terça-feira, novembro 12, 2019

Número de focos de incêndio no RN é o maior desde 2009

Em onze meses, 500 focos de incêndio foram registrados no Rio Grande do Norte, o número mais alto desde 2009, de acordo com a série histórica do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O número já supera o total do ano de 2018, que teve 456 ocorrências nos 12 meses do ano. O Instituto, que faz o monitoramento via satélite dos focos de incêndio em todo o país, também identificou que 98,2% dos focos que surgiram no RN em 2019 estão concentrados na caatinga, bioma que cobre cerca de 80% do território do estado.

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A maior parte dos focos de incêndio registrados no estado pelo Instituto aconteceu nos meses de setembro, outubro e novembro. Em setembro, foram 81 focos identificados, número que quase triplicou em outubro, quando foram registrados 235. Em novembro, em apenas 11 dias, o número identificado pelo Inpe no estado já chega a 99. 

As razões, de acordo com o major João Eduardo, do Corpo de Bombeiros Militar do RN (CBM), estão relacionadas ao fato de que, este ano, o estado recebeu uma quantidade um pouco maior de chuvas do que nos anos anteriores no inverno e, com a chegada da estação seca, as folhagens recuperadas pela vegetação tendem a facilitar o surgimento de incêndios. “Estamos em um período seco, então a vegetação fica ressecada e pega fogo rapidamente. Com isso, uma bituca de cigarro que é jogada ou queimadas em algum terreno acabam sendo projetadas por causa do vento, e ganham proporções muito maiores”, explica. As bitucas e lixo acumulado são, de acordo com ele, alguns dos principais responsáveis pela origem dos incêndios florestais. 

Alguns municípios, como foi o caso de Portalegre e Viçosa, ambos no Alto Oeste potiguar, tiveram situação de emergência decretada pelo Governo do Estado no mês de setembro em decorrência do aumento do número de incêndios florestais, que causaram danos graves à fauna e à flora, de acordo com a publicação. 

No fim de semana de 9 a 10 de novembro, ao menos cinco locais de serra tiveram focos de incêndio identificados no Rio Grande do Norte: Francisco Dantas, Patu, Luís Gomes, Antônio Martins e Serrinha dos Pintos, todos no Oeste e Alto-Oeste potiguar. De acordo com o relatório do Inpe, o município de Mossoró foi o que registrou a maior quantidade de focos no estado em 2019 (71), equivalente a 12,2% do total de incêndios. O município é seguido por Apodi (34 focos), Porto do Mangue (29 focos) e Governador Dix-Sept Rosado (26 focos), o que mostra que a região Oeste foi a mais afetada pelas queimadas. 

O major do Corpo de Bombeiros ainda destaca que os números apresentados pelo Inpe não representam a totalidade de ocorrências do estado. “Os focos menores, que acabam surgindo em beiras de estrada, acabam não sendo identificados pelos satélites, mas esses também estão crescendo”, diz. 
Os mais prejudicados pelas queimadas, de acordo com o CBM, são os seres humanos que convivem nessas áreas, que acabam perdendo terras férteis, animais e sofrendo com problemas respiratórios causados pela fumaça. “Há perda de plantações, de animais e as pessoas com problemas de saúde acabam tendo suas condições agravadas, por isso dizemos que o maior prejuízo é aos seres humanos. Mas evidentemente, há danos consideráveis à vegetação e aos animais”, afirma o major João Eduardo. 

Terrenos baldios são alvo na Grande Natal
De acordo com dados do Corpo de Bombeiros Militar do Rio Grande do Norte, de janeiro a novembro, foram identificados 66 incêndios florestais na região metropolitana de Natal, número um pouco menor do que os 70 registrados em 2018 no mesmo período. A maior parte das ocorrências da região metropolitana da capital, no entanto, não está concentrada nas florestas, e sim em terrenos baldios, onde já foram identificados 330 incêndios pelo CBM este ano. 

De acordo com os bombeiros, a quantidade de incêndios sempre será maior no interior, onde além de estarem mais distantes das brigadas de combate ao fogo, eles acabam se alastrando com mais facilidade nas regiões serranas e abertas. Em regiões como o Seridó, os incêndios chegam a durar cinco dias antes de serem apagados, como aconteceu em Serra do Lima, no município de Patu, em setembro. O mesmo aconteceu nos municípios de Portalegre e Viçosa. 

Um dos problemas enfrentados pelo CBM é a falta de efetivo para conseguir atender o crescente número de chamadas, tanto no interior como na capital. “Vamos receber um acréscimo de 80 novos bombeiros, o que vai nos ajudar nesse sentido. Mesmo assim, não é um efetivo suficiente”, afirma o major João Eduardo. 

Treinamento
Atualmente, o CBM não dispõe de pessoal treinado e equipamento para realizar, por exemplo, a perícia dos incêndios florestais que acontecem no Estado. “Com a nova taxa de bombeiros, isso pode mudar, pois possivelmente vamos ter condições de enviar alguém para o curso no ano que vem”, completa. A perícia é fundamental para determinar as causas de todos os incêndios, sejam eles urbanos ou florestais. Para executá-la, são necessários equipamentos, laboratórios e pessoal especializado nesse tipo de atividade, três coisas das quais o Rio Grande do Norte não dispõe até o momento. 

Em outubro, o CBM anunciou uma compra emergencial, com dispensa de licitação, de equipamentos para combater o grande número de incêndios que estão acontecendo esse ano no estado. Entre os equipamentos adquiridos estão bombas costais, automóveis, pás e rasteios para limpar os terrenos, equipamentos de proteção e sopradores. A compra também foi feita com recursos da taxa de bombeiros, que a partir deste ano passou a ser cobrada no IPVA, e que tem os recursos arrecadados destinados para o Fundo Especial de Reaparelhamento da corporação. 
Bioma terá dificuldades para recuperação 
A caatinga é um bioma tipicamente brasileiro, que se apresenta em todos os estados do Nordeste do país, assim como no Norte de Minas Gerais. Ela apresenta um clima semiárido, com uma vegetação capaz de se adaptar aos períodos de seca e uma grande biodiversidade, abrangendo cerca de 11% do território brasileiro.

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João Eduardo, major do Corpo de Bombeiros Militar do RN

Ao todo, foram 11.121 focos registrados nos dez estados onde a Caatinga está presente, sendo a maior parte deles (42,4%) no Piauí, que teve 4.716 focos de incêndio identificados pelo Inpe em 2019. O Rio Grande do Norte é o 5º da lista, responsável por 4,4% do total de incêndios que aconteceram na caatinga brasileira esse ano. 

Jeferson Dombroski, professor do Departamento de Ciências Agronômicas e Florestais da Universidade Federal Rural do Semiárido (Ufersa), que estuda o crescimento e recuperação de áreas degradadas, afirma que a situação do bioma está “cada vez mais complicada”, devido a uma série de fatores que se somam às queimadas, como o aumento da temperatura do planeta. 

“Isso já vem acontecendo há milhares de anos, mas vem se intensificando nos últimos tempos. As plantas da Caatinga já estão diminuindo cada vez mais, e esses incêndios contribuem para deixar o clima ainda mais seco, reduzir a quantidade de sementes disponíveis e destruir plantas ainda jovens”, afirma Dombroski. 

Com isso, acaba-se criando um ciclo que facilita o surgimento de novas queimadas e, ao mesmo tempo, dificulta o surgimento de novas plantas, contribuindo para a desertificação da região. 

“Esses grandes momentos de queimadas são um aviso de que as coisas já estão muito sérias, e merecem uma atenção especial principalmente para a recuperação das áreas afetadas. As pessoas que dependem da Caatinga para viver estão se deparando com um clima cada vez mais seco e mais pobre, com menos alimento para os animais, por exemplo”, ressalta Dombroski. 

As abelhas, outra fonte de sustento encontrada por muitas das pessoas que vivem nas regiões de Caatinga, também vem sendo prejudicada pelo aumento das queimadas, que destroem as flores necessárias à polinização e os próprios animais, que são afetados pela fumaça e pelo fogo. “O que está acontecendo é uma diminuição da biomassa, a massa viva desse bioma: plantas, animais. Não é apenas da sobrevivência dessas espécies que estamos falando, mas de todos que dependem delas, inclusive os seres humanos e o próprio clima”, afirma. 
Série histórica de focos de incêndio no Rio Grande do Norte
1998   -   172

1999   -   287

2000  -    145

2001  -    296

2002  -    831

2003   -   1.547

2004  -    825

2005   -   1.001

2006   -   734

2007   -   774

2008  -    597

2009  -    659

2010  -    628

2011  -    464

2012    -  432

2013   -   250

2014  -    317

2015  -   402

2016  -    378

2017  -    351

2018   -   456

2019*   -  500
* até o dia 10 de novembro

Fonte: Tribuna do Norte

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