quarta-feira, abril 08, 2020

Calendário da rede pública de Educação no RN será modificado

Gestores da área da educação pública do Rio Grande do Norte aguardam o fim da quarentena para formular um novo calendário para o ano letivo da rede de ensino. Apesar de reconhecer que mudanças terão de ser feitas para compensar o período sem aulas presenciais, os gestores do Estado e do Município de Natal afirmam que ainda não é possível precisar como será o novo cronograma, já que não se sabe por quanto tempo os decretos de isolamento vão persistir. Até lá, professores da rede pública tentam dar continuidade ao processo de ensino e aprendizado dos estudantes, utilizando as ferramentas digitais disponibilizadas pelas administrações, mas com a consciência de que não conseguem alcançar todos os estudantes, já que muitos não dispõem de recursos como internet ou computadores.

Créditos: Adriano Abreu
Calendário da rede pública de Educação no RN será modificado ...
Um dos maiores colégios estaduais do Rio Grande do Norte, o Atheneu, em Natal, está fechado desde que o isolamento foi imposto


“Com certeza vai haver alterações no calendário de férias, por exemplo. O que a gente não tem, ainda, é quando e o como essas mudanças vão acontecer, porque isso vai depender muito de quanto tempo vai durar essa situação de contingência.”, afirma o titular da Secretaria do Estado da Educação, da Cultura, do Esporte e do Lazer (SEEC), Getúlio Marques. 

No dia 1º de abril, o presidente Jair Bolsonaro assinou a Medida Provisória 934, que determina que o ano letivo poderá ter menos que os 200 dias estipulados pela lei. Entretanto, a carga-horária mínima, de 800 horas para a educação infantil, ensino médio e ensino fundamental, ainda assim precisarão ser distribuídas entre os demais dias para serem concluídas, e a situação do calendário permanece incerta.

A Coordenadora de Qualidade Acadêmica da Universidade Potiguar (UnP), Karen Montenegro, explica que, nesse momento, é importante que os professores encontrem outras formas de estarem perto de seus alunos, apesar da distância geográfica provocada pelo isolamento. 

“Os professores podem interagir com seus alunos em tempo real, com aula remota expositiva interativa, utilizando o quadro branco e também disponibilizar as aulas gravadas. Podem também indicar materiais de estudo, como ebooks, vídeos, hiperlinks, quizzes e games; criar atividades, como, por exemplo, estudos de caso; e  usar enquetes e recursos de aplicativos como mentimenter e kahoot, oferecendo uma experiência de aprendizado completa, tanto na aula ao vivo, quanto nos momentos de estudo individual dos estudantes", diz a especialista.

Educação Estadual
No Estado, professores têm utilizado a plataforma “Sigaeduc” para oferecer conteúdos virtuais aos estudantes. A ferramenta do Governo do Estado permite utilizar aplicativos e ferramentas para aulas, e tem como objetivo dar continuidade ao processo educacional dos estudantes mesmo de casa. A professora A.C.*, que dá aulas em uma escola da rede estadual localizada na zona Oeste de Natal, é uma das que têm investido na produção de conteúdo para seus alunos, mas esbarra diariamente nas dificuldades impostas pelas diferentes situações econômicas e sociais das famílias dos estudantes. 

“Nós sabemos que há realidades diferentes. Boa parte das escolas privadas já trabalha essa questão das videoaulas e algumas já têm até programas com isso, porque muitos livros que eles adotam já vem com esse sistema”, relata a professora. Sem instruções sobre como preparar uma videoaula ou material específico para isso, ela conta que professores da rede pública têm tentado gravar vídeos para os alunos a partir do material didático disponível. 

“A questão é que nem todo aluno tem acesso à internet. Além disso, nem toda família tem um computador, um tablet… é algo que não abarca todos os alunos. Isso não está nos impedindo de passar algumas atividades mas, em um primeiro momento, não enxergamos isso como uma compensação de carga-horária, porque não chega a todos”, completa.

Educação Municipal
No município de Natal, a Secretaria Municipal de Saúde pretende lançar uma página virtual na qual assessores pedagógicos possam sugerir à professores e gestores links de  atividades lúdicas e educativas para serem compartilhadas entre alunos e pais. A ideia da Prefeitura é reunir atividades para faixas etárias que vão desde a Educação Infantil ao Ensino de Jovens e Adultos. “Na página também constarão informações sobre os cuidados necessários para lidar com a pandemia, de forma que a Covid-19 não seja propagada, além de apresentar links direcionados a alguns parceiros, como Mind Lab e Clickideia, que puseram de forma gratuita seus portais à disposição de professores e alunos”, diz a secretária de educação de Natal, Cristina Diniz. 

De acordo com ela, o portal ainda está passando por ajustes técnicos antes do lançamento, e deve ser utilizado após a pandemia como canal de comunicação para as formações pedagógicas da rede de ensino do município de Natal. “Essas são as nossas ações, porém não vamos considerar essas atividades como dias letivos, porque consideramos muitos pontos que não são favoráveis à atividades online, por exemplo, a falta de acesso da nossa população educacional às redes sociais, aos computadores e celulares”, afirma a secretária. De acordo com ela, outras dificuldades identificadas são a capacidade do professor de fazer o papel de intermediação das atividades passadas e a disponibilidade e acesso dos pais à internet. 

“Tudo isso é impeditivo para contar essas horas como horas-aulas. As atividades são sugestivas neste momento de pandemia para que as crianças, jovens e adultos possam manter o contato com as escolas dessa forma virtual, se puderem, se for possível. Lembrando que não haverá avaliações em cima desses conteúdos para não prejudicar aqueles alunos que por motivos de força maior não tiverem acessos a esses conteúdos”, completa Cristina. 

Estudo em casa
Vanusa da Silva Nascimento, de 38 anos, é uma das mães que passou a acompanhar, ao lado dos filhos, as atividades virtuais passadas pelos professores. Mãe de dois meninos, com idades de 10 e 4 anos, um deles aluno da rede estadual de ensino, ela conta que ficou aliviada ao ver que as atividades digitais estavam sendo adotadas pelos professores durante o período de isolamento. “A professora dele tem sido muito atenciosa. Ela criou um grupo com os pais, onde estamos sempre interagindo e ela está sempre tirando nossas dúvidas.”, diz Vanusa. 

De acordo com ela, as atividades passadas pela professora do filho são, principalmente, voltadas para a prática da leitura. “Eu costumo colocar ele tanto para ler os livros que receberam na escola, como também alguns que são disponibilizados pela professora em PDF. A minha preocupação em relação a eles serem prejudicados na escola com os conteúdos que não estão recebendo existe, mas, por outro lado, eles não estão em casa sem fazer nada. Estamos sempre buscando formas em que eles possam estar aprendendo novas coisas”, diz. 

Fonte: Tribuna do Norte

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Sua opinião é muito importante para nós, comente essa matéria!