quinta-feira, maio 18, 2017

Governo faz 'silêncio total', diz pai de preso desaparecido após massacre no RN

Francisco diz que já perdeu as esperanças do filho estar vivo, mas que gostaria de lhe dar um sepultamento digno (Foto: Reprodução/Inter TV Cabugi)

"Silêncio total, nos ignoram totalmente. A gente chega e é o pessoal dando as costas.” A situação de Francisco Luiz da Silva, pai de um dos detentos desaparecidos após o massacre ocorrido em janeiro na maior penitenciária do Rio Grande do Norte, é a mesma de outros familiares de presos que buscam, sem sucesso, descobrir seu paradeiro, como mostrou a Inter TV Cabugi.
Francisco é pai do atleta Guilherme Ely Figueiredo da Silva, de 37 anos, que estava preso no Pavilhão 4 da Penitenciária de Alcaçuz quando estourou a rebelião, no dia 14 de janeiro. “Estamos aqui entregues ao deus-dará. Não sei se vou viver, vai ter uma grande matança e ninguém toma providências”, teria dito ele ao pai por telefone, dois dias antes.

Massacre de presos foi comandado por membros de uma facção criminosa (Foto: Josemar Gonçalves/Reuters)
Massacre de presos foi comandado por membros de uma facção criminosa (Foto: Josemar Gonçalves/Reuters)

No dia 14, presos do Pavilhão 5 ligados ao Primeiro Comando da Capital (PCC) invadiram o Pavilhão 4 e mataram pelo menos 26 presos que lá estavam e não conseguiram fugir para o telhado, dando início à rebelião mais violenta da história do estado. Quinze das vítimas foram decapitadas, e outras foram esquartejadas ou tiveram os corpos mutilados.
Quatro meses depois, a família já pediu informações ao Instituto Técnico-Científico de Perícia (Itep), à Secretaria de Estado da Justiça e da Cidadania (Sejuc) e à diretoria de Alcaçuz, mas continua sem notícias de Guilherme. “Eles dizem que aguarde um ano que vão descobrir corpos que tinham sido enterrados lá em Alcaçuz”, relata o pai do atleta.

Segundo o secretário da Justiça e da Cidadania, Luis Mauro Albuquerque Araújo, o caso de Guilherme foi encaminhado ao Setor de Inteligência da Sejuc e está sendo apurado. Ele afirma que pediu informações ao Itep e “celeridade” na investigação.

Desaparecidos
O coordenador estadual da Pastoral Carcerária, o padre Hugo Maciel, conta que muitos familiares recorrem à organização para obter informações. “Aqueles [detentos] que conversavam comigo diziam que realmente o número de mortos era muito superior a isso [26], a gente não consegue ainda entender por que o Estado não consegue fazer o seu papel”, critica.
Um relatório elaborado pelo Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura aponta que 71 presos de Alcaçuz estão desaparecidos. Oficialmente, segundo o governo do estado, 26 presos foram mortos durante a rebelião e 56 são considerados fugitivos.
Em resposta ao documento do Mecanismo de Combate à Tortura, o titular da Sejuc informou que outro relatório, elaborado pelo Departamento Penitenciário Estadual (Depen), indicou que 60 dos 71 desaparecidos foram localizados após mutirão de revisão de processos feito pela Defensoria Pública do RN. A maioria estaria em outras unidades prisionais, e 11 continuariam desaparecidos.

Fonte: G1

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