quarta-feira, março 02, 2016

Padre sofre ameaças por abrigar no DF famílias expulsas por milícia do RJ

O padre polonês Pedro Stepien, que afirma ser alvo de ameaças de milícias do RJ, segurando banner com fotos de vítimas (Foto: Raquel Morais/G1)O padre polonês Pedro Stepien denunciou na web ameaças que vem sofrendo e suposta falta de amparo do governo federal desde que escondeu em Brasília seis
famílias expulsas por milícias cariocas de casas do programa Minha Casa, Minha Vida. O padre registrou boletim de coorrência na polícia. "Os milicianos nos enviam de vez em quando as fotos das famílias que foram expulsas falando ‘se amanhã você não for para o Rio, nós matamos membro da sua família’".
De acordo com o religioso, as habitações populares foram construídas em terrenos gerenciados pela milícia. O grupo se intitula “Liga da Justiça”. A Polícia Civil do Rio de Janeiro investiga o caso. No dia 26, agentes apreenderam planilhas com valores de cobranças ilícitas feitas pelos milicianos contra comerciantes da Zona Oeste carioca, nas proximidades de condomínios do programa habitacional. 
Stepien conta que conheceu o primeiro casal que havia fugido dos criminosos nos corredores do Congresso Nacional. Entre os refugiados há ainda viúvas e dez crianças, com idades entre 3 e 7 anos. A perseguição ao padre começou justamente após uma audiência pública na Câmara dos Deputados em 2015, quando ele denunciou a atuação da milícia.
O padre afirma ter recebido três ameaças desde então. As mensagens chegam por WhatsApp. "Pare de buscar ajuda onde não terá. Cuide de sua igreja e deixe de se meter em causas que não são suas. Esta é a última vez que avisamos. [...] Dez famílias serão expulsas de casa e um pai morrerá. E a culpa é dele [um dos refugiados] e sua", diz uma delas.
Outras mensagens trazem fotos de familiares de uma das pessoas abrigadas pelo padre e até dos arredores da igreja onde ele atua, no Novo Gama, no Entorno do DF. Os autores das ameaças dizem "ser próximos" a deputados, policiais e senadores. O responsável por uma das ameaças enviou uma foto em que supostamente aparece dentro de uma delegacia.
Em uma das mensagens mais recentes, os criminosos são mais objetivos: "Quem avisa amigo é". "É, padre, o senhor não tem jeito, já não dissemos que não adianta procurar deputados e senadores? Acha que somos idiotas? Estamos de olho em tudo. Está arrumando alguma solução aí agora? Claro que não! Entenda de uma vez, nosso problema é com Roberto [um dos ameaçados] e as famílias, e nós vamos resolver, polícia e políticos nos ajudarão."

Mensagem recebida no celular pelo padre polonês Pedro Stepien; religioso afirma ser alvo de ameaças de milícias do RJ (Foto: Raquel Morais/G1)Mensagem recebida no celular pelo padre polonês Pedro Stepien; religioso afirma ser alvo de ameaças de milícias do RJ (Foto: Raquel Morais/G1)

As mensagens dão a entender que os milicanos conhecem a rotina do religioso. "Então, padre, volta para casa, cuide de missa e de laranjas e deixe que as coisas aconteçam naturalmente", diz o texto. As frutas são em referência a uma horta comunitária gerenciada por Stepien nas proximidades da igreja.
O religioso diz ter tido audiências canceladas com políticos depois das ameaças. A Polícia Federal informou que não confirma nem comenta investigações em andamento. Em nota, o Ministério da Justiça declarou não ter conhecimento sobre o caso.

“Milicianos nos ameaçam, perseguem e matam. Governo nos abandonou. Deputados nos traíram. Senadores nos evitam. Justiça é cega e fica longe de nós. Ministro da Cidade não quer nos receber. Esta é história das pessoas que foram expulsas do condomínio ‘Minha casa, minha morte’”, disse ao G1. A reportagerm procurou o Ministério das Cidades, que não se posicionou sobre o assunto,
Em nota, o Ministério da Justiça informou que criou, junto com o das Cidades, um grupo interministerial em 2014 "para integrar ações de prevenção a condutas ilícitas no âmbito de programas habitacionais, especificamente o Minha Casa, Minha Vida".

"Os dois ministérios firmaram também acordo de cooperação com o Rio de Janeiro, a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil para que as polícias Civil e Federal atuem conjuntamente na investigação de denúncias de fraudes e de expulsão de famílias de imóveis populares no estado. Hoje, o grupo conta com representantes de todos os estados em que houve denúncias envolvendo os imóveis do Programa", diz o texto do MJ.

O ministério diz ainda que todas as denúncias que recebe são apuradas ou encaminhadas para a polícia. "O grupo interministerial concentra as denúncias e promove o suporte de integração de dados e informações com os órgãos estaduais de segurança pública, responsáveis pela apuração dos delitos identificados.  (...) As polícias locais investigam os casos e identificam a quantidade de imóveis e vítimas em cada empreendimento."

"É um trabalho sistêmico e mais complexo, portanto medidas estão sendo tomadas diariamente. Exemplos são as prisões, no Rio de Janeiro, decorrentes de operações recentes feitas por delegacias especializadas da Polícia Civil local, como a da síndica de um condomínio acusada de envolvimento", completa o ministério.

Providências
O padre conta que enviou enviou as seis famílias aos cuidados de amigos na Bahia, Espírito Santo e Minas Gerais há pouco mais de uma semana. Ele continua ajudando na manutenção dos 20 refugiados, mas diz que o grupo tem vivido em situação precária. Não há locais adequados para dormir e nem sempre a alimentação é suficiente.
Stepien também afirma que não mudou de rotina por conta das ameaças. A Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro segue abrindo as portas todas as noites. Além disso, o religioso mantém as visitas a doentes e realiza missas no Gama, região administrativa do Distrito Federal.
No Brasil há 14 anos, o homem se diz decepcionado com a situação. Colegas da Polônia ligaram para saber como ele está. Uma cantora, que não teve a identidade revelada pelo padre, ofereceu as passagens para que ele pudesse voltar para a Europa.

Fonte: G1

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