terça-feira, julho 28, 2020

Funcionários de centro de acolhimento em SP são suspeitos de cobrar R$ 100 para sacar auxílio-emergencial de sem-teto

Funcionários de Centros Temporários de Acolhimento (CTAs) foram acusados por sem-teto de cobrar R$ 100 para sacar o dinheiro do auxílio-emergencial do governo federal. Criados em 2017, os CTAs acolhem moradores de rua e estão espalhados por toda a capital paulista. A Prefeitura de São Paulo informou que "todas queixas serão apuradas" (leia abaixo).

CTA Zaki Narchi, na Zona Norte de São Paulo — Foto: Reprodução/Google
CTA Zaki Narchi, na Zona Norte de São Paulo — Foto: Reprodução/Google

A Caixa Econômica estabeleceu um calendário de saque de acordo com a data de aniversário do beneficiário, mas, de acordo com os relatos, funcionários dos CTAs transferiam o dinheiro para contas próprias e adiantavam o pagamento cobrando R$ 100 pela transação.

O auxílio emergencial é um benefício pago pelo governo federal durante a pandemia de coronavírus a trabalhadores informais, desempregados, contribuintes individuais do INSS e MEIs que cumpram os requisitos necessários. O auxílio de R$ 600 é disponibilizado conforme calendário divulgado. O pagamento teve início em 18 de julho, para nascidos em janeiro, e vai até 19 de setembro, para nascidos em dezembro.

O G1 teve acesso a um áudio gravado (ouça abaixo) por um morador de rua durante um diálogo com um funcionário do CTA Zaki Narchi que já fez “o serviço”:

Beneficiário do auxílio-emergencial: -Oi, bom dia, ô deixa eu te falar, tem como tu ver aquele bagulho que eu comentei lá contigo do dinheiro do auxílio?
Funcionário do CTA: -Demorô, demorô, (ininteligível)
Beneficiário: -Mas só a documentação?
Funcionário do CTA: -É o RG, CPF...
Beneficiário: Cobra quanto para fazer?
Funcionário do CTA: -Então, é o que o menino comentou com você mesmo...
Beneficiário: R$ 100?
Funcionário do CTA: -É, mas fala baixo. É serviço né, para dar uma força para vocês mesmo...
Beneficiário: - Beleza, mas consigo sacar hoje ainda?
Funcionário do CTA: -Dá para fazer a transferência para minha conta e aí no final do plantão a gente vê.
Beneficiário: É o moleque falou que você já fez para uma pá de gente, aí eu falei que eu ia fazer porque não consigo sacar o dinheiro do meu auxílio, cara..

As denúncias chegaram ao Padre Júlio Lancellotti, da pastoral do Povo da Rua, através de moradores dos CTAs onde a oferta do “serviço” estava sendo feita.

“Ganhar em cima da miséria e da pobreza é tão indigno quanto as pessoas que se inscreveram sem precisar. Eu fico indignado porque eu convivo com eles diariamente e vejo o quanto foi difícil inscrevê-los para receber esse auxílio. Nossa advogada Juliana foi acompanhar um morador de rua para receber a segunda parcela e foi adiada para setembro. Ele não entende e nem deixaram entrar no banco para ver o painel, é uma pessoa lesada pela rua. Mas conseguimos documentação dele, RG dele, mandou ele de Uber e conseguiu habilitar. Foi um sufoco conseguir a certidão de nascimento de Salvador. Aí depois de tudo isso, quem conseguiu o benefício, mas está com dificuldade de tirar seja por smartphones tem quem ainda fique com o dinheiro deles.”
Em nota, a Prefeitura de São Paulo, por meio da Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS), disse que "todos os serviços da rede socioassistencial são oferecidos de forma gratuita e está sempre à disposição para receber sugestões e reclamações pelos canais adequados. As contribuições de munícipes podem ser feitas pela Central SP156 - telefone, aplicativo e site ou ainda pela ouvidoria da Prefeitura de São Paulo. Todas as eventuais queixas são devidamente apuradas."

Fonte: G1

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