terça-feira, agosto 31, 2021

CPI convoca advogada de Bolsonaro que teria apresentado lobista a ex-secretário da Anvisa



A CPI da Covid aprovou nesta terça-feira (31) a convocação de Karina Kufa, advogada do presidente Jair Bolsonaro em ações na Justiça Eleitoral.


Os senadores também aprovaram uma nova convocação de Ivanildo Gonçalves da Silva, motoboy que movimentou quase R$ 5 milhões a serviço da VTCLog, empresa de logística investigada pela CPI.


O depoimento de Ivanildo Gonçalves estava previsto para esta terça, mas, na véspera, o ministro Nunes Marques, do Supremo Tribunal Federal (STF), garantiu ao motoboy o direito de não comparecer à comissão. A decisão provocou reação da cúpula da CPI (leia mais abaixo).


A comissão, então, marcou de última hora o depoimento de Andreia Lima, diretora da VTCLog, mas a executiva informou que não poderia comparecer nesta terça.


Diante das ausências, o presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), afirmou que a comissão irá focar no depoimento de “todas as pessoas da VTCLog, sem exceção” e irá “a fundo” nas investigações sobre a empresa.


Os senadores aprovaram ainda a quebra de sigilo bancário, fiscal, telefônico e telemático da VTCLog.


As convocações são desdobramentos das suspeitas de que houve irregularidades e na aquisição de vacinas contra a Covid e também sobrepreço em contratos firmados com o Ministério da Saúde.


Lobby pela empresa Precisa

No caso de Karina Kufa, os senadores investigam se ela apresentou o advogado Marconny Albernaz Ribeiro ao ex-secretário da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) José Ricardo Santana, e se ela pode ter tido algum benefício fazendo essa intermediação.


Marconny é apontado como um lobista da Precisa Medicamentos, empresa que atuou como intermediária no contrato da vacina indiana Covaxin e que está sob investigação.


Já José Ricardo participou de jantar no qual, de acordo com o policial militar Luiz Paulo Dominghetii, houve pedido de propina para a aquisição de vacina.



A CPI obteve mensagens trocadas entre Marconny e Santana. Na conversa, o ex-secretário da Anvisa menciona que conheceu o suposto lobista da Precisa na casa da advogada de Bolsonaro.


“Foi um prazer te conhecer hoje na casa da Karina. Aliás, ela me passou seu telefone. Obrigado pelo bate-papo agradável. Se eu puder te ajudar em algo, conte comigo. Boa noite”, escreveu Santana na ocasião.


As mensagens indicam ainda, segundo a CPI, que Marconny e Santana discutiram um “passo a passo” para fraudar uma licitação de testes para a Covid e beneficiar a Precisa.


A CPI tem indícios de que o roteiro seria repassado a Roberto Ferreira Dias, ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde exonerado em junho, após a denúncia de cobrança de propina.


“O depoimento da advogada Karina Kufa é de extrema importância para os trabalhos desta CPI, uma vez que pode esclarecer sua participação e de outros personagens do seu círculo de amizades nas negociações envolvendo contratos com o Ministério da Saúde”, afirmou o vice-presidente da CPI, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP).


'Retrocesso' e 'impunidade'

Durante a sessão, a cúpula da CPI reagiu à decisão de Nunes Marques que garantiu ao motoboy Ivanildo Gonçalves faltar ao depoimento. Senadores apresentaram imagens que, segundo eles, indicariam que Ivanildo pagou boletos em benefício de Roberto Ferreira Dias, ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde.


“Nós respeitamos as decisões. O senhor Ivanildo não é investigado, ele é apenas uma testemunha sendo usada para retirar dinheiro e levar para alguém. Esses quase 5 milhões que retiraram dos bancos, principalmente do Bradesco e da Caixa Econômica, (...) ele não retirou para levar para a casa dele, ele retirou para levar para alguém. E não é uma quantia pequena”, afirmou o senador Omar Aziz (PSD-AM).



“O que aconteceu, lamentavelmente, com a decisão ministro Kassio Nunes, foi um retrocesso com relação à jurisprudência adotada pelo Supremo Tribunal Federal. O ministro, com todo o respeito, alegou que não havia pertinência temática. Como não? Em 2020 e em 2021, um motoboy sacou, do dinheiro da saúde, mais de R$5 milhões em espécie”, afirmou o relator Renan Calheiros (MDB-AL).


Calheiros ressaltou ainda que decisões como a de Nunes Marques acabam “colaborando para que a impunidade se mantenha firme e forte”. “E essa CPI é uma oportunidade para a gente desmontar esses esquemas e exemplarmente punir essas pessoas que participaram de tudo isso, enquanto os brasileiros morriam”.


Fonte: G1

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