sábado, agosto 23, 2014

Promotor investiga rede de proteção a Abdelmassih no interior de SP

Entrevista em São Paulo, em 2009, com o médico Roger Abdelmassih, que à época era dono da maior clínica de reprodução assistida do Brasil e já enfrentava acusações de crimes sexuais. (Foto:  Sérgio Neves/Estadão Conteúdo/Arquivo)O promotor de Justiça Luiz Henrique Dal Poz investiga suspeita de contratos em empresas de fachada, lavagem de dinheiro, grandes remessas de dinheiro ao exterior e
suborno dentro de uma rede de proteção ao ex-médico Roger Abdelmassih em Jaboticabal (SP), município da família de sua mulher, Larissa Sacco.
Autor da primeira denúncia que resultou na condenação do especialista em reprodução humana a 278 anos de prisão por estupros a 37 vítimas, Dal Poz diz que está sendo apurado se a ajuda partiu de pessoas próximas ao casal e "especialistas" em operações informáticas e financeiras no município do interior de São Paulo, durante os três anos em que Abdelmassih ficou foragido da Justiça antes de ser preso no Paraguai, na terça-feira (19).
Desde que o procedimento investigatório criminal foi iniciado, há aproximadamente três meses, Dal Poz relata que teve acesso a indícios de que um grupo de moradores de Jaboticabal se organizava para enviar ao Paraguai recursos suficientes para manter o elevado padrão de vida do ex-médico com a mulher e os dois filhos gêmeos do casal. Isso tudo, segundo ele, graças a informações fornecidas por vítimas de Abdelmassih, bem como às investigações conduzidas anteriormente pelo Grupo de Atuação Especial ao Crime Organizado (Gaeco) de Bauru (SP), que já acompanhava o caso na região de Avaré, onde o ex-médico pode também ter permanecido foragido, antes de o caso ser levado ao Ministério Público em São Paulo.

Casa alugada pode ter sido usada em fuga de Roger Abdelmassih (Foto: Amanda Pioli/G1)Casa alugada no interior de SP pode ter sido usada
em fuga de Abdelmassih (Foto: Amanda Pioli/G1)
O promotor confirma que, em Jaboticabal, uma casa de câmbio e uma empresa criada com a finalidade de cultivar laranjas são exemplos de firmas suspeitas de terem integrado a estrutura de auxílio à fuga do ex-médico. Além disso, o MP apura o envolvimento de pessoas qualificadas em operações informáticas e financeiras, nem sempre próximas da família, para conseguir transferir o capital à distância, como também terceiros dispostos a levar em espécie o dinheiro até o Paraguai. Também são investigadas eventuais aparições de Abdelmassih no interior de São Paulo durante seu tempo de residência ilegal no Paraguai.
“As possibilidades são razoáveis, ainda não concluímos, estamos longe de concluir, mas, ao que indica, existia participação de pessoas físicas e jurídicas para poder suportar, fazer o giro do recursos financeiros ao Paraguai. Há possibilidade também da remessa em espécie. Há notícia de que ele [Abdelmassih] era detentor de significativas cifras em moeda, inclusive estrangeira. Essa estrutura poderia ter sido suportada seja através de engenharias fraudulentas mediante pessoas jurídicas, seja da forma mais rudimentar, que é ir lá entregar o dinheiro para ele”, afirma.

Devido à proximidade, a própria escolha do Paraguai como destino final de fuga, segundo Dal Poz, pode ter facilitado o funcionamento dessa rede de proteção. “Duas razões podem contemplar essa resposta. A primeira é a possibilidade do contato com a família e de pessoas de convívio. Não seria difícil ele ter mantido contato com pessoas aqui do Brasil, seja ele vindo até o Brasil em determinados momentos ou locais, como Jaboticabal, como pessoas terem ido ao encontro dele. A outra facilidade é o giro financeiro”, diz.
Embora não revele o montante total dessas movimentações, o representante do Ministério Público afirma que o valor pode ter sido o bastante não só para manter luxos com empregados e restaurantes, além de bens como carros, como também para subornar o silêncio de quem sabia do paradeiro do ex-médico e poderia denunciá-lo à polícia.
“Não temos números. Poderia dizer que é quantia expressiva na medida em que coloca não só a estrutura material e pessoal. Ele tinha empregados, carros, enfim, vivia de maneira luxuosa, e isso custa. Sem contar, eventualmente que é um plano hipotético, que pode ser confirmado na sequência, a possível necessidade de ele ter que suportar isso com uma espécie de suborno, gastar para corromper pessoas que eventualmente possam ter descoberto seu paradeiro”, diz.
Sem prazo para encerrar o procedimento investigatório, Dal Poz estima, por enquanto, o envolvimento direto de ao menos quatro pessoas, mas acredita que a evolução das investigações deva revelar mais suspeitos.

Fonte: G1

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