domingo, novembro 20, 2011

Inovação na economia potiguar


Necessidade, diz o dicionário, é o que não se pode evitar, aquilo que é imprescindível. E foi talvez diante dessa vontade- muitas vezes incontrolável - de fazer algo para solucionar um problema que o Algodão Névoa, uma pequena indústria de algodão hidrófilo instalada no município de Parnamirim (RN), resolveu inovar. Mas como toda grande missão exige um bom obstáculo, a empresa se deparou com uma possibilidade rapidamente descartada: importar um equipamento que inviabilizaria totalmente o projeto devido ao alto custo. A solução? Inventar novas máquinas que reformulassem seu processo e garantissem o resultado esperado.

Após ser patenteado, o equipamento poderá servir inclusive de exemplo para outras indústrias do país. Apesar de positiva, a iniciativa de inovação é uma gota no oceano de negócios brasileiros que apostam nesse tipo de ação. Um estudo realizado pela Confederação da Indústria da Índia, em parceria com a escola de negócios Insead e Wipo (siglaem inglês da Organização Mundial de Propriedade Intelectual) mostra que o Brasil ocupa a 47ª posição no ranking dos 125 países mais inovadores do mundo. O resultado é positivo em uma escala planetária, mas ruim se comparado a alguns vizinhos da América Latina e o Caribe: o Chile lidera a lista, seguido pela Costa Rica.

Assim como no resto do país, o Rio Grande do Norte também apresenta seus entraves. Segundo dados do Cadastro Empresarial do Estado, raio-x elaborado pelo Sebrae RN em 2010, 93% dos empreendimentos informais potiguares sequer usam internet em seu trabalho. Em um detalhamento por setores a porcentagem dos que desenvolveram novos produtos ou processos nos dois anos anteriores não passa de 40% (veja gráfico). Para os formais, a situação é inversa e a maior parte aplica inovação. Porém, a informalidade mostra um retrato mais fiel do estado porque, de acordo com a mesma pesquisa, ela ainda atinge mais de 60% das empresas.

Alheios a esses números, os empresários Ricardo e Fabrício Pinheiro - pai e filho, respectivamente, e diretores do Algodão Névoa - decidiram que precisavam melhorar sua atuação. A empresa tem 30 anos de trabalho no beneficiamento do algodão hidrófilo, vendido em farmácias e muito utilizado por profissionais de saúde e estética. A produção, que chega a 35 toneladas por mês, é diferenciada e complexa. Uma simples mudança climática obriga ajustes às máquinas para que o produto saia adequado. De tão minucioso, grandes indústrias chegam a terceirizar o serviço com as pequenas, comprando apenas o material pronto para embalar.

Líder nas regiões Norte e Nordeste, o Algodão Névoa atende também Sudeste e Sul há aproximadamente 10 anos. A alta demanda e exigência desse mercado, no entanto, era um entrave: não era possível atender com a mesma quantidade e eficiência todas as áreas. Foi após uma consultoria do programa Sebraetec, no ano passado, que os empresários chegaram à conclusão de que precisariam aplicar inovações tecnológicas na fábrica, caso quisessem atingir seus objetivos.

Como a indústria de algodão hidrófilo tem um mercado muito pequeno (Fabrício estima que existem apenas oito empresas como a Névoa no Brasil), apenas um fornecedor em um único lugar do mundo, a Itália, teria os equipamentos necessários para melhorar a automatização. O custo altíssimo não permitiria a aquisição pelo empreendimento norte riograndense. Foi então que consultores do Sebrae RN, junto com a equipe mecânica da fábrica, começaram a desenvolver um sistema, cujos primeiros protótipos já estão em funcionamento. O trabalho também foi financiado com recursos do governo federal.

Os novos equipamentos reduziram o desperdício entre 30% e 40%. Diminuindo também o esforço humano, a Névoa também tornou o produto mais higienizado e padronizado. A economia com a operação inovadora foi de 90% do total estimado pelos empresários tendo em vista que foram adaptadas as estruturas já existentes e novas peças foram produzidas no próprio país - algumas até mesmo dentro da fábrica. Com o início do funcionamento de uma nova máquina no próximo mês, eles acreditam que a produção poderá dobrar. "Diante das dificuldades, somos forçados a pensar em como sair da situação. Esse grande feito foi possível porque juntamos para encontrar a solução", afirma Ricardo. Se a necessidade é a mãe da invenção, nesse caso, foi ela que sem dúvida deu à luz os bons resultados.

Fonte: DN

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