domingo, maio 01, 2022

Tratamento disponível no RN permite o alívio dos sintomas

A doença de Parkinson é conhecida há mais de 200 anos e acomete, no Brasil, cerca de 200 mil pessoas, segundo estimativas do Ministério da Saúde. Uma das condições mais recorrentes em pacientes neurológicos, ela também é fonte de diversos estudos científicos, que aprimoram o seu entendimento e desenvolvem tratamentos que têm melhorado a qualidade de vida de quem tem o seu diagnóstico. Um deles, feito no Rio Grande do Norte, permite o alívio dos sintomas e a redução no uso de medicamentos com a implementação de um pequeno equipamento no cérebro do paciente, que funciona a partir da emissão de sinais elétricos e pode ser ajustado na tela de um tablet.


Técnica batizada de Estimulação Cerebral Profunda ajuda no tratamento com pequenos estímulos elétricos no cérebro


A técnica é chamada Estimulação Cerebral Profunda, em tradução do inglês (Deep Brain Stimulation – DBS). O procedimento consiste, basicamente, em inserir eletrodos na região do cérebro onde é identificada a doença, chamada de substância negra. Geralmente, segundo o neurocirurgião Thiago Rocha, a cirurgia é feita bilateralmente, mas há casos de pacientes que desenvolvem Parkinson em apenas um lado do cérebro.


Depois de instalados, os eletrodos são conectados a um cabo de extensão, que, por sua vez, é ligado a um gerador, semelhante a um marcapasso. O equipamento tem cerca de 5 cm e fica todo internalizado, sem nada exposto na cabeça do paciente. Os estímulos elétricos são considerados de baixa intensidade, atendo-se a casa dos miliamperes.


O médico Thiago Rocha afirma que, depois do procedimento, os resultados são muito bons. “O paciente já sai da sala sem tremor, por exemplo. A gente consegue ver a resposta já no intra-operatório e no fato de melhorar completamente a rigidez", relata o neurocirurgião.

O estímulo no local da doença é o segredo para o sucesso desse tratamento. Na prática, as vias motoras da substância negra são estimuladas e, assim, conseguem contornar a deficiência de um neurotransmissor no corpo, chamado dopamina.


O déficit de dopamina é o que caracteriza essa doença crônica e degenerativa. Esse neurotransmissor atua justamente na parte de movimentação do corpo humano.


A doença é, de modo geral,  idiopática - sem origem conhecida -, mas também há o fator de hereditariedade, como explica o neurocirurgião Thiago Rocha. "Existe em torno de 5% dos pacientes com Parkinson que têm uma causa genética, mas 95% não tem uma causa genética definida. A incidência é maior na população idosa, a partir dos 60 anos", disse.


O tenente aposentado da Marinha, Miguel Sampaio do Rêgo, de 82 anos, é um dos exemplos em que o fator hereditário da doença é observado. A mãe dele morreu com a condição, e ele tem irmãos e até sobrinhos que já desenvolveram. 


“Para você ter ideia, ele tem sobrinhos, que desenvolveram o Parkinson aos 20 e poucos anos", conta a filha dele, Márcia do Rêgo, de 55 anos, que não apresenta sintomas da doença.


Miguel começou a perceber os sintomas por volta dos 70 anos. Os primeiros sinais surgiram quando ele foi renovar a carteira de motorista, foi reprovado pela análise médica e recebeu o diagnóstico de um neurologista de que estava com tremor de extremidade.


Embora seja um dos sintomas mais característicos da doença de Parkinson, o tremor não ocorre apenas em quem tem essa condição. Segundo o neurocirurgião Thiago Rocha, esse comportamento no Parkinson acontece em situação de repouso e só para no momento do sono. Além desse, outros sintomas motores da doença são: rigidez no corpo, lentidão dos movimentos e instabilidade postural.


Além do que pode ser percebido ao olhar, a doença de Parkinson pode desenvolver os chamados sintomas não motores, que são: sudorese, constipação intestinal, micrografia, Transtorno Comportamental do Sono REM e depressão. 


Os medicamentos usados no tratamento da doença agem para aumentar a dopamina no paciente e, assim, diminuir os sintomas.

 

Militar aposentado, Miguel do Rêgo convive com doença


Vantagem da terapia DBS

A vantagem da terapia DBS é que os estímulos elétricos no cérebro se tornam aliados no combate ao avanço da doença, reduzindo ainda  a necessidade de medicamentos e seus  efeitos adversos.


Como trata-se de uma condição degenerativa, a tendência é que os efeitos cresçam de acordo com o envelhecimento do paciente, o que faz com que a dosagem da medicação tenha de acompanhar o mesmo ritmo. 


A terapia de DBS também é dinâmica e, ao passo que a doença evolui, ela pode ser regulada. A emissão dos sinais elétricos é controlada por meio de um tablet, capaz de alterar frequência, amplitude e largura de pulso da onda que é gerada pelo equipamento implantado no paciente, via tecnologia Bluetooth.


A cirurgia para implantação do equipamento pode ser feita com o paciente dormindo ou acordado. O neurocirurgião Thiago Rocha prefere a segunda opção por já conseguir aferir resultados durante o procedimento. “É uma grande vantagem. A gente já vê o efeito, consegue testar no próprio intra-operatório”, explica.


No entanto, não são todos os pacientes que estão aptos a fazer a terapia DBS.  Requisitos como idade, tempo e evolução da doença, resposta ao uso de medicamentos e outras avaliações são considerados.


 O momento para se pensar na cirurgia é quando o paciente deixa de responder como esperado ao uso de remédios, nas chamadas flutuações motoras, e passa a ter discinesias - movimentos involuntários - provocados pelo encurtamento no tempo das medicações. Aliado a isso, o paciente precisa ter cinco anos de doença e, no máximo, 70 anos de idade. Embora, de acordo com Thiago Rocha, estudos já trabalhem com a possibilidade de estender a idade para até 75 anos.


Exames clínicos, avaliações neuropsicológicas e psiquiátricas, além de outros testes também são feitos para ser dado o aval.


No Rio Grande do Norte, o Hospital Universitário Onofre Lopes (Huol) é a única unidade pública que oferta a cirurgia. O procedimento também é feito em hospitais privados e está no Rol de Procedimentos e Eventos em Saúde da Agência Nacional de Saúde Suplementar, que regula os planos de saúde.


Qualidade de vida

Superando estigmas e dificuldades relacionadas à doença, a ciência e a medicina conseguiram dar qualidade de vida a quem é acometido por ela. Parkinson não tem cura, mas tem tratamento. 


Miguel do Rêgo é um dos que teve a rotina melhorada. Pela idade, ele não pôde fazer a terapia DBS, mas depois que iniciou o uso de medicamentos receitados pelo médico a sua vida mudou. Tarefas de casa e a autoestima - de um  homem visivelmente alegre hoje em dia - tiveram uma progressão, de acordo com a filha.


Costumeiramente, Miguel rega as plantas do jardim de casa, mas a sua atividade favorita mesmo é no computador, onde ele descobriu ser capaz de se comunicar com duas pessoas: “Deus e o mundo”, brinca. 


"Eu tenho que lutar contra. O inimigo a gente ataca de frente e com coragem. ‘Bota toda sua força, sua vontade para derrotar o inimigo’. É isso que eu acho que tem de ser, não posso me aquietar", disse Miguel do Rêgo.


Não parar, inclusive, é uma recomendação dos neurologistas para quem tem doença de Parkinson. Uma rotina de exercícios físicos, como caminhadas, por exemplo, é fundamental para restringir o desenvolvimento dos sintomas.

Fonte: Tribuna do Norte

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