quarta-feira, agosto 26, 2020

É #FAKE que Natal zerou pacientes com Covid-19 internados em CTIs graças a protocolo com medicamentos

 Circula pelo WhatsApp uma mensagem que diz a cidade de Natal, capital do Rio Grande do Norte, adotou um protocolo de azitromicina, hidroxicloroquina e ivermectina como prevenção à Covid-19 e que, por conta disso, não há mais pacientes em Centros de Terapia Intensiva (CTI) na cidade. É #FAKE.


É #FAKE que Natal zerou pacientes com Covid-19 internados em CTIs graças a protocolo com medicamentos


A mensagem falsa diz: “Natal - RN está assim: azitromicina, hidroxicloroquina e ivermectina usados preventivamente. Resultado: CTI sem nenhum paciente”.


Procurada pela CBN, a Secretaria Municipal de Saúde de Natal diz que os remédios – que não têm eficácia para a Covid-19 comprovada por estudos científicos – são, de fato, adotados como tratamento precoce da doença e que têm reduzido as internações desde então. No entanto, não é verdade que tal protocolo tenha evitado internações pela doença em CTIs da rede. Há dez pacientes internados com a doença, segundo a pasta. Todos estão no hospital de campanha da cidade.


A secretaria ressalta ainda que em nenhum momento da pandemia o número de internações de pacientes infectados pelo coronavírus em UTIs foi zerado. Além disso, já foram registrados 875 óbitos na cidade até o momento, com média de duas mortes diariamente.


Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, "na atenção básica, a prefeitura de Natal adotou um protocolo de tratamento precoce da Covid-19 em que se utiliza ivermectina, azitromicina, cloroquina e ainda mais nove medicamentos disponíveis na rede". "Quem prescreve é o médico."



O órgão ressalva que, desde maio, porém, "a rede de urgência e emergência da prefeitura de Natal não faz uso da hidroxicloroquina no seu protocolo". "Um paciente de UTI faz uso de outros antibióticos e/ou corticoides; cada caso é um caso, a depender da avaliação médica."


Cabe ressaltar que não existe qualquer lastro em estudos científicos de que os remédios, ministrados juntos ou em separado, neutralizam o novo coronavírus. Então as pessoas que fazem esse uso não estão se protegendo da Covid-19 nem melhorando de quadros já instalados por conta dos remédios, dizem médicos entrevistados pela CBN.


O professor titular de infectologia da UFRJ Mauro Schechter lembra que esses pacientes já evoluiriam bem de qualquer forma, sem os medicamentos – até porque uma pequena parcela dos contaminados irá precisar de terapia intensiva, como se sabe desde o início da pandemia.


“Nenhum dos três medicamentos tem ação ‘in vivo’ (em humanos) contra o Sars-CoV-2”, explica. “A dose ‘in vitro’ (em testes de laboratório) de ivermectina que inibe a replicação viral é 170 vezes a dose usada para tratar piolho, por exemplo. Essa, por sua vez, é 17 vezes a dose letal para seres humanos. Sobre hidroxicloroquina e cloroquina, não existe ação ‘in vitro’ nem eficácia em modelos animais ou em qualquer um dos oito estudos prospectivos randomizados já tornados públicos. Por sua vez, a azitromicina não possui ação antiviral ‘in vitro’, e seria usada para potencializar a ação da cloroquina, o que nunca foi demonstrado.”


A pneumologista Patricia Canto Ribeiro, da Escola Nacional de Saúde Pública, reforça que se trata de um doença que em apenas uma minoria dos casos leva à necessidade de hospitalização. Então, o número de pacientes de CTI em Natal, a esta altura da pandemia, não é necessariamente algo que salte aos olhos ou que se relacione com a prescrição do kit de medicamentos, diz.



“Em 80% dos casos, a Covid-19 resulta em poucos sintomas, ou é assintomática. Então pode tomar coquetel de medicamentos, pode não tomar nada, qualquer providência, que o organismo elimina o vírus e a pessoa fica bem. Só que tem um porém: esses medicamentos trazem risco à saúde do paciente. Sendo um coquetel, o risco é aumentado”, esclarece.


Independentemente desse protocolo usado em Natal, a pandemia vem arrefecendo na Região Metropolitana da capital, o que se verifica na redução da taxa de ocupação de leitos críticos para pacientes com a Covid-19. Patricia ressalta que a dinâmica da pandemia é esta mesma: uma curva ascendente de infectados no começo, seguida de uma descendente num segundo momento.


“A queda no número de casos é o esperado. As pandemias chegam, rapidamente atinge-se um número grande de infectados, porque as pessoas não têm imunidade contra o vírus ou a bactéria em questão. À medida que as pessoas se tornam imunes, o número tende a cair. Você soma a isso medidas de redução da pandemia: as máscaras, o isolamento social, o fechamento seletivo das cidades... Então não é de se espantar que exista uma redução de casos. O que é atípico, isso sim, é o platô que vemos. E isso tudo não tem nada a ver com a distribuição de kits de medicamentos”, afirma a médica.


Fonte: G1

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