sexta-feira, janeiro 20, 2012

PM manda investigar venda de cartelas

O Comando-Geral da Polícia Militar no Rio Grande do Norte determinou a abertura de um procedimento administrativo interno para investigar a venda de bingos a comerciantes e empresários pelas entidades que representam categorias da Polícia Militar potiguar. A suspeita é que essas associações estejam usando o nome da instituição indevidamente, além de sua estrutura, para "forçar" a compra de bingos beneficentes. A denúncia feita por comerciantes foi publicada pelo DE FATO na terça-feira passada.
O coronel Francisco Reinaldo de Lima, responsável pelo Comando de Policiamento do Interior (CPI) da Polícia Militar, será o responsável pela investigação. Segundo o comandante-geral da PM, coronel Francisco Araújo Silva, a denúncia é grave. Ele foi informado sobre as queixas dos comerciantes de Mossoró através do DE FATO e decidiu mandar investigar o caso. Ele reforça que a utilização da estrutura da PM, bem como o nome da instituição com fins particulares, é um crime e todos os envolvidos serão punidos (caso seja comprovado). O processo pode durar 30 dias.
Araújo explica que os policiais que representam a Associação dos Cabos e Soldados (ACS) da Polícia Militar, sediada em Natal, serão ouvidos na investigação. A dificuldade maior, explica Araújo, é conseguir identificar possíveis vítimas e fazer que elas prestem depoimento. Ele reconhece que muitas pessoas têm medo de falar quando o assunto envolve crimes cometidos por membros de forças policiais. No entanto, Araújo mostrou-se otimista com o procedimento e fez questão de ressaltar que a PM potiguar não admite esse tipo de comportamento. "Isso é crime", frisou o comandante.
A sindicância foi aberta após matéria publicada no DE FATO na edição de terça-feira passada, 17. Dois comerciantes foram ouvidos pela reportagem e disseram que foram coagidos a contribuir com a Associação dos Cabos e Soldados (ACS) da Polícia Militar. Em dezembro, foi realizado um bingo pela ACS e as cartelas foram compradas por comerciantes, empresários e populares de várias cidades potiguares. Cada cartela custava R$ 100,00. Foram sorteados dois prêmios: uma moto e uma televisão. Os dois comerciantes disseram que só contribuíram porque se sentiram pressionados a comprar.
Ambos disseram à reportagem que resolveram comprar uma cartela para ajudar, mas foram "forçados" a gastar mais. O primeiro contato foi feito por telefone. Na hora da venda, um dos compradores disse que a negociação foi feita por um policial militar, armado, numa viatura da corporação. O acordo feito por telefone foi desrespeitado pelo policial, que quis vender três cartelas, ao invés de uma, totalizando R$ 300,00. Ao ser informado que só venderia uma, o policial demonstrou insatisfação e avisou que iria reportar o caso aos seus superiores. Assustado, o denunciante ficou com duas.

O OUTRO LADO
A Associação dos Cabos e Soldados da Polícia Militar do RN foi procurada pelo DE FATO para esclarecer as denúncias feitas pelos comerciantes mossoroenses. A diretoria negou que estivesse utilizando a estrutura da Polícia Militar ou que tivesse enganado os compradores. Eles dizem que a contribuição é voluntária e negam que haja algum tipo de pressão ou que ofereçam benefícios para quem contribuir. A ACS garante a legitimidade do bingo e que toda a verba é revertida para a entidade e seus sócios (os cabos e soldados).

Membro de associação é contra venda de bingos para arrecadar dinheiro
A venda de bingos para "ajudar" na reforma e abertura de novas regionais no interior do Estado é questionada até por quem faz parte da Associação dos Cabos e Soldados da PM.
Ontem à tarde, o cabo Heronildes manifestou-se contrário a esse tipo de procedimento através das redes sociais. Heronildes é autor de um blog bastante acessado pela categoria e também por populares, voltado principalmente para noticiar assuntos ligados à segurança norte-rio-grandense.
Em um dos primeiros comentários sobre o tema no Twitter (rede social de relacionamento pela Internet), ele republica a matéria do DE FATO veiculada terça-feira, 17.
Logo depois, Heronildes afirma: "Sou contra esse tipo de aquisição financeira", para logo em seguida completar: "Pois esse tipo de notícia me deixa bastante envergonhado!"
Cada associação (cabos e soldados da Polícia Militar do RN) tem a obrigação de contribuir com uma pequena quantia mensalmente, descontada em seu salário. O dinheiro é direcionado justamente para cobrir as despesas da Associação, que tem a responsabilidade de prestar total acompanhamento aos seus associados.
No caso de um policial militar membro da ACS ser acusado de um crime, por exemplo, a entidade tem a obrigação de dar assessoria jurídica, custeando a defesa do policial.
"A ACS não precisa vender cartelas para adquirir fundos, pois a contribuição do sócio é suficiente para manter a entidade", reclamou Heronildes.
A reportagem do DE FATO repercutiu nos blogs policiais e nas redes sociais desde quando foi publicada pela primeira vez. Na quarta-feira passada, a Associação dos Praças da Polícia Militar de Mossoró e Região (APRAM) divulgou uma nota em seu blog, esclarecendo que não tem ligação com a venda das cartelas que é feita pela associação de Natal.
A matéria foi reproduzida por inúmeros blogs da capital e também do interior do RN.
O assunto foi noticiado no blog soldado Gláucia, que, assim como o cabo Heronildes, tem bastante visitação e é voltado para assuntos ligados à Polícia e à segurança em geral.

Ironicamente, bingos são combatidos no RN
A maneira encontrada pela Associação dos Cabos e Soldados da Polícia Militar do RN para arrecadar mais dinheiro, além da contribuição dada pelos milhares de sócios, foi a aposta nos jogos de azar, que é proibido, de acordo com a legislação brasileira. O bingo é uma contravenção (como se fosse um crime mais simples).
Quando a prática é flagrada pelas forças policiais, os responsáveis são detidos e encaminhados para a delegacia, na qual é feito o procedimento. Por se tratar de uma contravenção, os proprietários dessas casas de jogos são ouvidos e liberados, mediante pagamento de fiança.
Em Mossoró, 36 pessoas foram presas em dezembro passado durante uma operação realizada pelas Polícias Rodoviária Federal, Civil e Ministério Público Estadual. Foram identificados pontos onde funcionavam bingos e jogo do bicho.
Tem sido comum, nos últimos meses, a realização de operações para combater os chamados jogos de azar tanto no interior quanto na capital.
No balanço que divulgou as ações realizadas em 2011, a Polícia Civil do RN ressaltou justamente as operações que fez contra esses jogos de azar.

Fonte: Defato

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