segunda-feira, março 22, 2021

Com hospitais cheios no DF, corpos de vítimas da Covid-19 são deixados no chão e em corredores

À beira do colapso, o sistema de saúde do Distrito Federal apresenta problemas no manuseio de cadáveres. Imagens feitas por servidores em hospitais públicos da capital federal mostram corpos de vítimas do novo coronavírus armazenados no chão e, em outros casos, à espera de remoção nos corredores da unidade de saúde.


Corpos de pacientes com Covid-19 precisam ser ensacados e enterrados em caixão lacrado, para evitar a contaminação. Protocolos da Secretaria de Saúde exigem o uso de equipamentos de proteção individual (EPI).


Nesta segunda-feira (22), 400 pessoas aguardavam por um leito de unidade de terapia intensiva (UTI) (veja mais abaixo). No dia 9 de março, o governo do DF decretou estado de calamidade pública na saúde, devido ao avanço de casos e óbitos.


No sábado (20), no Hospital Regional do Guará (HRGu), corpos de pacientes que morreram devido à Covid-19 ficaram no chão do necrotério, por falta de espaço, segundo denúncia recebida pela reportagem.


Corpo é armazenado no chão no Hospital Regional do Guará, no DF — Foto: Arquivo pessoal


As vítimas, entre elas dois idosos, eram casos confirmados ou suspeitos da Covid-19. A Secretaria de Saúde, no entanto, disse que o Hospital Regional do Guará "segue o preconizado no protocolo específico de preparo e armazenamento dos corpos vítimas de Covid-19".


De acordo com a pasta, a unidade de saúde tem comportado a demanda, já que tem baixo índice de mortalidade. A secretaria informou que os corpos que aparecem nas imagens não estavam no chão, mas sim sobre "um tablado de madeira", enquanto aguardavam transição para o serviço funerário.


Neste domingo (21), o DF confirmou mais 27 mortes e 1.080 novos casos de Covid-19. Com os novos registros, o total de óbitos chegou a 5.382, e os infectados passaram para 328.902.


Vítima no corredor


Ainda no sábado, no Hospital Regional de Ceilândia (HRC), um homem de 45 anos morreu e o corpo dele ficou no corredor pelo menos por 24 horas, também segundo denúncia recebida pela reportagem.


O cadáver não havia sido preparado conforme o protocolo de manuseio de vítimas da Covid-19 e, por isso, houve demora para a remoção por parte do sistema funerário. Imagens da unidade mostram que o cadáver está enrolado em um pano e com secreção à mostra.


A reportagem questionou a Secretaria de Saúde sobre esse caso, porém, não obteve retorno até a última atualização desta reportagem.


Corpo de vítima da Covid-19 fica em corredor do Hospital Regional de Ceilândia, no DF — Foto: Arquivo pessoal


Tânia Batista, presidente da Associação das Funerárias do Distrito Federal, (Asfun-DF), disse que denúncias sobre hospitais que agem de forma errada no manuseio de cadáveres são constantes. "Corpos são colocados nos corredores, sem serem identificados e fora do invólucro próprio para armazenamento", comentou.


"É muito triste que isso aconteça, mas é um fato, é real e já estamos tendo esses alertas. Recebemos imagens muito fortes", disse.

Tânia cobra que os protocolos devem ser seguidos e diz que qualquer descuido é uma "falta de responsabilidade". "Nossos agentes estão trabalhando de forma muito precária", lamentou.


Sistema sobrecarregado


Leitos ocupados no Hospital Regional da Asa Norte (Hran), em Brasília, em imagem de arquivo — Foto: SindEnfermeiro-DF/Divulgação


No Distrito Federal, 96,33% do sistema de saúde público está comprometido, segundo levantamento da Secretaria de Saúde divulgado às 8h10 desta segunda-feira (22). De acordo com o relatório, restam 12 leitos de unidade de terapia intensiva (UTI) para tratar pacientes com a Covid-19.


Das vagas disponíveis, apenas cinco são para adultos. Ao todo, há 409 leitos. Desses, 367 estão ocupados, 21 aguardando liberação e nove bloqueados. Além disso, há 400 pessoas na lista de espera por uma vaga em UTI, sendo que 309 estavam com suspeita ou confirmação da Covid-19.


Na rede privada, também há sobrecarga. Dos 432 leitos de UTI, 395 estavam ocupados às 7h10 desta segunda. Restam 36 vagas, sendo 35 para adultos.


Estado de calamidade

No dia 9 de março, o governador Ibaneis Rocha (MDB) decretou estado de calamidade pública na área de saúde do Distrito Federal. A medida vale "enquanto perdurar os efeitos da pandemia do novo coronavírus".


O documento publicado no Diário Oficial cita o "risco iminente de superlotação das UTIs [Unidades de Terapia Intensiva] e unidades hospitalares na fase aguda da pandemia".


Com a declaração de estado de calamidade pública na saúde, o governo do DF não terá que seguir à risca as metas fiscais previstas nas regras orçamentárias de 2021. Além disso, o DF poderá receber repasses da União e realizar contratos sem licitação.


Fonte: G1

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