terça-feira, novembro 29, 2022

Torcida sem máscara na Copa do Mundo inflou manifestações na China, diz morador de Xangai

As imagens de torcedores da Copa do Mundo no Catar assistindo aos jogos sem máscara atiçaram a raiva de cidadãos na China - onde uma onda de protestos contra as rígidas medidas de controle de circulação de pessoas tomou conta de diferentes regiões desde o fim de semana.


Manifestantes em Urumqi, no oeste da China, protestam com folhas em branco, que viraram símbolo da onda de manifestações que tomou diversas regiões da China, em novembro de 2022. — Foto: Kanis Leung/ AP


Em isolamento parcial ou total há quase três anos, moradores de regiões como Xangai e Urumqi, no oeste, se surpreenderam com as cenas da torcida aglomerada e sem ser submetida a qualquer medida de controle contra a Covid-19, que passaram desapercebidas pelos controles estatal CCTV, que transmite as partidas do mundial.



"Foi o estopim", disse ao g1, sob a condição de anonimato, um consultor empresarial chinês, morador de Xangai. "Soou até sarcástico por parte do governo transmitir todas essas cenas enquanto muitos de nós nem sequer podemos sair de nossos prédios".

Um incêndio em um prédio em Urumqi na semana passada, que matou dez pessoas, inflou a indignação - muitos chineses afirmaram que os moradores não conseguiram deixar o edifício por conta das medidas de lockdown.


Desde o início da pandemia, a China adota a chamada política de "Covid zero", através da qual impõe isolamento total quando casos de Covid são diagnosticados. Em 2021, o governo chegou a trancar municípios inteiros por conta de apenas um caso. Até agora, o país registra pouco mais de 5.200 mortes desde o início da pandemia, um dos menores índices do mundo, proporcionalmente.


Área interditada em Xangai: política de zero covid gera insatisfação com governo chinês — Foto: Aly Song/REUTERS


Em Xangai, a capital financeira do país, uma onda de casos de Covid-19 no começo do ano levou o governo local a isolar condomínios e bairros por semanas, e impedir que moradores saíssem de lá, o que gerou uma série de manifestações.


Protestos contra a política de Covid-19 - já criticada, inclusive pela Organização Mundial da Saúde (OMS) - têm sido comuns, assim como manifestações por questões pontuais diversas na China. Ao contrário do que muitos pensam, não é raro que chineses expressem indignação em atos na rua.


A nova onda de manifestações, no entanto, reúne um amplo leque de reivindicações de alcance nacional, cujas dimensões vêm sendo comparadas aos protestos que culminaram no massacre da Praça da Paz Celestial, em 1989 - quando centenas de pessoas morreram após o governo chinês reprimir com tanques manifestações pacíficas por democracia em Pequim.

Desta vez, os grupos insatisfeitos com as medidas do governo vão de minorias étnicas e religiosas até a ampla classe trabalhadora, passado por grupos de elite, universitários e o mercado de investimentos. "Algo bem parecido com o que aconteceu no fim dos anos 1990", disse o consultor empresarial.


Embora com pautas variadas, os diferentes grupos se encontram em uma reinvindicação comum: o fim das medidas restritivas.


Desde segunda-feira (28), policiais têm conseguido reprimir e desmobilizar protestos - muitos deles convocados por plataformas virtuais como o WeChat com publicações codificadas ou que rapidamente se apagam para tentar escapar do controle do governo.


"Tudo é combinado por essas plataformas. É assim que muita gente está sabendo que outros grupos também estão insatisfeitos. Porque o controle estatal é tanto que mais de 90% das pessoas aqui não têm ideia do que acontece", disse o consultor econômico, que afirmou conhecer muita gente que está participando dos atos.

Em entrevista por meio de softwares que bloqueiam o controle do governo, ele disse achar que a onda de protestos no país deve acabar sufocada, e não vê uma ameaça, pelo menos por enquanto, ao governo do presidente Xi Jinping, recém eleito para seu 4º mandato.



"Ou os protestos serão reprimidos já esta semana, ou vão ganhar fôlego. Mas, de qualquer maneira, o governo está disposto a usar a força que for necessária para terminar com eles. Acho que isso pode acabar como foi há 33 anos, com o massacre da Praça da Paz Celestial.


Fonte: g1

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