quarta-feira, agosto 26, 2020

No auge da pandemia, cirurgias eletivas no SUS caíram 66%

Nos meses mais agudos da pandemia de coronavírus, de março a maio, houve uma queda de 66% no número de cirurgias eletivas feitas no Sistema Único de Saúde (SUS) em todo o país, na comparação com o mesmo período do ano passado.


Cirurgias eletivas são as consideradas não emergenciais, quase sempre marcadas, e não raro fundamentais para corrigir problemas de saúde.


De janeiro a junho de 2019, segundo o Ministério da Saúde, foram realizadas 983 mil cirurgias eletivas. No mesmo período este ano, foram cerca de 652 mil.


Para especialistas, o sistema tem que se preparar para a alta demanda que pode acontecer com a retomada dos atendimentos.


“As filas de procedimentos eletivos na fila do SUS são muito grandes. O SUS até que dá conta bem das urgências e emergências, mas nas cirurgias eletivas há muita fila, e deve ter aumentado muito”, afirmou Walter Cintra, professor de Gestão de Saúde da FGV e médico sanitarista.


“Dificilmente até dezembro a gente consegue absorver. Vai ter que fazer uma triagem desses casos para dar uma prioridade para os que não puderem esperar”, disse.

O médico sanitarista diz que o setor público vai precisar de mais recursos.


“Vai ser preciso que governos que também estão enfrentando situações econômicas, de queda de arrecadação, por queda da atividade econômica, que se preparem para investir na saúde, porque, afinal de contas, a função dos governos é proteger a vida humana”, emendou.


Muitos pacientes com cirurgias adiadas agora sofrem com a demora para remarcar as intervenções na rede pública, enquanto os quadros de saúde se agravam.


Quatro anos com dores


Antônia Cristina Almeida de Aguiar Menezes, de 62 anos, tem artrite reumatoide e há quatro anos espera na fila por uma cirurgia no Instituto Nacional de Traumatologia (Into).


Casos como o de Dona Antônia têm sido mostrados no Bom Dia Rio. Neste momento, mais de 12 mil pacientes aguardam por cirurgias ortopédicas sob responsabilidade do Município do Rio de Janeiro.


Na terça-feira (25), o Bom Dia Rio mostrou a história do Gilmar Neves Ferreira, que há dois anos é o segundo da fila do Into para cirurgia.


Antônia Cristina descobriu a doença em 2007. Só em outubro de 2016 foi encaminhada ao Into. Primeiro, ela aguardou dois anos por atendimento com um especialista. Agora espera desde 2018 na fila de cirurgias no quadril para colocar uma prótese na cabeça do fêmur.


Ela entrou na fila em 11º lugar e pouco tempo depois foi para 13º. Em setembro de 2019, Antônia Cristina, que mora em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, foi chamada para nova consulta, sendo submetida a uma radiografia.



Chegou à 6ª posição e agora está como "pendente". Informaram a ela que o motivo era "a falta de próteses".


Cristina conta que sua vida social está comprometida. Ela passa a maior parte do dia deitada e só consegue se locomover com auxílio de um andador.


"É muito sofrimento. Só Deus me segura. Já houve época em que precisei tomar banho na cama, porque não tinha condições de andar".

'O câncer não espera'


Gessyca Dias Aprígio descobriu um câncer de pele em janeiro — Foto: Reprodução / TV Globo
Gessyca Dias Aprígio descobriu um câncer de pele em janeiro — Foto: Reprodução / TV Globo


A empregada doméstica Gessyca Dias Aprígio descobriu um câncer de pele em janeiro. A cirurgia, que seria na última terça-feira (25), foi desmarcada.


“Me ligaram de manhã cedo dizendo que a minha cirurgia estava cancelada. Não me disse o motivo e não me disse o porquê”, contou.


“Eu quero dizer para o Inca que câncer não tem quarentena. O câncer não pode esperar a quarentena acabar. Da mesma forma que a covid-19 por levar a pessoa à morte, o câncer também pode”, afirmou.

O que dizem as autoridades

Por meio de nota, o Ministério da Saúde, ao qual o Into é subordinado, informou que vai apurar todos os casos.


O ministério afirmou também que mantém diálogo permanente com os conselhos que representam as secretarias estaduais e municipais de saúde de todo o país na elaboração do planejamento para a retomada das cirurgias eletivas com segurança.



Sobre a disponibilidade das próteses -- caso de Dona Antônia --, o órgão informou que a situação foi resolvida e que trabalha para atender de maneira segura, segundo os critérios médicos, os cidadãos que necessitam dos serviços do Into.


A direção do Into informou que a gestão da fila para a realização de cirurgias eletivas ortopédicas é de responsabilidade do município, sendo o instituto responsável apenas gestão da fila.


O Instituto Nacional do Câncer, onde Gessyca está sendo tratada, disse que o caso dela está em avaliação para definir qual melhor conduta médica.


Apesar das adaptações aos protocolos de segurança contra a Covid, as consultas e cirurgias dos pacientes em tratamento estão mantidas, com algumas remarcações, de acordo com prioridades emergenciais.


Fonte: G1

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