quarta-feira, janeiro 18, 2012

Comando da PM-RN não autoriza policiais pedirem dinheiro à sociedade

O Comando-Geral da Polícia Militar do Rio Grande do Norte é contra a utilização do nome da instituição para realização de eventos que objetivam arrecadar dinheiro junto a comerciantes e empresários. A orientação é que, ao ser abordado por um policial militar pedindo ajuda financeira, o cidadão não se deixe intimidar. Muitos contribuem sem entender qual a real finalidade. O dinheiro não é direcionado à Polícia Militar. Na verdade, o apurado vai para as associações, que são independentes da PM.
Em Mossoró, vários comerciantes e empresários compraram cartelas oferecidas pela Associação dos Cabos e Soldados (ASC) da PM. Um dos compradores (nome fictício), José Antônio (pediu para não ser identificado por temer sofrer alguma represália) disse ao DE FATO que comprou por acreditar que estaria ajudando a Polícia Militar e não uma instituição particular, como é o caso da ACS. O primeiro contato foi feito por telefone, em nome de um "oficial" - na ACS não existem oficiais, que são o alto escalão da corporação; são apenas cabos e soldados. Por telefone, Paulo aceitou ajudar.
Ele conta que se comprometeu a comprar uma cartela no valor de R$ 100,00, no entanto foi surpreendido por um policial que foi ao seu estabelecimento, usando farda, armamento e um carro da Polícia. "Ligaram me oferecendo uma cartela que era para esse bingo beneficente. Perguntaram se eu podia comprar. Disse que compraria uma e eles chegaram com três", relembra José Antônio, frisando que, ao se recusar a comprar as três, sentiu-se intimidado. O policial fez um gesto de desaprovação e disse que iria comunicar ao "oficial" que ele havia descumprido o acordo firmado pelo telefone.
Mesmo estando fora de suas possibilidades financeiras naquele momento, José Antônio comprou duas cartelas (R$ 200,00) para agradar o policial. "O que me levou a comprar foi que eles ligaram para mim como se fosse uma pessoa muito conhecida minha. Falou em nome da Polícia, que estava precisando de ajuda. Então pensei assim: se é para ajudar, eu vou comprar pelo menos uma. Eles queriam me obrigar a comprar três. Quando disse que só queria uma, ele se chateou comigo e disse que ia relatar ao oficial. Foi com um ar de quem estava com raiva e que eu estava descumprindo a palavra", conta.
Um outro comerciante ouvido pela reportagem (nome fictício), José Carlos, também passou pela mesma situação. Primeiro, recebeu uma ligação e disse que compraria uma cartela para "ajudar", sem saber ao certo para onde estaria dando sua contribuição. O policial que foi ao seu estabelecimento, assim como no caso de José Antônio, levou cartelas extras, além do que havia sido combinado pelo telefone. José Carlos afirma ter ficado preocupado com as consequências da sua "não contribuição", temendo ter o policiamento prejudicado em seu ponto, e acabou cedendo, comprando duas cartelas.

Associação garante legalidade nas ações
A Associação dos Cabos e Soldados (ACS) da Polícia Militar do Rio Grande do Norte garante que todas as ações realizadas pela instituição são amparadas legalmente pelas leis.
O cabo Queiroz, que é um dos diretores da ACS, afirma que os doadores recebem esclarecimento sobre os fins daquela arrecadação financeira. ‘Na cartela é informado que é da ACS e o pessoal explica como é realizado o sorteio’, explica o policial militar.
Queiroz acrescenta ainda que os comandantes dos Batalhões da PM no interior são avisados com antecedência sobre a realização desses sorteios.
"Só contribui quem quer; é uma ajuda", garante o diretor da Associação, reforçando que não é feita nenhuma promessa de favorecimento pessoal para quem resolva contribuir, tipo maior presença da Polícia Militar no estabelecimento do dono que tenha participado.
"A pessoa faz uma doação e em troca participa do sorteio", destaca Queiroz, lembrando que já houve empresas premiadas em Mossoró noutros sorteios realizados pela entidade.
Queiroz lembra ainda que a cartela entregue aos doadores contém todas as informações necessárias. No panfleto, não existe realmente nenhuma alusão à Polícia Militar, em específico. Eles afirmam que o dinheiro será revertido "na reforma e abertura de novas regionais no interior do Estado".
O último sorteio foi feito no dia 11 de dezembro do ano passado, data que foi comemorado o aniversário da ACS, em Natal. A associação fica na Avenida Prudente de Morais, 5130, Lagoa Nova, Natal.

PM não tem ligação com as instituições
Segundo o coronel Francisco Araújo Silva, comandante-geral da Polícia Militar no Rio Grande do Norte, não existe nenhuma queixa formal contra a realização das atividades que objetivam arrecadar dinheiro feitas pelas associações que representam classes da Polícia Militar.
No entanto, ele faz questão de deixar bem claro que essa doação não irá ajudar a instituição, como muitos colaboradores acreditam ao participar dos eventos. "A Polícia Militar do Rio Grande do Norte desconhece qualquer atividade dessa natureza. Se está sendo feito algo em nome da PM, não é permitido. Não temos nenhuma gestão sobre esse dinheiro e não sabemos para onde ele vai."
De acordo com Araújo, caso os policiais que integram essas associações estejam utilizando o nome da corporação ou até mesmo a estrutura (farda, armamento, viatura, etc.), serão responsabilizados através de procedimento administrativo interno e investigação criminal, já que cometem crime.
"Se alguém usa o nome da Polícia Militar ilicitamente, não é a instituição. A Associação de Cabos e Soldados é uma entidade privada que não tem vínculo com a Polícia Militar. Para ser sócio, tem de pagar. A PM não tem gestão sobre essa entidade", esclarece o coronel.
Araújo afirmou ontem à tarde que o Comando-Geral da PM/RN desconhecia a utilização da estrutura da corporação por integrantes das associações e que será aberto um procedimento para investigar o caso.
"Estamos tomando conhecimento agora. Se estão usando viatura para fazer esse tipo serviço não é permitido. Será feita uma investigação", diz Araújo.

Fonte: Defato

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