terça-feira, novembro 19, 2019

Ex-presidente do Paraguai Horacio Cartes é alvo de mandado de prisão na Lava Jato

O ex-presidente do Paraguai Horacio Cartes é alvo de mandado de prisão preventiva em um desdobramento da Lava Jato nesta terça-feira (19).

O ex-presidente do Paraguai, Horacio Cartes, em foto de 5 de abril — Foto: Reuters/Jorge Adorno
O ex-presidente do Paraguai, Horacio Cartes, em foto de 5 de abril — Foto: Reuters/Jorge Adorno

A suspeita é que ele tenha ajudado na fuga de Dario Messer, considerado o doleiro dos doleiros. Messer está preso desde o fim de julho.

A decisão é do juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal fluminense, e Cartes terá o nome inserido na Difusão Vermelha da Interpol – a lista de procurados distribuída em aeroportos do mundo todo.

A decisão diz que, em junho de 2018, quando estava foragido, Messer mandou uma carta ao ex-presidente do Paraguai pedindo US$ 500 mil para cobrir gastos jurídicos.


O valor, escreveu Bretas, foi repassado ao doleiro por intermédio de Roque Fabiano Silveira, um dos procurados desta terça-feira.

De acordo com a agência de notícias AFP, Carlos Palacios, um dos advogados de Cartes, afirmou à imprensa que o ex-presidente paraguaio está tranquilo e que a defesa desconhece a decisão do juiz Marcelo Bretas.

"Cartes sempre respondeu e não tem vínculos comerciais ou societários com [Dario] Messer. Ele nega de maneira enfática. Cartes e Messer não são sócios em negócios. Cartes está muito tranquilo", afirmou Palacios.

Até a última atualização desta reportagem, a Polícia Federal havia prendido quatro pessoas de um total de 20 mandados de prisão -- os demais estão no exterior.

Myra Athayde, namorada de Dario Messer, presa no Rio;
Najun Azario Flato Turner, doleiro, preso em São Paulo;
Orlando Stedile, preso no Rio;
Valter Pereira Lima, segurança, preso em São Paulo.

A Operação Patrón
A operação, batizada de Patrón, é um desdobramento da Câmbio Desligo. Em espanhol, a palavra significa "patrão" e é o termo reverencial com que Messer se referia a Cartes. O ex-presidente paraguaio é amigo da família Messer.

Desta vez, a ação tem como alvos pessoas que o ajudaram a fugir ou a ocultar seu patrimônio.

A ação visa a cumprir mandados judiciais no Rio, em Búzios, em São Paulo e em Ponta Porã (MS), na fronteira com o Paraguai.

Pedidos de prisão preventiva

Alcione Maria Mello de Oliveira Athayde
Antonio Joaquim da Mota
Arleir Francisco Bellieny
Cecy Mendes Goncalves da Mota (mãe)
Dario Messer
Edgar Ceferino Aranda Franco
Felipe Cogorno Alvarez
Horacio Manuel Cartes Jara
Jorge Alberto Ojeda Segovia
José Fermin Valdez Gonzalez
Lucas Lucio Mereles Paredes
Luiz Carlos de Andrade Fonseca
Maria Leticia Bobeda Andrada
Myra de Oliveira Athayde
Najun Azario Flato Turner
Roland Pascal Gerbauld
Roque Fabiano Silveira
Pedidos de prisão temporária

Antonio Joaquim Mendes Gonçalves da Mota
Orlando Mendes Gonçalves Stedile
Valter Pereira Lima
Questionado ao chegar à PF em São Paulo, se gostaria de fazer algum comentário sobre a prisão, Najun Turner respondeu: "Nada, não tenho a menor ideia".

'Hermano de alma'
A força-tarefa da Lava Jato afirma que Dario Messer é amigo de longa data de Horacio Cartes.

"O relacionamento da família Messer com a família Cartes se iniciou na década de 80, quando Dario fundou a Cambios Amambay SRL -- atual Banco Basa --, tendo como acionista majoritário o pai do ex-presidente", escreveu Bretas na decisão.

Ainda segundo o MP e a PF, na década de 90, Horacio e Dario adquiriram uma fazenda juntos.

Em 2016, em um evento público, Horacio -- já como presidente -- declarou que Dario seria seu "irmão de alma" ("hermano de alma").


Segundo imagens colhidas no celular de Dario em junho de 2018 — logo após a deflagração da Operação Câmbio Desligo —, o “doleiro dos doleiros” encaminhou uma carta para o “Patrão” solicitando US$ 500 mil para seus gastos iniciais jurídicos, que deveriam ser entregues a Roque.

O MP afirma que “Patrão” é Horacio Cartes. “A carta de fato foi entregue e Roque passou a ser intermediário entre Horacio e Dario”, detalha Bretas.

Nos diálogos, Roque informa que o melhor período, indicado por Horacio, para Dario se entregar às autoridades paraguaias seria após 15 de agosto, quando encerraria o mandato de Horacio.

Já em março de 2019, em conversa com a advogada, Dario assinala que Julio, seu irmão que mora em Nova York, conseguiu falar com seu “hermano de alma” e que as coisas iam ficar mais calmas.

Cartes deixou o poder em 2018
O ex-presidente paraguaio Horacio Cartes deixou o poder em agosto de 2018 após cinco anos de mandato.

O empresário, considerado um dos mais ricos do Paraguai, chegou ao poder em abril de 2013. Sua eleição representou o retorno ao poder do conservador Partido Colorado, que dominou a política local durante 60 anos, incluindo os mais de 30 anos da ditadura de Alfredo Stroessner.


A hegemonia do partido havia sido interrompida em 2008, ano da eleição de Fernando Lugo, deposto do cargo em 2012.

O ex-chefe de Estado paraguaio é presidente do Grupo Cartes, um conglomerado de empresas que produzem bebidas, cigarros e charutos, roupas e carnes, além de gerenciar diversos centros médicos.

Ele se associou ao Partido Colorado apenas em 2009. Por isso, quando assumiu a Presidência da República, aos 56 anos, ele era considerado novo na política.

Porém, ele já era muito conhecido por sua trajetória empresarial. Após cursar a universidade nos Estados Unidos, ele retornou ao Paraguai para iniciar sua vida no mundo dos negócios, na empresa do pai, Ramón Telmo Cartes Lind.

Doleiro dos doleiros
Messer estava foragido desde maio de 2018, quando foi deflagrada a Operação Câmbio Desligo. A investigação descobriu que doleiros movimentaram US$ 1,6 bilhão em 52 países.

Na semana passada, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes negou um pedido de liberdade a Messer.

O doleiro responde a inquéritos policiais desde o fim dos anos de 1980. Neste período, movimentou dinheiro de forma suspeita de políticos, empresários e criminosos.

A investigação identificou que ele ocultou US$ 17 milhões em Bahamas e outros US$ 3 milhões pulverizou no Paraguai através de doleiros, casas de câmbio, empresários, políticos e uma advogada.

Fonte: G1

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