quarta-feira, agosto 07, 2019

Salles diz que dados sobre desmatamento na Amazônia são 'interpretações sensacionalistas'

O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, disse nesta quarta-feira (7) em audiência na Câmara dos Deputados que os percentuais de desmatamento da Amazônia divulgados recentemente “são interpretações sensacionalistas e midiáticas” feitas por “aqueles que manipulam para criar factóides” e “conseguir mais doações das ONGs estrangeiras para os seus projetos pessoais”.

O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, participou de audiência pública na Câmara dos Deputados nesta quarta-feira (7) — Foto: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados
O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, participou de audiência pública na Câmara dos Deputados nesta quarta-feira (7) — Foto: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados

Salles afirmou ainda aos deputados que o governo federal admite haver desmatamento na Amazônia, mas não do tamanho dos números divulgados recentemente pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

A discordância do governo sobre os números levou à demissão, na semana passada, do então diretor do Inpe, Ricardo Osório Galvão.

Salles afirmou na Câmara que o Inpe, "enquanto instituição", deve ser respeitado. Segundo o ministro, são pessoas, e não o instituto, que fizeram as interpretações consideradas por ele como "sensacionalistas".

“Na semana passada, fizemos uma verificação de várias dessas informações utilizadas por terceiros. Não foi o órgão permanente, o Inpe, enquanto instituição, que é respeitada e deve ser respeitada, que fez essas interpretações sensacionalistas e midiáticas. Foram aqueles que manipulam para criar factoides, para criar impacto na imprensa e, quem sabe, conseguir mais doações das ONGs estrangeiras para os seus projetos pessoais”, declarou Salles.
Dados do sistema Deter, do Instituto de Pesquisas Espaciais, apontam que as áreas com alerta de desmatamento na Amazônia Legal (abrange 9 estados) tiveram um aumento de 278% em julho, em comparação ao mesmo mês de 2018.


Nesta quarta (7), Bolsonaro afirmou em que receberá dados "alarmantes" de desmatamento antes que sejam divulgados. Os números são públicos e ficam disponíveis na plataforma Terra Brasilis desde 2017.

Na audiência na Câmara, Salles afirmou não haver "o menor interesse em esconder os dados", mas disse que eles não "podem ser manipulados".

Mais tarde, em uma audiência pública no Senado para falar sobre as mudanças no Fundo Amazônia, o ministro do Meio Ambiente afirmou que Ricardo Galvão foi demitido da diretoria do Inpe por, na visão do governo, ter dado "declaração midiática".

De acordo com Ricardo Salles, cabia ao agora ex-presidente do Inpe ter colocado um "ponto de razoabilidade e bom senso" ao assunto, mas, em vez disso, Galvão "botou lenha na fogueira", na avaliação do Executivo federal.

"Quinhentos dos maiores alertas, na verdade, foram desmatados de agosto de 2018 a junho de 2019. Em vez de se fazer a alocação temporal, se computou todos eles em junho de 2019, para dar o número sensacionalista de 88%", alegou aos senadores o titular do Meio Ambiente, referindo-se ao alerta do Deter de que o desmatamento em junho deste ano havia aumentado 88% em comparação com o mesmo período do ano passado.

Clima tenso
A audiência ocorreu em clima tenso, com embates entre o ministro e deputados da oposição. No momento mais crítico, houve tumulto e Salles chegou a bater boca com o deputado Nilto Tatto (PT-SP).

A confusão começou quando Tatto citou a declaração de Bolsonaro de que ele era o "capitão motosserra", ao ironizar os dados sobre desmatamento. O deputado petista afirmou ainda que o ministro era o office-boy de uma política que prejudica o meio ambiente e a biodiversidade.

"O senhor hoje é o melhor ministro da Agricultura no Ministério do Meio Ambiente, porque conceitualmente o Ministério da Agricultura sempre foi para desmatar, para destruir [...] O senhor é o office-boy desse modelo de desenvolvimento que quer destruir os recursos naturais, comprometer a vida no futuro", declarou Tatto.


Ele ainda comparou o ministro aos bandeirantes que, segundo o deputado, matavam lideranças indígenas que não aceitavam ser "cooptadas". "A ação que o senhor faz é do novo bandeirantismo, que vai lá cooptar, matar. Vai cooptar uma liderança em detrimento da organização daquele povo, desrespeitando a identidade, a associação dele. E, se não cooptar, faz-se como sempre se fez: mata", completou o parlamentar.

Em meio à confusão, Salles rebateu as acusações. "Eu não sou office-boy de coisa nenhuma. Quem deve saber muito é o pessoal que está envolvido lá no Celso Daniel", afirmou o ministro, em referência ao então prefeito de Santo André, que era filiado ao PT e foi assassinado em 2002.

Nesse momento, deputados de esquerda se insurgiram contra o ministro e o chamaram de fascista. Dirigindo-se a Tatto, Salles continuou: "Se quer saber sobre a questão de invasão de terra, grilagem e desrespeito às áreas, eu recomendo que o senhor vá conhecer uma região lá no sul de São Paulo, conhecida, sabe como? Tatolândia".

Os ânimos ficaram ainda mais exaltados na comissão. Tatto rebatou chamando-o de "moleque". Em meio ao bate-boca entre parlamentares, o deputado Átila Lins (PP-AM), que presidia a audiência pública, encerrou os trabalhos sob o argumento de que a fase de votações havia sido aberta no plenário principal da Câmara. Em teoria, pelas regras regimentais, a audiência poderia ter continuado

Metodologia
O ministro voltou a explicar, a exemplo do que fez em entrevista coletiva no Palácio do Planalto na semana passada, que foram analisados os alertas de desmatamento de junho e se verificaram algumas "inconsistências" na divulgação das informações. Segundo ele, a primeira foi considerar o desmatamento ocorrido entre agosto de 2018 a junho de 2019, como se tivesse ocorrido todo no mês de junho.

"Quem imputou foram aqueles que tomaram os dados e fizeram interpretações muito peculiares para gerar esse impacto do suposto percentual de 88%", afirmou o ministro.


A segunda inconsistência analisada, segundo ele, foi a sobreposição de desmatamentos anteriores.

Ainda de acordo com o ministro, um terceiro tipo de inconsistência encontrada foi o "falso positivo", em que parece ter havido desmatamento quando, na verdade, a área já era menos densa.

Salles disse que a divulgação do percentual de junho, assim como de julho, seguiram a mesma lógica, a do "sensacionalismo". "Então, nós estamos falando de dados comprovadamente inconsistentes que servem para dizer que esta lógica do sensacionalismo e do percentual no momento de junho 2019, que foi usado para dar toda essa repercussão midiática, como esse outro dado recente de duzentos e setenta e poucos por cento, é a mesma lógica", afirmou.

A audiência ocorreu em clima tenso, com embates entre o ministro e deputados da oposição.

'O mundo está preocupado'
Presidente da Comissão de Meio Ambiente do Senado, o senador Fabiano Contarato (Rede-ES) foi na tarde desta quarta-feira uma das vozes mais duras no Senado contra a política ambiental do governo Jair Bolsonaro.

Após enfatizar que era desejo do presidente da República extinguir o Ministério do Meio Ambiente assim que assumiu o comando do Palácio do Planalto, o senador oposicionista lembrou que o atual governo, entre outras ações, pôs fim à indicação de especialistas ambientais para cargos de gestão do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

Para esses cargos estratégicos da estrutura ambiental, criticou Contarato, o governo federal nomeou militares e policiais militares "sem preparo" para lidar com as questões do meio ambiente.

"Eu até questiono quando dizem que é uma questão de soberania. O direito ambiental, o meio ambiente, transcende o Estado brasileiro. É uma questão de direito planetário. O direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado é uma garantia constitucional previsto no artigo 225", ponderou o senador da Rede.


Diante do ministro do Meio Ambiente, Fabiano Contarato afirmou que o governo Bolsonaro está "desmantelando" a estrutura da pasta responsável pela fiscalização ambiental.

"Temos que entender que esse governo, com essas condutas que tem aqui demonstrado através do Ministério do Meio Ambiente, está desmantelando [a pasta]. E isso o mundo está preocupado."

"Queria muito ouvir do ministro o motivo pelo qual, qual é a razão para ter esse tipo de comportamento de desmantelamento do Ministério do Meio Ambiente, violando esse direito humano essencial e um direito nosso constitucional expresso no artigo 225 da Constituição", complementou o senador do Espírito Santo.

Fonte: G1

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