terça-feira, fevereiro 16, 2016

RN registra centenas de casos de câncer infantil em 2015

Falta de diagnóstico preciso e de medicamentos específicos dificultam o acesso a um tratamento adequado (Foto: Reprodução/Internet)No Dia Internacional do Câncer Infantil, lembrado nesta segunda-feira (15), dados do Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca) estimam
que, entre 2016 e 2017, vão ocorrer cerca de 12,6 mil novos casos da doença em crianças e adolescentes no Brasil. No Rio Grande do Norte, cerca de 300 casos foram registrados no ano passado.

Wilson Cleto, é pediatra oncologista no Hospital Infantil Varela Santiago, referência no tratamento do câncer infantil em Natal. Para o médico “a dificuldade de fazer o diagnóstico e o acesso a tecnologia hospitalar dificultam o tratamento dessas crianças”.

A opinião é corroborada pela Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica (Sobope) que ainda aponta a falta de medicamentos específicos. Segundo a presidenta da Sobope, Teresa Fonseca, não houve, no país, um aumento da taxa de cura como era esperado, se comparado a outros países.

“Há 30 anos [a taxa] se mantém em uma linha reta, ela não avança em nenhuma região do país”, disse, explicando que em torno de 70% das crianças são curadas, quando são diagnósticas a tempo e tratadas em centros especializados. Fora desse contexto, a taxa de cura no Brasil é de 48%, estando muito aquém de países como Estados Unidos e Alemanha, onde cerca de 80% das crianças com câncer vencem a doença.

Acima da média

No Hospital Varela Santiago, no entanto, a taxa de cura é 81%. “Nos últimos três anos (entre 2013 e 2015) foram registrados 130 casos no Varela. Desses 24 pacientes vieram a óbito”, relata Wilson Cleto. O oncologista ainda destaca que o tipo de câncer mais comum na unidade em que trabalha é a leucemia – doença dos glóbulos brancos transportados no sangue.

Para Fonseca, tanto o poder público quanto a sociedade científica têm que questionar a realidade brasileira e trabalhar por um diagnóstico preciso e inicial já que o câncer infantil tem uma evolução muito rápida. “O câncer pediátrico é uma doença aguda. Às vezes o profissional de saúde está com um caso suspeito, não tem muita clareza sobre o que fazer, e quanto mais ele demora, com exames e autorizações, a criança tem um atraso no diagnóstico, que é um tempo fundamental para ela”, afirmou.

Mesmo a Lei 12.732/12, que assegura aos pacientes com câncer o início do tratamento em, no máximo, 60 dias após a inclusão da doença em seu prontuário, não contempla a criança, segundo Fonseca, já que o câncer infantil pode evoluir muito de duas a três semanas.

Novo protocolo

A presidente da Sobope informou que o Ministério da Saúde está formalizando um protocolo que vai desde a atenção básica até os cuidados especializados, com centros especializados e redes estaduais para o diagnóstico e tratamento da doença. “Nós temos grandes centros de excelência, mas tem lugares sem estrutura mínima para atender crianças”, disse.

Em Natal, a Casa Durval Paiva apoia a campanha mundial promovendo durante todo o ano a Cavarana do Diagnóstico Precoce divulgando, em todo o Estado, os principais sinais e sintomas do câncer infanto juvenil.

O câncer infantil corresponde a um grupo de várias doenças que têm em comum a proliferação descontrolada de células anormais e que pode ocorrer em qualquer local do organismo. Os tumores mais frequentes na infância e na adolescência são as leucemias (que afetam os glóbulos brancos), os do sistema nervoso central e os linfomas (sistema linfático).

Além de uma linha de cuidados específica na atenção básica, Teresa Fonseca defende mais informações sobre a doença ainda dentro dos cursos de graduação de medicina, enfermagem e demais profissionais da saúde. “Muitos deles, quando se formam, nunca tiveram informação ou contato com o câncer infantil, porque os centros especializados pelo país são poucos, comparados ao número de cursos de graduação”, explicou.

Diagnóstico Precoce

Muitos pacientes ainda são encaminhados aos centros de tratamento com doenças em estágio avançado, o que se deve a diversos fatores, entre eles a desinformação dos pais e profissionais de saúde. Diante dessa realidade, a Casa Durval Paiva iniciou em 2002 a Campanha do Diagnóstico Precoce do Câncer Infantil, realizando capacitações regionais para os profissionais do Programa Saúde da Família do RN sobre o tema. Em 2006, a organização passou a dirigir a campanha a toda a população do RN, realizando visitas, palestras e peças de teatro em escolas, distribuindo panfletos e concedendo entrevistas a rádios locais.

Neste ano, a Casa Durval Paiva vai ampliar a Campanha do Diagnóstico Precoce. A Casa ficou entre as 130 instituições contempladas no projeto BVSA de captação de recursos, visando promover a capacitação de profissionais de saúde por meio de cursos e oficinas sobre o câncer infanto juvenil; avaliar o impacto desta capacitação num hospital de referência de Natal e realizar ações de disseminação de informação em escolas e outros meios de comunicação.

Medicamentos

A presidente da Sobope conta que dois medicamentos para o tratamento do câncer infantil deixaram de ser fabricados no Brasil, a actinomicina e a L-Asparaginase, e que houve um desabastecimento desde setembro de 2015. Segundo ela, o Ministério da Saúde fez o pedido de importação e diversas crianças ainda aguardam sua a distribuição.

Entretanto, para Fonseca, é essencial que o Brasil incorpore novas tecnologias de tratamento, já aprovadas no exterior e que não foram liberadas aqui ou que, mesmo liberadas, possuem um alto custo. Ela cita, por exemplo, a terapia alvo baseada na biologia molecular, que atua no metabolismo da célula específica que sofreu a mutação, e por isso acaba sendo um tratamento mais caro do que a medicação convencional.

Câncer infantil no mundo

Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que, a cada ano, mais de 150 mil crianças são diagnosticadas com câncer em todas as regiões do mundo. “Por meio do acesso a serviços de saúde de qualidade, mais de 80% das crianças com câncer podem sobreviver, com direito a uma vida plena e saudável. Entretanto, muitas crianças em países de baixa e média renda não recebem tratamento completo e, como resultado, mais de 90% das mortes por câncer infantil são registrados em localidades com pouco recurso”, informou a organização, em nota.

Para este Dia Internacional do Câncer Infantil, a OMS pede contribuições para o cuidado com as crianças. “Uma resposta global é necessária para dar a cada criança a melhor chance de sobreviver e ficar livre do câncer – sensibilizando; melhorando o acesso à saúde; entendendo melhor porque e onde essas crianças são diagnosticadas, por meio do devido registro; e oferecendo a melhor possibilidade de tratamento, de cuidados paliativos e de apoio a essas crianças e suas famílias”, diz a nota.

Fonte: Portal Noar

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