sexta-feira, fevereiro 22, 2013

Integridade de reféns está preservada, diz coronel no 2º dia de rebelião


Alguns presos rebelados dormiram no telhado da Penitenciária Nelson Hungria.  (Foto: Pedro Triginelli/G1)

A rebelião na Penitenciária Nelson Hungria entrou no segundo dia nesta sexta-feira (22), em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Na chegada para retomar as negociações com os presos, o coronel Antônio Carvalho, do comando do policiamento especializado da Polícia Militar, disse que a integridade dos reféns está preservada. Ele afirmou que nenhuma medida precipitada pode ser tomada se isso colocar em risco a segurança das pessoas mantidas em cárcere pelos detentos. "Estamos focados na integridade física das pessoas que estão lá dentro",  disse.

As negociações foram retomadas por volta das 10h desta sexta-feira (22). Segundo a Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds), a rebelião começou na manhã desta quinta-feira (21) e duas pessoas, uma professora e um agente penitenciário, são mantidas reféns por cerca de 90 presos. Neste segundo dia de rebelião, houve sinal de fumaça dentro do pavilhão 1. Na porta do presídio, um advogado informou que cinco detentos que são a favor da direção atual do presídio também teriam sido tomados como reféns, mas a informação não foi confirmada pela polícia.

Em nota, a secretaria informou que os 103 detentos do pavilhão estavam sem água e luz desde a tarde desta quinta-feira e sem alimentação desde a manhã do mesmo dia. Hoje, a informação de que houve corte de água foi retificada pela Seds. Alguns presos rebelados passaram a noite no telhado da penintenciária.
No fim da manhã desta sexta-feira (22), integrantes de um gabinete de crise criado para negociar o fim da rebelião informaram que os presos rebelados descumpriram um acordo de libertação dos dois reféns. De acordo com as autoridades policiais e do governo, uma ata atesta a negociação, que foi feita nesta quinta-feira (21). O gabinete concordou em atender quatro reivindicações do presos, segundo o subsecretário de Administração Prisional, Murilo Andrade de Oliveira: visita convencional para grávidas, sem presença de agente penitenciário; tratamento aos detentos pelos nomes; revisão de penas e garantia de que os rebelados não serão transferidos. Posteriormente os detentos pediram a troca da direção do presídio, o que não foi atendido pelo comitê. "Não deram justificativa para isso", disse Oliveira.
Ainda segundo o gabinete, um negociador teve contato com os réfens no segundo dia de rebelião e assegurou que eles estão bem. Ontem, a professora passou mal e precisou ser medicada. De acordo com o comandante do policiamento especializado da Polícia Militar, ela teve queda de pressão.
“O prazo que nós temos é a garantia da vida e da integridade das pessoas, enquanto isso for mantido  as negociações e os canais continuam abertos”, afirmou o coronel Carvalho, que acompanha diretamente as negocições na Penintenciária Nelson Hungria. Ainda de acordo com o coronel, até o momento, não está prevista a invasão pela polícia do pavilhão 1, onde ocorre o motim. A rebelião alterou a rotina dos presos nos demais pavilhões, onde o banho de sol foi cortado. O comitê de crise informou também que avalia se haverá visitas neste fim de semana.
Um ônibus do batalhão de choque da Polícia Militar entrou na Nelson Hungria e três ambulâncias saíram da penitenciária entre a tarde e a noite desta quinta-feira (21) e um helicóptero da PM sobrevoou a área durante todo o dia. Mais cedo, detentos de outro pavilhão, não envolvidos no motim, gritavam “socorro”.
De acordo com a Seds, 210 policiais militares, 30 agentes penitenciários do Comando de Operações Especiais (Cope), além de autoridades da Subsecretaria de Administração Prisional (Suapi) e da Polícia Civil estão envolvidos na ação.
A secretaria informou que o líder do movimento é o detento Daniel Cypriano, de 29 anos. Ele tem seis condenações: cinco por roubo e uma por homicídio e cumpre pena na penitenciária desde agosto de 2011.
Reivindicações
O subsecretário de Administração Prisional, Murilo Andrade de Oliveira, disse que os presos reclamam da demora na autorização de visitas e na proibição da entrada de mulheres grávidas nos pavilhões. Atualmente, as visitas por grávidas são feitas em uma sala especial, com a presença de um agente penitenciário. Os detentos ainda se queixam da direção do presídio, de espancamento e pedem revisão de pena.

Sobre a denúncia dos presos de que eles estariam sofrendo espancamento, Oliveira disse que nunca ouviu nenhuma denúncia deste tipo na unidade, mas que vai apurar. O subsecretário ainda falou que a revista geral em cada cela é feita rotineiramente no presídio. E que está previsto para o fim do ano a instalação de equipamentos de bloqueio de sinal de telefones celulares na unidade.
Goleiro Bruno
No pavilhão 1 estão presos condenados por por crimes como tráfico de drogas, furto e roubo. Este fica ao lado de onde está detido o goleiro Bruno Fernandes, pavilhão 4. Bruno é réu no processo de desaparecimento e morte de Eliza Samudio, ex-amante do atleta. Além de Bruno, está detido pavilhão 7 o amigo dele Luiz Henrique Romão, o Macarrão.
Na noite desta quinta-feira, o promotor do caso Eliza Samudio, Henry Wagner, chegou à penitenciária. Indagado sobre o que iria fazer no local, ele disse: ”vou me interar”.
Começo da rebelião
Durante a manhã, os presos saíram das celas e ocuparam o pátio. Eles queimaram colchões e usaram pedaços de tecidos para tentar escapar do pavilhão pelo telhado. Neste momento, foram usadas bombas de efeito moral para evitar uma possível fuga, segundo major Sérgio Dourado, da Polícia Militar. Os detentos também usaram o que parece ser roupa de cama para escrever as palavras "opressão" e "sistema" no chão do pátio do pavilhão.
O motim começou quando a professora, que é uma das reféns, dava aula para alguns dos detentos, pelo ensino fundamental, e era escoltada pelo agente, que também está em poder dos rebelados. Ele chegou a ser ameaçado por presos com uma barra de ferro. Segundo o coronel, este foi o momento de maior tensão da rebelião.
Um início de rebelião foi controlada no pavilhão 6, onde detentos jogaram colchões incendiados da janela.
A auxiliar de enfermagem Júlia Delfim, que é amiga da professora feita refém, disse que a professora gostava de dar aulas para os presidiários.  A professora teria lhe dito que. em 12 anos de profissão dentro da Nelson Hungria, não houve nenhum registro de confusão entre ela e os detentos.

Reprodução Cidade News Itaú

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