sexta-feira, julho 26, 2013

População masculina sofre sem assistência médica preventiva no RN

A saúde do homem foi definitivamente deixada de lado em Natal. Na mesma semana em que foi comemorada a data alusiva ao Dia Nacional do Homem (15 de julho), o Centro de Saúde Reprodutiva Leide Morais, único local vinculado à administração estadual onde ainda se fazia atendimento de ambulatório com ênfase em prevenção masculina, recebeu a alarmante notícia de que os três urologistas que atendiam a demanda de consultas e marcação de exames profiláticos não poderiam mais exercer suas funções na unidade. Com esse desfalque na equipe de profissionais do Centro de Saúde, que fica localizado no bairro do Alecrim, a capital potiguar fica oficialmente desprovida de qualquer posto de atendimento estadual voltado à saúde do homem.

À frente do Centro há 15 anos, a diretora Débora Torquato se diz estarrecida com o tratamento dispensado à população pela Secretaria de Estado da Saúde Pública do Rio Grande do Norte (Sesap). Segundo ela, a atual gestão tem tomado decisões completamente arbitrárias e equivocadas com relação à distribuição de equipamentos e de profissionais nas Unidades de Saúde da capital sob responsabilidade do Estado.

“O que está acontecendo aqui é um absurdo. O Governo Federal anuncia que a prevenção é prioridade nas políticas públicas de saúde, mas o Rio Grande do Norte elimina o atendimento ambulatorial. Qual a lógica disso? Anteriormente esse serviço era oferecido no Hospital Dr. José Pedro Bezerra (popularmente conhecido como Hospital Santa Catarina), na zona Norte, aí passaram para o Hospital Dr. Ruy Pereira, em Petrópolis, que não dá condições para o funcionamento ambulatorial. Com isso, o atendimento acabou sendo interrompido. Devido a esse quadro, fomos atrás e conseguimos trazer para cá os médicos que estavam parados pela falta de estrutura nas outras unidades. Organizamos a equipe, demos treinamento, estava tudo funcionando nos conformes, as demandas estavam sendo cumpridas a contento, aí me chega essa notícia de que a Secretaria solicita a remoção imediata desses profissionais da Urologia para o [Hospital Regional Monsenhor] Walfredo Gurgel, que sequer oferece serviço de ambulatório, apenas pronto socorro! E pior, o PS do Walfredo já conta com médicos suficientes para manutenção da escala, ainda que no limite. Resumindo, estão tirando daqui as únicas pessoas no quadro do Estado que estão trabalhando com prevenção para colocá-los em uma unidade de urgência que já conta com efetivo regular”, denuncia, indignada, a diretora.

E as reclamações não param por aí. Débora Torquato conta que o Centro de Saúde Reprodutiva Prof. Leide Morais não possuía máquina de ultrassonografia, mas que no Hospital Dr. Ruy Pereira havia um aparelho novo, parado por falta de profissionais. A mesma história dos médicos se repetiu. Deu-se um jeito de levar a máquina para o Leide Morais, fez-se treinamento e gerou-se demanda.

Quando o serviço “engrenou”, a Sesap mandou retirar o ultrassom da Unidade e levar para o Walfredo Gurgel, pois o de lá havia quebrado. “Isso faz mais de um ano. Já foi feita a licitação para a compra de um novo aparelho para o Hospital Regional, mas a Sesap diz que não tem dinheiro para repor o equipamento. Nossa sala de ultrassonografia hoje só serve para juntar mofo. O nosso mamógrafo também está há mais de um ano sem funcionamento, além de contar com uma processadora de imagens analógica, extremamente defasada”, afirma Débora Torquato.

A título de informação, a aprovação das contas do Governo Rosalba Ciarlini pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE) foi feita com ressalvas pelo segundo ano consecutivo justamente pela pobreza em investimentos na área da Saúde (R$ 17,7 milhões). Enquanto isso, por exemplo, a Administração Estadual gastou um valor superior a R$ 27,5 milhões apenas com propaganda. Já para diárias, o valor destinado ultrapassou a marca de R$ 24,5 milhões.

MÉDICOS REPUDIAM DECISÃO DA SECRETARIA

Não é só a direção do Centro de Saúde Reprodutiva Leide Morais que critica os recentes posicionamentos da Secretaria Estadual de Saúde. Os médicos que integram a equipe do ambulatório em Urologia da unidade foram pegos de surpresa com o comunicado de que passariam a dar expediente no Walfredo Gurgel, realizando atendimento de urgência.

Para o urologista Dionísio de Melo, a medida não faz o menor sentido, visto que essa transferência vai trazer grande prejuízo à população de Natal. “Fomos pegos de surpresa com o comunicado de que não atenderíamos mais no Centro de Saúde Reprodutiva. A notícia nos foi dada pela direção da Unidade onde somos lotados oficialmente, o Hospital Dr. Ruy Pereira, que relatou ter recebido ofício da Secretaria de Saúde nesse sentido, mas até agora não recebemos contato oficial algum. De qualquer maneira, extinguir o atendimento ambulatorial em uma capital – como está sendo feito – é um enorme tiro no pé para qualquer governante. Todos sabem que qualquer dinheiro gasto com prevenção representa uma economia muito maior em tratamentos, depois. Agora, grosso modo, as pessoas vão ter de esperar uma enfermidade se manifestar e chegar a um ponto crítico para receberem atendimento. Isso sem contar que, dessa maneira, os próprios pacientes da urgência ficam em situação de risco. Passado um eventual procedimento cirúrgico, onde vai ser feito o acompanhamento do pós-operatório? É uma situação inaceitável”, conta Melo.

Essa demanda só não ficará totalmente desamparada porque a Secretaria Municipal de Saúde disponibiliza o atendimento através do sistema de regulação que é feito online nas próprias unidades onde o paciente tiver dado entrada, encaminhando-o em seguida para os urologistas nas Policlínicas e no Hospital Universitário Onofre Lopes (Huol). A grande questão é se existirá condição de absorver totalmente o contingente do Estado. Essa municipalização dos serviços básicos de saúde já vem sendo ensaiada há tempos, mas a preocupação que paira sobre a cabeça dos usuários do sistema de Saúde Pública é se a aparelhagem do Município permitirá que o serviço continue sendo oferecido à população de maneira pelo menos razoável.

QUEBRANDO TABUS

A saúde masculina sempre foi um assunto delicado. Cuidar de si é uma questão cultural. Desde muito novas, as mulheres aprendem a importância de ir regularmente ao ginecologista, fazer exames preventivos; já os homens não são criados com esse hábito de cuidar do corpo.

Para o diretor do Centro de Medicina Preventiva do Hospital Israelita Albert Einstein (SP) e referência nacional em saúde masculina, José Antônio Maluf de Carvalho, “como o papel de provedor ainda é bastante forte na cultura atual, o sexo masculino não pode se fragilizar e comprometer esse papel familiar. É considerado como o sexo forte e acredita ser mais resistente às doenças. Essas crenças dificultam a incorporação de medidas preventivas e a mudança de estilo de vida”, explica.  O fato é que, por essa questão cultural, os homens sofrem com mais doenças que poderiam ser evitadas caso atitudes preventivas fossem tomadas.

Ainda que hoje em dia o assunto prevenção seja abordado com certa frequência, faz-se necessário manter esse tópico em evidência, pois ainda há um preconceito muito forte entre os homens em relação a determinados exames – mais notadamente o de toque retal, para detecção de câncer de próstata, uma das principais causas de morte entre os homens. O diagnóstico precoce traz boas chances aos pacientes, mas para isso é preciso quebrar o tabu. “No caso dos homens que apresentam história familiar de câncer de próstata em primeiro grau, a prevenção deve começar a partir dos 40 anos”, enfatiza José Antônio Maluf.

Além da barreira que o exame de toque representa, muitos homens, após completarem 50 anos, temem a realização da tão temida cirurgia de próstata, que muitos erroneamente associam à impotência sexual, o que não é inteiramente verdade.

A grande responsável pelos mitos que envolvem a cirurgia da próstata é a prostatectomia radical. Muitos homens ligam o procedimento à impotência porque ela remove completamente a próstata, as vesículas seminais e as extremidades do canal. A prostatectomia radical é minimamente invasiva, aumenta a sobrevida e é considerada a principal forma de cura para tumores nas fases iniciais. Apesar dos mitos criados, as técnicas disponíveis atualmente reduziram muito as taxas de impotência.

As cirurgias variam de acordo com o problema e nem sempre estão associadas ao câncer. A hiperplasia benigna, por exemplo, é caracterizada pelo aumento do tamanho da próstata, não tendo nenhuma relação com essa tão temida doença. Os sintomas mais comuns são a urgência na necessidade de urinar, dor e a sensação de não esvaziamento da bexiga. Casos mais avançados podem levar a retenção, incontinência urinária e problemas renais.



Homem também faz pré-natal

É senso comum que a mulher, segundo as indicações da Organização Mundial de Saúde (OMS), passe por uma bateria de exames antes de engravidar. Caso a gestação aconteça sem a consulta médica prévia, é importantíssimo que seja feito acompanhamento assim que se descubra a gravidez. No caso dos homens, o pré-natal é tão importante quanto o da mulher para a saúde do bebê que está nos planos do casal ou que já está a caminho.

Isso significa que homem e mulher devem fazer uma série de exames na fase pré-concepcional, como VDRL (que pesquisa a sífilis), hepatites B e C, grupo sanguíneo e fator Rh, urina, HIV, glicemia e parasitológico para evitar possíveis doenças e contaminações. Enquanto a mulher faz uma série de outros exames – de dosagens hormonais a ultrassonografia mamária e colposcopia -, o homem deve fazer o espermograma, indicado justamente para avaliar as condições dos espermatozóides para a fecundação.

Caso essas medidas não tenham sido adotadas, é fundamental que o futuro papai aproveite o período gestacional para fazer a bateria de exames, que, acima de tudo, vai garantir a saúde do filho. A maior recomendação do Ministério da Saúde é, justamente, a de que os homens sejam estimulados a realizarem exames de rotina e específicos, como os de HIV/AIDS, sífilis e fator RH, e, sobretudo, a participarem ativamente na gestação, no parto e no desenvolvimento dos primeiros anos de vida da criança.

Segundo o coordenador da Área Técnica de Saúde do Homem do Ministério da Saúde, Eduardo Chakora, “a paternidade é ideal para sensibilizar a população masculina sobre a importância de se fazer exames regulares. Além disso, a realização do pré-natal masculino aumenta o vínculo entre a gestante e o companheiro, assim como entre ele e o filho”.

Ao se submeter a exames durante a gestação do filho, o homem se conscientiza sobre a importância de manter a saúde em dia e se torna mais compreensivo e participativo em relação à parceira e a esse momento tão singular na vida do casal.

Reprodução Cidade News Itaú

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