quarta-feira, agosto 02, 2023

Refinaria Clara Camarão no RN tem a gasolina mais cara do País

Com os sucessivos aumentos no mês de julho, a refinaria Clara Camarão, no Rio Grande do Norte, vendida pela Petrobras à 3R Petroleum, apresentou o maior preço da gasolina de todo o país, cobrado às revendedoras.  Enquanto o litro da gasolina da Petrobras está custando R$ 2,52 para a revenda, a 3R está vendendo a R$ 3,20. A diferença é de 26,98%. Nas refinarias privatizadas a média é R$ 3,10. Os dados foram divulgados pelo Observatório Social do Petróleo (OSP) e o impacto do preço ainda não chegou às bombas.


Adriano Abreu
Nos postos, constata-se que as altas aplicadas no preço da gasolina para a revenda ainda não foram repassadas ao consumidor


A 3R passou a controlar a refinaria em Guamaré a partir de 7 de junho, mês em que promoveu pequenas reduções nos preços (-10%), oposto ao que ocorreu em julho, quando a alta ficou em 22% dentro do mês.


Pelos postos de combustíveis de Natal, os preços estão variando. É possível encontrar estabelecimentos com condições de pagamento promocionais fazendo o preço do litro da gasolina variar de R$ 5,30 até R$ 5,89. “A revenda ainda não repassou para as bombas porque tem procurado alternativas, tentando comprar em outros estados, da própria Petrobras. Mas não sei até quando essa situação se sustenta”, disse o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do RN (Sindipostos/RN), Maxwell Flor.


Ele não afasta o risco de que esses valores subam se os preços na refinaria continuarem aumentando. “Está muito complicado para o revendedor adquirir combustível, desde que o novo grupo assumiu a refinaria. Esse cenário a gente já assistia na Bahia, onde teve a primeira refinaria privatizada e em Manaus”, ressaltou.


A razão já é de conhecimento do empresário. Essas refinarias acompanham o preço do mercado internacional que agora é diferente do que a Petrobras pratica. O economista Eric Gil Dantas, do OSP e do Instituto Brasileiro de Estudos Políticos e Sociais (Ibeps), confirma esse entendimento.


Ele também afirma que o que está ocorrendo no RN já acontecia nos estados que tiveram suas refinarias privatizadas. “Praticamente desde o início das privatizações, com a venda da Rlam (Refinaria Landulpho Alves), na Bahia, historicamente a Petrobras cobra preços mais baixos. Na minha avaliação, isso acontece por dois motivos. O primeiro é que ela (Petrobras) pode fazer isso porque tem estrutura integrada, extrai o petróleo e refina”, diz o economista.


Mas, segundo ele, só isso não justifica. Por se tratar de uma estatal, existem outras pressões para a precificação. “Tanto que, mesmo no Governo Bolsonaro, no auge do PPI (Política de Paridade de Importação), a Petrobras cobrou, em média, preços um pouco mais baixos”, destaca.


 A PPI foi implementada em 2016, durante o governo do ex-presidente Michel Temer, baseando-se nos custos de importação, que incluem transporte e taxas portuárias como principais referências para o cálculo dos combustíveis. Além disso, sofre influência direta com a variação do dólar e do barril de petróleo, visto que está vinculada ao sistema internacional.


A 3R Petroleum se manifestou por meio de nota informando que  “os preços dos produtos derivados produzidos pela Companhia seguem parâmetros de mercado - tais como o dólar, o valor de referência internacional do petróleo, custos logísticos para recebimento de derivados na região Nordeste, entre outros”. A nota diz ainda que “ajustes nos preços podem ocorrer de forma recorrente, amparados por critérios técnicos e condições de mercado.”


Nova política da Petrobras deve impactar pouco no RN


Como a refinaria Clara Camarão não pertence mais à Petrobras, a mudança na política de preços da estatal, seja para mais ou para menos, poderá não impactar tanto para os consumidores potiguares, assim como pode ocorrer em outros estados que tiveram refinarias privatizadas. A análise é do economista do Observatório Social do Petróleo (OSP),  Eric Gil Dantas.


“Com a venda da refinaria,  os preços têm menor influência em relação à Petrobras. (No RN) ainda tem um pouco porque a Clara Camarão é uma refinaria pequena, relativamente à demanda do Rio Grande do Norte, que não é completamente atendido por ela”, explica.


Em maio passado, a Petrobras anunciou nova política de preços da gasolina e do diesel para o mercado nacional, deixando de obedecer obrigatoriamente a paridade internacional do petróleo, que tinha como referência o dólar e o mercado exterior. Como nesse momento está havendo um leve aumento nos preços internacionais, percebe-se uma diferença maior das refinarias privadas em relação à Petrobras.


Mas o economista faz um alerta. “A gasolina da Clara Camarão está mais cara do que o próprio preço de paridade de importação, ou seja, o importador se quiser consegue praticar preços mais baixos do que a refinaria potiguar”, diz ele.


O problema também está na falta de concorrência. “Essas vendas de refinarias foram totalmente   absurdas do ponto de vista do consumidor. Não existe concorrência de refinaria, existe concorrência de importação. Quando a Petrobras vende essas refinarias, entrega monopólios a empresas privadas, conseqüentemente com preços elevados, o que é péssimo. Piorou muito o mercado de combustíveis para essas regiões e isso já está se refletindo nos preços”, avalia  Eric Gil.


Variação


Preços da gasolina praticados pela 3R Petroleum


Junho:

Dia 08: R$ 2,91

Dia 15: R$ 2,85

Dia 22: R$ 2,83

Dia 29: R$ 2,60


Julho

Dia 06: R$ 2,61

Dia 13: R$ 2,95

Dia 20: R$ 3,08

Dia 27: R$ 3,20


Fonte: Tribuna do Norte

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