quinta-feira, setembro 01, 2022

Polícia Civil indicia três PMs por homicídio triplamente qualificado de jovem no RS: 'quando o corpo foi colocado na água, já estava morto'

Os três policiais militares envolvidos na abordagem que terminou com a morte de Gabriel Marques Cavalheiro foram indiciados pela Polícia Civil por homicídio doloso triplamente qualificado, nesta quinta-feira (1º). Eles já estão presos preventivamente desde 19 de agosto, após decisão da Justiça Militar.


Imagem mostra abordagem da Brigada Militar (BM) a Gabriel Marques Cavalheiro, de 18 anos, em São Gabriel — Foto: Arquivo pessoal


Em entrevista coletiva, no Palácio da Polícia, o chefe da Polícia Civil do RS, delegado Fábio Motta Lopes, afirmou que a morte do jovem de 18 anos, em São Gabriel, na Fronteira Oeste do estado, aconteceu por motivo fútil, com emprego de tortura e sem possibilidade de defesa para a vítima.


A suposta ocultação de cadáver deve ser investigada como crime militar, segundo a polícia.


"O inquérito policial foi concluído hoje [quinta-feira] e já entregue ao Poder Judiciário. O foco foi a apuração se houve ou não crime praticado com dolo, mesmo que tenha sido praticado por policiais militares no exercício da função, porque foi praticado, em tese, contra um civil. E, na visão da Polícia Civil do estado do RS, sim, estamos diante de um homicídio doloso triplamente qualificado", explicou Lopes.


A defesa do segundo-sargento Arleu Júnior Cardoso, por meio do advogado Maurício Custódio, reafirma a inocência do agente, diz que o inquérito foi tratado de forma "espetaculosa" e "beirou a raia política", além de acreditar que a simulação que deve ser promovida pela Polícia Civil "irá extirpar essa mentira". O g1 tentou contato com a advogada de defesa dos soldados Raul Veras Pedroso e Cléber Renato Ramos de Lima, Vânia Barreto, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem.


Os indícios já haviam sido levados em conta para o pedido de prisão preventiva dos policiais, em 22 de agosto. Na época, apenas a qualificadora de motivo fútil não havia sido identificada. De acordo com o chefe da Polícia Civil, ainda há diligências pendentes que podem apresentar novos fatos sobre o suposto crime. Uma delas é uma simulação dos fatos.


Lopes detalhou o que já foi apurado sobre a cronologia dos fatos na noite em que Gabriel foi abordado. Segundo ele, o jovem recebeu uma agressão de um dos policiais e caiu com a cabeça no chão. Em seguida, ele foi algemado e novamente agredido, desta vez com golpes de cassetete na região do pescoço, antes de ser colocado na viatura.


"Esse golpe no pescoço rompe vasos sanguíneos e faz com que o sangue seja jorrado, digamos assim, para a caixa torácica. Essa é a causa da morte. Posteriormente, vivo ou morto, não sabemos, ele é deixado na localidade de Lava Pés. Se o corpo do Gabriel foi colocado no açude nesse contexto ou horas depois, essa resposta ainda não temos. O que se tem é que, quando ele foi colocado na água, quando o corpo foi colocado na água, já estava morto".


Entrevista coletiva sobre o caso Gabriel foi concedida por autoridades de segurança em Porto Alegre — Foto: Reprodução/RBS TV


Agentes já estão presos preventivamente

Gabriel desapareceu no dia 12 de agosto, em São Gabriel, após ser abordado por três policiais militares na Avenida 7 de Setembro. Uma vizinha da casa em que ele estava hospedado, que pertence a um tio, chamou a polícia porque, segundo ela, o jovem estaria forçando o portão que dá para o pátio em frente ao imóvel. O corpo de Gabriel foi localizado na sexta-feira (19), uma semana depois do desaparecimento. Ele estava submerso em um açude na localidade.


A Justiça Militar entendeu que o sargento Arleu Junior Cardoso Jacobsen e os soldados Cleber Renato Ramos de Lima e Raul Veras Pedroso praticaram "abandono de pessoa que está sob seu cuidado, guarda ou vigilância e falsidade ideológica", por conta de indícios de alteração de documento público.


O Instituto Geral de Perícias (IGP) encontrou sangue humano em uma segunda viatura policial que estava de serviço na noite do desaparecimento. A informação consta no inquérito policial militar ao qual a reportagem da RBS TV teve acesso nesta quinta. De acordo com as investigações, a segunda viatura periciada se encontrou três vezes com a dos policiais que abordaram Gabriel na noite do dia 12 de agosto.


Fonte: g1

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