terça-feira, dezembro 29, 2020

Linha de crédito emergencial para micro e pequenas empresas supera expectativa e investe R$ 142 milhões no RN

O empresário Bruno Raposo viveu um momento delicado em meados de abril, quando precisou fechar o seu empreendimento por causa da pandemia do coronavírus, que naquele momento registrava seus primeiros casos no Rio Grande do Norte.


Imagem mostra ruas de Natal vazias durante pandemia de coronavírus — Foto: Sandro Menezes


O fechamento do comércio não essencial e a restrição na circulação de pessoas como medida de contenção do vírus atingiram o negócio do empresário, mesmo com ele atuando na área de produtos de higiene, o que, na teoria, poderia significar um ganho de mercado num período como esse, de novos hábitos.


"Eu trabalho com fornecimento para hotéis, bares e restaurantes. A gente tem uma porcentagem boa de restaurantes ali em Ponta Negra, e também pousadas, setores que, de uma hora pra outra, fecharam", explicou. "Não tinha para quem vender, porque houve o lockdown".


A crise provocou demissões e a suspensão de contrato de outros quatro funcionários - baseado na medida provisória publicada pelo governo federal em abril. A empresa viu seu quadro reduzido de 11 para cinco profissionais.


Bruno, então, viu o faturamento despencar em até 60% entre abril e julho. Por isso, decidiu recorrer a uma linha de crédito como forma de equilibrar as contas e não precisar reduzir ainda mais o quadro de funcionários.


Bruno Raposo é proprietário da empresa Paperclan e recorreu ao financiamento — Foto: Cedida


O empresário é um dos mais de 2 mil do estado que aderiram ao FNE Emergencial, linha de crédito operada pelo Banco do Nordeste (BNB), que foi aprovada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) em abril para atender setores produtivos dos municípios com situação de emergência ou estado de calamidade pública pela Covid-19. Os recursos são oriundos do Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE).


Investimento acima do esperado

O FNE Emergencial teve um orçamento previsto de R$ 3 bilhões para investimentos no Nordeste. No RN, apenas para público de micro e pequenas empresas (MPE), o "desafio era investir R$ 131,7 milhões", segundo o superintendente do Banco do Nordeste no estado, Thiago Dantas e Silva. E essa meta foi ultrapassada. "Investimos R$ 142,5 mi até 21 de dezembro, em 2.054 contratos".


Considerando as empresas tradicionais e MEIs, foram R$ 204,7 milhões investidos neste período.


"O FNE Emergencial não era apenas destinado a micro e pequenas empresas, mas era o público-alvo", explicou ele.


Para o superintendente do Banco do Nordeste no RN, Thiago Dantas e Silva, o FNE Emergencial representou para muitas empresas uma solução para evitar a falência em meio à crise econômica provocada pela pandemia, principalmente durante a fase de maior restrição à circulação de pessoas e de fechamento dos serviços não essenciais - exatamente o período de maior crise para empresas como a de Bruno.



"Em determinados negócios, foi a diferença entre fechar e permanecer aberto para suportar esse momento de travessia para quando a atividade econômica fosse retomada, como foi, por volta de julho, agosto", disse.


"[A linha de crédito] Permitiu que aquelas empresas chegassem até ao período de reabertura gradual. Então, a gente tem muita consciência da importância desse auxílio emergencial para isso".


Comércio fechado durante pandemia do coronavírus em Natal — Foto: Elisa Elsie


As linhas de crédito no FNE Emergencial eram de até R$ 100 mil para capital de giro por cliente - com até 24 vezes para pagar -, e de até R$ 200 mil para investimentos, com prazo máximo de 12 anos para quitar.


O superintendente explica que o Banco do Nordeste opera outros tipos de linhas de crédito, mas que o FNE Emergencial, por ser lançado em um momento atípico de crise por conta de uma pandemia, apresentou uma situação ainda mais facilitadora para os empresários.


"Quem contraiu o financiamento durante esse período mais crítico da pandemia, fez um financiamento para capital de giro ou para investimento a uma taxa de juros pré-fixada, com garantia que não vai mudar ao longo do contrato, independente dos indicadores macroeconômicos, de 2,5% ao ano", explicou.


Outro facilitador foi a carência até dezembro, considerada fundamental num momento de recessão.



"Quem contratou lá em junho precisando de capital de giro, porque as atividades comerciais estavam interrompidas ou mesmo minimizadas por causa do fechamento, teve a condição de tomar esse giro pra fazer jus ao custeio da empresa".


Esse tipo de condição foi o que atraiu, por exemplo, o empresário Bruno Raposo. Ele conta que, com a redução da equipe nos meses de fechamento pela pandemia, a empresa atuou no limite do que precisava para seguir em atividade.


"Nesse meio tempo, aconteceu essa liberação desse empréstimo, numa taxa bem agressiva, que eu acho que a gente não encontra no mercado. Pelo menos, eu nunca vi. E com as condições de rapidez de liberação e de carência também. Com isso a gente conseguiu, na retomada, não precisar demitir ninguém", disse.


"Eu vejo pessoas que vestem a camisa, que estão lá e eu tenho que fazer alguma coisa. E esse empréstimo foi, sem sombra de dúvida, pra gente retomar o que estava querendo, o nosso crescimento. Não é onde a gente quer chegar, mas pelo menos a gente consegue fazer algo".


'Segurar os empregos e retomar o crescimento'

Ajudar as empresas a fazerem a "travessia" do período mais agudo da pandemia, como explicou o superintendente do Banco do Nordeste no RN, Thiago Dantas e Silva, foi exatamente o que a linha de crédito possibilitou para o empresário Bruno Raposo.


Depois de ter ficado com menos da metade do quadro de funcionários em abril, o momento de retomada o possibilitou novas contratações. "Estamos com um quadro hoje de 11 funcionários. No meio, ficamos com cinco. Agora retornaram quatro [com contratos suspensos] e contratamos mais dois".


Por trabalhar com comércio de produtos de higiene, que inclui a instalação de equipamentos como dispensers, saboneteiras e porta-papéis higiênicos, que ganharam mais importância no combate ao vírus, a empresa conseguiu se recuperar logo após a retomada. "Depois que liberaram hotéis, bares e restaurantes, começou a ter uma melhora".


A empresa também atua no segmento hospitalar, com comercialização de sacos de lixo e papel toalha, por exemplo.


As novas admissões feitas pelo empresário Bruno Raposo para reposição do quadro de funcionários são uma tendência desde a reabertura do comércio não essencial no estado. Segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério da Economia, de junho até novembro as empresas do RN contrataram mais que demitiram - os dados de dezembro ainda não foram finalizados. E desde agosto que o saldo positivo, por mês, é de mais de 4 mil admissões.


"A gente por trás, como empresário, tem uma responsabilidade muito grande, de manter o emprego, de pagar em dia, porque aquele cara precisa e conta com aquele dinheiro. Então, se eu atraso ou demito, ele vai arrumar emprego onde? Não tem", falou Bruno.


"Fazer o empréstimo e conseguir uma carência de seis meses para pagar foi mais para segurar o emprego e não ter mais que ter demissões, e depois retomar o crescimento".


Com o fechamento de bares, restaurantes e hotéis durante a pandemia, vários clientes da empresa de Bruno Raposo precisaram fazer acordos. "Eu tenho até hoje cliente que me paga conta de fevereiro", diz. "E a gente não pode pisar no pescoço de um cara desses. Como é que eu vou exigir que ele me pague? Ele não está usando de má-fé".


"Eu fiz acordos em que, cada um que me devia R$ 2 mil ou 3 mil, me pagava R$ 180 por semana. E após reabrirem, tiveram que voltar a comprar conosco e nós tivemos que voltar a liberar esse crédito, mesmo com a dívida, porque a gente tem que ser parceiro também nessa hora, como o banco foi parceiro em enxergar tudo isso".


Perfil

Assim como Bruno, a maior parte do perfil dos empresários que aderiram à linha de crédito emergencial no Rio Grande do Norte foi do setor de comércio e serviços, segundo dados do Banco do Nordeste. E há uma lógica para isso.



"O RN tem uma economia muito baseada em comércios e serviços, que respondem por mais de 60% de participação na produção de riqueza no estado", explicou o superintendente do BNB, Thiago Dantas e Silva.


"Então é muito natural que os bancos, em seus apoios financeiros, também respeitem essa proporção de participação na geração de riquezas".

Dados do Caged, do Ministério da Economia, reforçam essa indicação. Do saldo positivo de 4.796 contratações por carteira assinada geradas no último mês de novembro no Rio Grande do Norte, 4.030 foram desses setores - aproximadamente 84%.



A pandemia de Covid-19 fez com que as linhas de crédito oferecidas servissem para situações distintas. Em alguns casos, o objetivo era conter a estagnação econômica. Em outros, oportunidades de crescimento em meio à crise foram encontradas e resultou em novos investimentos.


"Esses investimentos que, mesmo em tempos de pandemia são necessários, a gente financiou. Financiamos o giro e continuamos financiando investimentos para aquelas empresas que identificaram oportunidade mesmo em meio à essa crise. Empresas do setor de alimentação, supermercados, mercados, do setor de saúde, de material de construção, na liquidez que o mercado ganhou com os auxílios emergenciais", explicou o superintendente do BNB.


Mesmo nesse momento anticíclico, o Banco do Nordeste apoiava os dois públicos: aquele que precisava de suporte para vencer esse ciclo de estagnação, recessão, e aquele que estava encontrando uma oportunidade num momento de crise".

— Thiago Dantas e Silva, superintendente do Banco do Nordeste no RN


Dois cenários distintos

O superintendente do BNB explica que num ciclo econômico crescente, o banco ganha relevância para financiar os investimentos das empresas que estão crescendo. Esses investimentos são, por exemplo, para situações como a compra de uma máquina nova para aumentar a produção, a instalação de energia solar para redução dos custos, ou até a compra de um caminhão para o transporte de mercadorias.


Em um cenário como o apresentado pela pandemia de Covid-19, com recessão econômica e estagnação, a missão é "anticíclica".


"Eu tenho que imprimir esforços, como um importante agente financeiro, pra mitigar os efeitos negativos de um ciclo de estagnação ou de recessão. Então, a gente aumenta o capital de giro para que as empresas consigam, mesmo não faturando como antes, suportar esse momento de travessia".


Os investimentos que seguem sendo feitos um período como esse são tem impulsos diferentes. Alguns empresários, por exemplo, precisaram adaptar o próprio negócio para seguir no mercado durante a pandemia.


"A gente faz investimentos sim, mas para mudar. Como, por exemplo, em uma empresa muito analógica, que tinha venda só de balcão e quer se transformar numa empresa digital, e por isso precisou implantar rapidamente um e-commerce, comprar um software", explicou.


"Ou uma empresa que quer mudar sua estrutura de despacho de cozinha, porque não ia sair mais no salão de atendimento, ia sair para o delivery".


Fonte: G1

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