Responsável por atender a 67 municípios do interior do Rio Grande do Norte, o Instituto Técnico e Científico de Polícia (Itep) de Mossoró, passa atualmente por uma crise estrutural, que está dificultando o trabalho de atendimento à população. São problemas que vão desde o corpo médico legista, passando por falta de veículos, até questões de segurança e qualidade no resultado final dos serviços prestados.
Para se ter uma ideia, o Itep de Natal, que tem uma estrutura mais avançada, responde apenas por 77 municípios, Caicó 30, ficando uma área que vai da região litorânea à "tromba do elefante" (Alto Oeste), sob a responsabilidade da instituição mossoroense.
O quadro se agrava ainda mais no que se refere ao deslocamento das equipes periciais, quando tem de realizar um serviço de campo, também chamado de local. Os dois rabecões usados para o recolhimento dos corpos, que foram entregues no final do ano passado, pelo governo do Estado, um apresentou problemas mecânicos e foi devolvido a Natal para o conserto, ficando apenas à disposição dos peritos.
"Olha, é uma situação delicada que estamos enfrentando com apenas um rabecão. Se por acaso ocorrerem dois locais em pontos extremos, tipo Macau e Venha Ver, até que a equipe se desloque para atender as ocorrências, no mínimo, durarão 10 horas até que retorne à base. Enquanto isso, se em Mossoró precisar de um local, como vamos ficar?" destacou o diretor do Itep, Valentim Marinho.
O diretor explica que a instituição pericial, mesmo diante das dificuldades, tem conseguido apresentar resultados satisfatórios, no entanto, para desafogar o Itep de Mossoró seria necessário sair do papel e passar a funcionar a sede de Pau dos Ferros, que se encarregaria de cobrir todas as cidades da "tromba do elefante". "Quando um dia a unidade de Pau dos Ferros começar a funcionar, nós vamos poder respirar um pouco mais aliviados, porém enquanto isso não acontece, vamos fazendo a nossa parte, ainda que com muitas dificuldades", disse.
Projeto de reformulação promete melhorar atendimento ao público
A direção do Itep de Mossoró não vê a hora de começar a executar um projeto de reformulação na estrutura física do prédio do órgão, que aguarda tão-somente o sinal verde do Governo para iniciar as obras.
O projeto prevê, além de outras melhorias, a criação de um ambiente apropriado para recepcionar e abrigar os familiares das vítimas, enquanto aguardam a liberação dos cadáveres.
"A perda de um familiar é algo muito doloroso, principalmente quando é motivada por algum tipo de violência, então para melhor acomodarmos as famílias, vamos criar uma sala adequada para que os parentes ou responsáveis fiquem enquanto esperam os procedimentos de praxe. Faz parte do projeto também o acompanhamento de um psicólogo e de enfermeiros, caso seja necessário, ajudar a família", destacou o diretor Valentim Marinho.
Além das acomodações, serão criados novos alojamentos para os profissionais de plantão, proporcionando condições adequadas de acomodação. A reforma prever ainda a ampliação da sala de necropsia e condições de seguranças ainda maiores no armazenamento de armas e materiais valorosos, enviados ao Itep para serem periciados.
A preocupação com a segurança aumentou depois que alguns elementos arrombaram na madrugada de 18 de junho do ano passado uma sala onde estavam guardadas armamentos e furtaram mais de 80 armas de fogo, de vários calibres, principalmente pistolas e revólveres.
Falta de médico legista causa transtorno a familiares das vítimas
Outro problema grave enfrentado pela direção do Itep é a falta de médico legista, que somente na semana passada causou situação desagradável para familiares de vítimas, que tiveram de amargar, além da perda do ente querido, a demora na liberação dos corpos, por não ter nenhum legista para realizar a necropsia.
A situação vem acontecendo com frequência, sem que a direção possa fazer alguma coisa para solucionar o impasse, uma vez que o órgão é de responsabilidade da Secretaria Estadual de Segurança Pública e Defesa Social (Sesed), que já tem conhecimento das deficiências enfrentadas pelo Itep.
Ainda de acordo com Valentim Marinho, ultimamente nem sempre a escala dos plantões é preenchida pelos legistas, devido faltar mão de obra profissional. Dos sete médicos legistas que o Itep tinha, dois se aposentaram, um pediu demissão, outro está de licença-prêmio, outro em férias e um, identificado como Fernando Caldas, nunca aparece para trabalhar.
A saída seria realização de concursos para contratar profissionais. "Enquanto não for realizado um concurso para preenchimento de vagas, o Itep vai sofrer com problemas de escala", concluiu.
Na semana passada, a demora em duas liberações cadavéricas revoltou as famílias dos mortos. Uma aconteceu no último domingo e outra na terça-feira (28), quando os corpos só foram liberados no dia seguinte. No domingo, por exemplo, não teve legista na escala e no outro caso, o médico faltou e não justificou o motivo do não-comparecimento ao trabalho.
"É um absurdo o descaso do governo estadual com a população que precisa dos serviços do Itep de Mossoró. Deveria ter pelo menos um pouco de respeito com a população e não esticar ainda mais o sofrimento das famílias na ocasião da liberação de corpos", desabafou uma mulher que aguardava a liberação do corpo do irmão, vítima de acidente.
Fonte: O Mossoroense
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