidamente porque o suspeito utilizou duas emissoras de rádio da cidade para divulgar seu "trabalho". "Ele usou o rádio para atrair as pessoas", explica.
Renato diz esperar que a prisão do suspeito e a divulgação de suas imagens ajudem a identificar outros crimes cometidos por ele. A suspeita é que pessoas de outras cidades da região, inclusive de outros Estados, tenham sido lesadas.
Iranilson Santos é natural de Cajazeiras, cidade situada no Alto Sertão da Paraíba. Essa é a primeira vez que ele é preso, mas o delegado acredita que o jovem já vinha aplicando o mesmo golpe há muito tempo.
O suspeito continua detido no Centro de Detenção Provisória (CDP) de Apodi, que funciona improvisadamente na Delegacia de Polícia da cidade.
Ele foi autuado em flagrante por curandeirismo, crime previsto no Código Penal Brasileiro, e por estelionato. Como ele é réu primário (preso pela primeira vez), em poucos dias deverá ser posto em liberdade.
Esse pequeno tempo na prisão inclusive é motivo de preocupação para a Polícia. O delegado Renato Oliveira adianta temer que o suspeito, ao ser posto em liberdade, volte a fazer novas vítimas. Para o policial, o jovem deverá escolher outra cidade, longe de Apodi.

Suspeito abusava da crença das vítimas
O curandeirismo é uma prática extremamente antiga no Brasil. A principal arma desses charlatães é a fé das vítimas.
Segundo o delegado Renato Oliveira, que fez a investigação, algumas vítimas estavam com problemas sérios e resolveram buscar nele uma alternativa.
"Eram pessoas que tinham problemas de saúde na família, alguns até sem solução médica, e tentam no curandeirismo uma última saída", esclarece.
O curandeirismo é uma técnica na qual o praticante afirma ter o poder de curar, quer recorrendo a forças misteriosas de que pretensamente disporia, quer pela pretendida colaboração regular de deuses, espíritos de mortos etc. que lhe serviriam ou ele dominaria.
O curandeirismo, segundo previsto no Código Penal Brasileiro, é a prática de prescrever, ministrar ou aplicar, habitualmente, qualquer substância, bem como usar gestos, palavras ou qualquer outro meio (não inserido na prática médica) para cura ou fazer diagnósticos sem ter habilitação médica. No Brasil, este tipo de crime está previsto no artigo 284 do Código Penal Brasileiro (CPB).
A pena prevista na legislação brasileira é de seis meses a dois anos, podendo ainda haver uma multa se o suspeito cobrar algum tipo de dinheiro.
Além do crime de curandeirismo, o jovem foi autuado também por estelionato, crime previsto no artigo 171 do CPB. A prática caracteriza-se quando alguém obtém para si ou para outro, vantagem ilícita, em prejuízo de terceiros. Pode ser através da indução ou mantendo a vítima no erro, utilizando-se de artifícios ou alguma fraude.
A pena para esse tipo de crime é mais severa do que o curandeirismo. O réu pode ficar de um a cinco anos preso.

Fonte: Defato

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