quarta-feira, setembro 08, 2021

Bolsonaro discursa como se os apoiadores de atos antidemocráticos fossem o povo brasileiro



Diante de apoiadores, tanto em Brasília quanto na Avenida Paulista, o presidente Bolsonaro repetiu nesta terça-feira (7) o que costuma dizer: que sempre estará onde o povo estiver. No discurso de Bolsonaro, é como se os milhares de participantes dos atos antidemocráticos fossem o povo brasileiro, e não apenas os seus apoiadores.


Os cartazes, até em inglês, traziam pedidos antidemocráticos. E alguns com frases que diziam representar a vontade de todo o povo brasileiro. No discurso aos manifestantes na Avenida Paulista, o presidente Jair Bolsonaro também se referiu às pessoas que estavam ali como a maioria da população.


“Eu sempre estarei onde o povo estiver.”


Mas as pesquisas que avaliam a popularidade e o desempenho do presidente mostram um retrato diferente. O Jornal Nacional ouviu pesquisadores e cientistas políticos que comentaram as manifestações desta terça.


O cientista político da Fundação Getúlio Vargas, Fernando Abrucio, explica que o apoio ao presidente hoje está restrito a um grupo, e não a maior parte dos eleitores.


“O tamanho das manifestações não quer dizer o tamanho eleitoral do presidente, mas quer dizer que ele tem um público, que talvez fique mais próximo dos 20% do eleitorado, que é capaz de fazer tudo o que ele quiser por ele. Portanto, acho que essa é a grande característica. O presidente Bolsonaro não tem maioria social, mas tem um grupo minoritário, mais próximo dos 20%, 25%, que é capaz de se mobilizar pelo Bolsonaro a qualquer momento”, disse.



No fim de junho, o Ipec – Inteligência em Pesquisa e Consultoria, formado por ex-integrantes do Ibope, apontou que 49% dos brasileiros consideravam a administração de Bolsonaro ruim ou péssima, e 24% classificavam como ótima ou boa. Em outra pesquisa, do Datafolha, feita no início de julho, 51% achavam o governo Bolsonaro ruim ou péssimo; 24%, ótimo ou bom.

O diretor do Datafolha, Mauro Paulino, também analisou o perfil dos apoiadores do presidente que estiveram nesta terça nas manifestações.


“Os manifestantes que foram às ruas hoje representam esse núcleo duro. Representam esse bolsonarismo mais fiel. Não é a maioria. É, como eu já disse, algo em torno de 12% dos eleitores. Então não é representativo do total da população, não dá para dizer que o povo foi às ruas. Quem foi às ruas foi esse núcleo mais ferrenho e mais limitado do bolsonarismo.”


A diretora do Ipec comentou a queda da popularidade de Bolsonaro, que nas últimas pesquisas eleitorais não passou dos 25% das intenções de voto no primeiro turno, ficando em segundo lugar.


“Claro que, provavelmente, quem mais compareceu às manifestações são as pessoas que mais o apoiam. Então não é um perfil homogêneo do povo brasileiro. É um perfil de quem compareceu às manifestações, que é o perfil que mais apoia o presidente”, afirmou Marcia Cavalari.


Mauro Paulino, do Datafolha, falou sobre a pauta antidemocrática das manifestações.


“A adesão a propostas antidemocráticas é muito baixa no Brasil. E ela está restrita a um nicho que não passa de 11%, 12% do eleitorado; 75% defendem a democracia como o melhor regime para um país”, disse.

“Os outros 75% estão cada vez mais longe do Bolsonaro. Esse é o resultado dessas manifestações. Bolsonaro está cada vez mais próximo da sua pequena bolha, uma bolha de gente muito fiel ao presidente, mas está cada vez mais longe dos 75% dos brasileiros que são favoráveis à democracia. E esse afastamento será cada vez maior, porque os problemas econômicos, sociais e políticos, a inflação, o preço da gasolina, o desemprego, tudo isso vai continuar”, ressaltou Fernando Abrucio.


Fonte: Jornal Nacional

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