terça-feira, julho 15, 2014

Deficiências no SUS ‘atrasam’ atendimento procurado pelos homens

Foto: Wellington RochaSe os fatores socioculturais afastam os homens dos cuidados com sua própria saúde, lacunas do atendimento público também colaboram para que eles não
procurem os serviços com a mesma freqüência que as mulheres. Quem viveu essa realidade hoje (15), no Dia Nacional de Saúde do Homem foi o militar César Costa, de 62 anos de idade.

Ele esteve na manhã desta terça-feira na unidade básica de saúde do bairro de Mirassol durante a roda de conversa sobre a saúde do homem. Apesar da programação preparada, em todos os outros dias do ano os homens não recebem a mesma atenção. O que é facilmente constatável pelo militar. “Se você olhar na lista de médicos aí, não tem um médico para homem, tem ginecologista, mas urologista nenhum”, criticou.

Para César Costa, a saída para manter a regularidade de visita ao urologista tem sido procurar um urologista na rede privada. “Ou eu vou ter que pagar, ou marcar daqui para seis meses”, sentenciou. Segundo ele, uma consulta com um urologista custa R$ 250,00.

Uma das responsáveis pelo desenvolvimento da Política Nacional de Saúde do Homem no Rio Grande do Norte, Neila Rodrigues, reconhece que, mesmo com cinco anos de existência dessa estratégia de atendimento, ainda é possível fazer mais. “Os serviços de saúde estão precisando de melhor organização nos municípios e o Estado está ao lado deles com a responsabilidade de capacitar os profissionais”, ressaltou.

Além disso, a situação de César Costa exige um encaminhamento para outro serviço de saúde. “Realmente em quase nenhuma unidade básica de saúde você vai encontrar um urologista. Mas vai estar lá um clínico geral que vai fazer a anamnese [entrevista com o paciente] e, se for o caso, passar para um especialista”, disse Neila Rodrigues.

Mas a exclusão do homem como paciente não termina por aí. Até mesmo os ambientes de atendimento são preparados majoritariamente para receber mulheres, crianças e negligência a figura do homem. “Esse é um dos eixos que se trabalha na Política de Saúde do Homem, que é o acesso e acolhimento. Na maioria das unidades que a gente chega, os cartazes têm mulheres grávidas, crianças e idosos. Até essa ambiência é importante para o homem se sentir bem recebido”, comentou.

Foco no jovem adulto

Além dos fatores estruturais do sistema de saúde, os aspectos socioculturais também influenciam no desprezo dos homens com a prevenção de doenças. “A própria educação que o homem recebeu, quando desde criança a gente diz ‘menino, fiquei quieto’ na hora de chorar. O homem não pode chorar, não pode se colocar como uma pessoa frágil. Mas todos nós temos nossos momentos de fragilidade”, observou a técnica da Secretaria de Estado da Saúde Pública (Sesap).

Outro fator apresentado pelos homens para deixar a própria saúde em segundo plano é a falta de tempo. Exemplo disso é o auxiliar de eletricista Felipe da Silva, de 22 anos. Ele divide seu dia para horas de trabalho, estudo e agora para a função de pai. E é só por esse último motivo que o auxiliar de eletricista esteve hoje na unidade básica de saúde do bairro Mirassol. “Vim acompanhar no pré-natal, agora eu estou de férias”, disse.

A última vez que ele foi a uma consulta médica foi há dois anos, quando teve uma virose. “Quando eu tenho alguma coisa diferente eu espero passar, se persistir eu vou ao médico. Pra mim, é mais questão de tempo mesmo”, disse.

Diferente do que muitas pessoas possam pensar, a Política de Saúde do Homem busca exatamente levar pessoas com o perfil de Felipe da Silva para o sistema de saúde. Tudo em nome dos cuidados com a saúde para evitar doenças futuras. “Homens de até 20, 30, 40 anos são totalmente ausentes de serviços de saúde. Ele só vem aparecer lá na frente. A porta de entrada dos homens tem sido os hospitais, enfartando, ou como vítima de armar de foto ou acidente de trânsito”, falou Neila Rodrigues. Esse quadro onera o Sistema Único de Saúde, visto que os pacientes levarão mais tempo para se recuperar.

De acordo como Ministério da Saúde, os homens vivem 7,6 anos a menos que as mulheres. Tanto o cuidado com a saúde, quanto a exposição a situações de risco (como a violência urbana e acidentes de trânsito) explicam esse número. Além disso, no Brasil a cada 5 pessoas mortas, na faixa etária dos 20 a 30 anos, 4 são homens.

Exame de próstata não vicia

Conforme o médico urologista Mário Kemps, a Política Nacional de Saúde do Homem tem surtido bons resultados, sobretudo quanto a busca pelos cuidados diretamente em consultório médico. “Não tenho dados estatísticos precisos, mas hoje em Natal há dez vezes mais urologistas que há dez anos, e todos estão cheios”, avaliou.

O tabu sobre o famigerado exame do toque na próstata tem cada vez menos força segundo ele. “Estamos vivendo um novo momento na urologia”. No exame, é possível verificar o tamanho da próstata, a presença de nódulos e a consistência.

Segundo Kemps, há vários estudos experimentais de outros exames que possam complementar a função do exame do toque retal, mas nada que possa substituí-lo. “O toque é um exame indolor, barato, simples e não vicia”, afirmou o urologista. O ideal é que homens a partir dos 45 anos façam regularmente o exame a cada ano, mas conforme cada caso, esse período pode ser maior.

Reprodução Cidade News Itaú via Portal JH

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